BISPO DE AVEIRO
A
Freguesia e a Paróquia da Glória
Homenagem e Gratidão
Após a criação do distrito de Aveiro, a 18 de Julho
de 1835, foram as quatro freguesias da cidade reduzidas a duas, por
alvará de 11 de Outubro desse ano, assinado pelo governador civil.
Publicado o documento, foi remetido ao bispo da diocese que,
tendo-se conformado com a resolução e atendendo às razões expostas
no mesmo alvará, mandou passar a respectiva portaria com data de 13
de Outubro, para os competentes efeitos no foro da Igreja Católica.
Por esta forma, constituiu-se, a norte do canal
central da ria, a freguesia da Vera Cruz, sendo extinta a de Nossa
Senhora da Apresentação; e a sul, foi criada a de Nossa Senhora da
Glória, que reuniu o território das freguesias de S. Miguel e do
Espírito Santo. Esta paróquia recebeu o nome de Nossa Senhora da
Glória, talvez por honrar também a rainha D. Maria da Glória, que
não apenas a Mãe de Cristo, e passou a ter como sede a igreja do
extinto Convento dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia. Ao ser
restaurada a diocese de Aveiro, em 1938, recaiu na igreja matriz da
paróquia da Glória a escolha do Santo Padre Pio XI para dela fazer a
Catedral da nova diocese, sendo assim a Sé do seu bispo. Celebramos,
nesta data jubilar, cento e setenta e cinco anos da criação da
freguesia e da paróquia, com área igual e com objectivos comuns, no
respeito inviolável pela distinção da missão e pela
complementaridade de funções e objectivos.
Comunidade de cidadãos e de crentes, a freguesia e a
paróquia têm procurado em sábia e saudável harmonia prosseguir um
caminho de colaboração e complementaridade em prol do bem humano, do
progresso social, do desenvolvimento cultural e dos fins religiosos
que uma comunidade cristã procura e promove.
Ao longo do tempo, a fisionomia da freguesia e da
cidade transformou-se, sem alterar a beleza que desde a origem as
acompanha, ladeadas pela ria e abrindo as suas fronteiras a novos
horizontes de vida, de trabalho e de encanto. Da velha urbe com a
sua muralha antiga e com as suas ruas estreitas nasceu uma cidade
nova na orla da ria e do canal central, com construções várias a
surgir ao ritmo de cada época. São memória viva deste tempo os
significativos edifícios de Arte Nova e os espaços amplos
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dignos destinados ao mundo da educação como sejam o Seminário de
Santa Joana Princesa, com o seu tão belo e harmonioso conjunto
edificado e a missão especifica que desde a sua génese lhe é
confiada, ou a Universidade de Aveiro, com o seu magnífico campus
universitário e com os milhares de alunos que de todo o lado ali
afluem.
Ao antigo Hospital da Misericórdia sucede agora o
Hospital Distrital Infante D. Pedro, bem perto do Jardim com o mesmo
nome, guardando na memória uma figura ligada a Aveiro; e o primitivo
Mosteiro de Jesus, onde viveu Santa Joana e agora repousa a venerada
padroeira da Cidade, cedeu lugar, por imposição de uma lei
arbitrária, a um renovado e prestigiado Museu. A estas construções
emblemáticas da nossa cidade vieram juntar-se outros bairros, como
resposta necessária a realidades sociais novas, ampliando a área
urbana e engrandecendo em população e em vida a freguesia e a
paróquia que somos.
Na Vera Cruz, Aveiro encontra a grandeza, a coragem e
o valor da alma histórica do povo que somos, povo de pescadores e
marinheiros, de varinas e marnotos. Na Glória palpita o coração vivo
da cidade na Sé, na Câmara Municipal, no Governo Civil, no Tribunal
Judicial, nas Escolas e na Universidade, uma cidade acolhedora,
livre e solidária, de portas franqueadas ao futuro. Aqui, o saber, a
fé, a cultura e o progresso caminham lado a lado, como o fazem
diariamente os habitantes de sempre, os estudantes de hoje ou os
turistas e visitantes que em Aveiro e na Ria, por Deus criada,
desfrutam a beleza beijada pelo sol, com sabor a sal e cheiro a
maresia.
Somos chão sagrado de liberdade, morada da justiça e
da solidariedade e terra que avança no tempo ao ritmo do sonho e do
trabalho empreendedor de pessoas, famílias, empresas e instituições.
E se ao sonho se pede que comande a vida, ao trabalho crente e
generoso de tantas gerações se deve a terra feliz de gente
abençoada, onde é bom viver.
Berço de muitos, hoje Aveiro é, com as antigas e
novas freguesias, terra de muitos mais e casa de todos nós, moldados
por este gosto próprio de ser aveirense, de aqui viver e servir,
dando casa aos sem-abrigo, pão aos que o não têm e trabalho aos que
o procuram, cumprindo assim o belo lema da nossa diocese: "Amar a
Deus é servir".
Felicito a Junta de Freguesia da Glória por esta
iniciativa e saúdo, desta maneira, todos os seus habitantes.
Que Deus abençoe a nossa cidade e diocese e nos dê a
força e a alegria de vivermos sempre unidos na caridade e na
verdade, para dia a dia construirmos na nossa cidade um lugar de
beleza e um mundo de gente feliz!
† António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro
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