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Fernando Rodrigues - "Viagens do Olhar" - 12-03-1005 a 07-04-2005


«Num deserto de areia ou incerteza
O desejo desenha.
Fantasia um fantasma, que lhe venha
Acudir. (...)»
Miguel Torga, A Miragem in Poemas Ibéricos

Lendas, Brainstorm, Mensagem, Terra Mar, Espaço e Tempo, Viagens do Olhar — eis como intitula algumas das suas obras o pintor Fernando Rodrigues. Seduzido e encantado por viagens/peregrinações, tema recorrente na sua produção artística, Fernando Rodrigues, não esconde o fascínio pela Mensagem do seu poeta homónimo. Na exposição que ora apresenta, das grandes telas em técnica mista aos óleos de menores dimensões, um fio invisível conduz o espectador por paisagens imaginárias, mapas/roteiros de viagens sonhadas, caminhos que levam a lado nenhum senão, talvez, ao fundo da alma. A alma de um povo que espera Sebastião, o Encoberto, perdido e nunca encontrado nos campos de Alcácer-Quibir. Será Sebastião o vulto que encontramos nas telas, saído da lenda para combater o Big Brother orwelliano que a todos oprime neste tempo de globalização? Será El-Rei ou o Santo, o S. Sebastião martirizado em nome de uma fé que levou os portugueses à procura de Preste João? Que nas viagens do olhar de Fernando Rodrigues se inscrevem paisagens/miragens de África.., geografias de desertos e oásis de sensualidade e exotismo. Como em Mensagem, Espaço e Tempo e em outros onde linhas e mais linhas, redondas, voluptuosas sugerem seios femininos e formas fálicas; deuses-mãe trazidas de tempos imemoriais para celebrar a vida nunca esquecida nas manchas verdes e azuis onde se desenha a Cruz de Crísto, peregrina de mares nunca antes navegados; o cromatismo de tonalidades quentes, cores de terra, de muitas terras, desertos sem fim, laranjas e amarelos de invocações selares, vermelhos sensuais, sangue de heróis e de santos de aquém e além-mar. As suas telas/mapas registam rios lineares ou ondulantes como serpentes, árvores outonais, montanhas, grutas e úteros das Vénus, num simbolismo que leva aos cultos da Terra-mãe. Cartografia de outros tempos «Lenda(s)» sintetiza a(s) mensagen(s) que perseguem Fernando Rodrigues. Aqui o pintor perde-se por itinerários do sagrado e do profano num mapa da Terra que civilizações antigas representavam como tábua plana flutuando nas águas do grande abismo, suportada por serpentes e/ou outras criaturas fantásticas. Só um observador atento descobre nele a magia de símbolos de variados tempos e lugares: caminhos sem princípio nem fim; setas e guerreiros; S. Sebastião mártir, o rosário, a igreja; muralhas, fortalezas e castelos; a casinha branca com telhado vermelho que lembra a infância; a magia da carta de Tarot dos jogos sagrados divinatórios só para iniciados; os números 7, 3,1, 2 e 6 de conotações místicas complexas na tradição do Ocidente e Oriente; a letra A (de África?); a chave, símbolo místico do conhecimento do além, ligada ao ocultismo dos magos medievais e às palavras mágicas facilitadoras das passagens... Também a palavra “Peregrinação”. De novo as viagens ou será apenas a palavra porque no começo era o verbo? Os fios que saem da tela e evocam Ariadne que libertou Teseu do Labirinto de Creta e simbolizam o destino dos povos, a morte e o renascimento. Recorrendo a colagens, Fernando Rodrigues mergulha na história com uma espada, recupera o norte com a Rosa dos Ventos e regressa ao presente em fragmentos de jornais. De novo os vultos enigmáticos... homenagem a Magritte? Ou serão fantasmas? Camões, Vieira ou Pessoa? Não importa... é urgente ver para além do visível.

Rosa Idalina Giesta, Março 2005


Fernando Rodrigues, pintor informalista?

Com Kandinsky o mundo da abstracção foi posto em causa pelos pares da sua época, dado o corte com a “arte objectiva”. No entanto as suas formas marcadamente geométricas estavam ainda ligadas a um formalismo vigente, mas um novo conceito de arte surgiu. Posteriormente Tàpies mais radical, influenciado pelas tradições artísticas e filosóficas orientais, concretamente, o budismo zen, deixou para trás caminhos inicialmente trilhados para se dedicar unicamente à forma matérica com toda a inocência e pureza que dela emerge, libertada enfim de todos os seus condicionalismos. Semelhante sentimento de libertação teria sentido Jakson Pollock.

Na minha perspectiva a pintura de Fernando Rodrigues poderá ser relacionada com a de Tàpies, não só pelo conceito como pela forma. Nos seus quadros, a matéria é espalhada por toda a tela, generosamente, e por vezes, aqui e ali, são reconhecíveis pequenos elementos figurativos dentro de uma simbologia que lhe é muito própria. A sua pintura tem força e desperta no leitor uma aura de magia e deslumbramento. E como um activador de contemplação, isto é, um instrumento para perturbar os hábitos perceptivos do espectador, fazendo-o participar numa realidade alternativa oculta sob a rotina e a alienação.

Jeremias Bandarra, 03/ 02/ 2005

 

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12 de Março de 2005

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7 de Abril de 2005