b) – A
locução do Presidente da Câmara (Dr. Álvaro Sampaio) no salão nobre da
Domus Municipalis.
Minhas
senhoras
e
Meus
senhores:
Quis o
destino, sempre incerto e caprichoso, que fosse um antigo professor de
muitos dos presentes, que estivesse a presidir, embora com escassos
merecimentos, aos destinos deste concelho. Por esse facto, na mesma
pessoa concorrem o mestre de outros tempos e o representante da cidade,
o que duplica a alegria de Vos receber, o prazer de Vos saudar, a honra
de vos acolher nesta casa que é a vossa casa. A essa circunstância devo
a oportunidade de ver à minha volta antigos alunos meus, de lhes
apresentar cumprimentos de boas-vindas e de lhes manifestar quanta
emoção me causa vê-los aqui, frente a frente, passados tantos anos de
ausência.
Acumulam-se no meu espírito imagens de outros tempos, recordações da
vida de professor que leccionou quase um quarto de século, evocação de
colegas e condiscípulos, episódios e excursões, de festas que se
realizaram, de representações que se deram, de modestas realizações
próprias, e a saudade de uma vida intelectual acima e fora das duras
realidades. Alegra pensar que centenas de antigos alunos, alguns
verdadeiros valores sociais no nosso país, passaram pelos bancos do
nosso liceu e o honram agora em qualquer parte. Aqui estão muitos deles,
em desinteressada devoção, satisfeitos porque vieram consagrar uma
instituição que atravessou um século a preparar homens, a formar
inteligências, a modelar caracteres. É preciso não esquecer que no liceu
se criou e desenvolveu o desejo de saber, a capacidade de observar, de
compreender, de julgar, de interpretar, em suma, de raciocinar.
Por isso
a vossa romagem à casa onde passastes alguns anos da vossa mocidade, é
de alto significado. No seu profundo sentido o que vos trouxe aqui
transcende os limites de uma reunião de antigos escolares que vieram
reviver um passado próximo ou longínquo, porque significa e traduz culto
pela casa onde se iniciou a vossa formação, veneração pelos mestres que
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contribuíram para a vossa preparação intelectual, preito de homenagem às
virtudes educativas de um estabelecimento de ensino que completou um
século de existência. E cem anos de vida de um instituto que preparou
contingentes de homens que serviram a Nação, não é um facto banal, mas
um acontecimento digno de relevo e de destaque.
Comemorando hoje esta data tão recuada e tão honrosa para os aveirenses,
prestamos culto aos que tornaram possível, no nosso meio, criar e
desenvolver uma casa já de brilhantes tradições e que vê a sua população
escolar aumentando de ano para ano.
E porque
o liceu não é apenas um edifício com professores e alunos, mas sim um
complexo de solidariedades mentais ligadas por laços invisíveis, é que
esta romagem tem o carácter de uma consagração em que se confundem
instrutores e instruendos. Do liceu levaram todos os que aqui estão uma
cultura mais ou menos profunda, cultura que permitiu, a uns, prosseguir
nos estudos superiores, a outros, possibilidades de orientar a vida,
criando e desenvolvendo aptidões para as mais variadas actividades. Quer
o ensino liceal seja predominantemente clássico, o que não me parece de
acordo com a época em que vivemos, quer tenha uma feição científica
acentuada, de ordem prática, material e utilitária, só ele pode
proporcionar adestramento intelectual e noções capazes de influir de
forma decisiva na conduta dos indivíduos e da sociedade.
O liceu,
liberto da necessidade de agradar, alheio ao interesse monetário, pode,
na realidade, preparar uma juventude culta e estudiosa, garantia e
penhor da perenidade da nossa pátria. Exaltar esse ensino, homenageá-lo,
é dever de nós todos.
Louvores
são devidos ao sr. Reitor, Dr. José Tavares, colega e amigo dos
melhores, por se ter lançado, com êxito, nesta cruzada de trazer à «casa
mater» da cultura média os que dela andam afastados por suas ocupações
ou por terem escolhido outras terras para seu trilho de vida.
E para
terminar, a todos, em nome da Cidade e em meu nome pessoal, apresento
efusivas saudações e faço votos pelas felicidades de cada um de vós.
Tenho
dito.
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