Vista de São João da Madeira

A vila de S. João da Madeira, pátria duma família de obreiros que fazem do trabalho sacerdócio, guarda tradições de fé patriótica que fez de todos e de cada sanjoanense, pioneiros dum ideal de progresso, mercê do qual, milagrosamente, tem surgido uma terra moderna e progressiva, do aglomerado místico de há duas dúzias de anos atrás. Aldeia, ontem; vila sede de concelho, hoje; cidade, amanhã − S. João da Madeira tem marcado posição desassombrada entre os povos que sabem conquistar uma independência efectiva pelo culto das aspirações honestas e elevadas.

Plantada na ridente região do Vale do Vouga, ao sopé das colinas formosíssimas que casam o verde musgo dos pinhais com o azul ingénuo do céu − a vila tira da paisagem ambiente, ensinamentos de candura e de nobre cavalheirismo para os seus habitantes, os quais, rudes trabalhadores embora, guardam o culto da hospitalidade, ditado por sentimentos inequívocos de moralidade austera e intransigente.

No campo ideológico, o povo sanjoanense ama, em geral, os grandes princípios das liberdades individuais. Assim norteado, ao sabor de tendências e índole muito próprias, que o seu espírito é campo sáfaro para teorias retrógradas ou quaisquer conceitos que não venham ungidos da bênção do ideal, no intuito altíssimo da mais formal autonomia da consciência humana.

Ali campeia o bem, essencialmente, pela religião do dever cumprido.

Trajo tradicional de S. João da MadeiraUna e indivisível, a vontade de um é a vontade de todos; e o ardor com que se sabe querer e trabalhar, é o mesmo com que se sabe lutar e vencer. É assim que em S. João da Madeira a acção municipal, cujos frutos, bem palpáveis, não carecem de encómios (não se perca de vista que as raias do concelho não ultrapassam os limites da própria vila, e que, portanto, as suas receitas emanam, pura e simplesmente, do contributo dos seus habitantes) se completa com a acção privada de cada sanjoanense, no leva-arriba duma noção completíssima de fervor natal que redunda em peregrino entusiasmo pela terra que todos amam, tanto, quase, como se ama o lar e a família. Vasos comunicantes a conter a mesma vontade, há na terra, de facto, um contágio geral de ideias e de ideais que chega a atingir o nível de epidemia aguda de bairrismo, de que só ficará imune quem se prouver do quinino, não queremos dizer da indiferença, mas de certa dose de precaução contra aquela tendência, a todos peculiar, para o exagero.

S. João da Madeira é simultaneamente um exemplo vivo de virtudes líricas e ardor patriótico. Pelo espírito de tenacidade e de sacrifício, no culto das aspirações, individuais ou colectivas; mas também pela devoção ingénita com que o povo sanjoanense cerra fileiras em volta da sua terra, baluarte de morigeração e de trabalho que todos e todos servem, em plena consciência do que amam e servem, ao mesmo tempo, o ideal augusto desta bendita terra que é Portugal.

João da Silva Correia

 

 

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