Gritava, ninguém me acudia. Parecia que todas as pessoas
do mundo tinham sido comidas por aranhas. Quando a encontrei na parede
do meu quarto pela primeira vez, nunca pensei que um bicho daqueles ia
acabar com toda a humanidade. A salvação do mundo estava na sola do meu
sapato dos dias de chuva. Desci as escadas mais depressa que uma flecha!
Cheguei à cozinha, peguei na chave e abri a porta. A noite estava
escura, sossegada e silenciosa. Parecia que a tempestade tinha passado.
Só permanecia uma brisa fria. A desordem nos quintais e nas ruas era uma
prova de que a tempestade tinha sido realmente forte. Fiquei lá uns
minutos a respirar fundo, a chorar, a esconder-me e a pensar numa
maneira mágica de resolver os problemas que estavam dentro do meu
quarto, ao lado da minha cama.
Volto para dentro de casa, olhando para todos os lados,
só para prevenir o aparecimento de outras aberrações que costumam
aparecer quando o mundo acaba. Fecho a porta à chave. Subo as escadas em
pontas dos pés, degraus atrás de degraus, interminável escadaria para
quem já não conseguia dominar as pernas. A porta do meu quarto estava
fechada. Achava que a tinha deixado aberta. Abro a porta devagar e...
– ...AHHHHHHHHHHHHHHHH!! – grito eu num tom terrivelmente
estrondoso, arrependida de ter voltado ao ninho da aranha.
A aranhilde salta agilmente para cima de mim para me
comer. Abre a boca e engole-me de uma golada.
Ao mesmo tempo o meu pai bate pela segunda vez a porta do
meu quarto:
– Sofiaaaa!! Acorda! Já são oito horas, e tu ainda a
dormir! Rápido que eu já vou ligar o carro!
Parece que ainda estava a gritar quando acordei
finalmente. Até ia caindo da cama! Fiquei uns minutos a tentar
interiorizar o que tinha realmente acontecido e a tentar distinguir o
sonho da realidade. Os fantasmas, as luzes, os barulhos esquisitos, as
sombras... Foi tudo sonhado, tudo por causa de uma aranha minúscula que
estava sossegada na parede. Tal aranha que me deu cabo da cabeça! Aquilo
parecia tão real! “Ai que susto, ai que horror!!! Que sonho tão
estúpido, realmente, cada coisa que me acontece! Sinceramente!” – pensei
eu enquanto me destapava e levantava da cama.
Fui lavar a cara ainda um bocado abalada. Vesti-me
rapidamente, tomei o pequeno almoço, escovei os dentes, penteei-me e fui
para o carro para ir para a escola. E não é que a maldita aranha estava
encostada ao vidro do carro a lembrar-me que o teste de Matemática
estava quase a começar? Carrego no botão de descer o vidro. O malvado
inseto preto está mesmo à frente do meu dedo. Solto o dedo do meio em
jeito de disparo. Ainda conseguiu esconder-se atrás do espelho
retrovisor. “Fecha o vidro Sofia”, disse o meu pai para a chuva não
molhar os estofos. Enfim! Já chega de aranhas por agora. Espero que esta
noite ela não me venha visitar. Mas se vier, eu estarei preparada!
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