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4ª Série - Número 4 - Junho de 2001 - pp. 34-36

 

Os Edifícios

Os edifícios provisórios

Até se instalar em edifício concebido para o efeito, andaram professores e alunos da liceu numa roda viva. No momento da sua instalação foi edifício-sede do Liceu o Paço Episcopal.(20) Pouco tempo depois, em Janeiro de 1852,(21) encontra-se instalado em local que as actas não referenciam, mas ainda no mesmo ano decidiu-se arrendar uma casa na antiga rua de Santa Catarina,(22) para em 1856 já estar instalado nas dependências do convento de Santo António.(23) Por essa altura já estavam em curso as diligências que haviam de levar à construção do edifício da antiga Praça do Município (hoje Praça da República).

 

O Edifício da Praça do Município/República
(actual Escola Secundária Homem Cristo)

Foi com a sua intervenção na sessão parlamentar de 16 de Julho de 1853 que José Estêvão começa a sua campanha pela construção de um edifício de raiz para o Liceu de Aveiro. Diz Marques Gomes que o ilustre aveirense requereu / 35 / ao Governo que se «(...)mandasse fazer a planta e o orçamento para estabelecer o Iyceu do districto de Aveiro; (...) [e] que se mandasse consultar as autoridades para verificar se as ruínas da Albergaria de S. Braz eram o logar mais proprio para o lyceu».(24) E de facto o Liceu de Aveiro veio a instalar-se no local proposto por José Estêvão.

As obras iniciam-se durante o ano de 1855. Uma portaria de Fontes Pereira de Melo, de 5 de Março, ordena a construção das obras, referindo um orçamento de 16.800$000. Para atenuar a despesa foi autorizada a demolição da parte antiga da muralha de Aveiro, contígua ao Paço do Bispo.

As obras estarão terminadas no final de 1859 tendo sido inaugurado o novo edifício a 15 de Fevereiro de 1860.(25) Este foi o primeiro Liceu em Portugal a ter edifício próprio. Quinze anos mais tarde, Marques Gomes descreve-o da seguinte forma: «A construção interna e externa é elegante. Ás tres portas ogivaes da entrada, no alto da escadaria exterior correspondem outras tantas no fundo do atrio, comunicando a do centro para o interior do pavimento e as laterais para as escadarias que vão ao patamar, no meio do qual arranca, em sentido inverso (…) a escada que dá acesso para o segundo pavimento, occupado pelas aulas, gabinete onde se acham as vitrines, que contem instrumentos de physica, mineralogia, ornitologia etc., sala de espera e bibliotheca, que se compõe de perto de 4 mil volumes (...).»(26)

Mas pelas salas e corredores deste magnífico edifício não circulavam só alunos e professores. O Liceu de Aveiro, pouco depois da sua inauguração, teve novos inquilinos. Um incêndio ocorrido no Paço Episcopal, a 20 de Junho de 1864, teve o condão de fazer transferir as repartições do Governo Civil e da Fazenda para o primeiro pavimento do edifício do liceu. Medida naturalmente transitória, que se prolongou por 43 anos... Este edifício, que hoje alberga a Escola Secundária Homem Cristo, foi objecto de profundas obras de reestruturação interior, bem como de acrescentos vários que permitiram ao Liceu de Aveiro aí funcionar até ao ano lectivo de 1951/52.

Não temos deste edifício planta que permita, rigorosamente, saber como era. Mas temos uma notável descrição de Francisco Regala, feita na sessão solene de abertura das aulas de 1907/08 (27): «Destinado a um estabelecimento d'instrucção, que comprehende variados serviços, o edificio foi dividido, unicamente, em 8 salões, uma sala que dá comunicação, no pavimento superior, a dois d'aquelles salões, uma escada ampla e elegante e um espaçoso atrio. Nada mais. Quem projectou o edificio só pensou em aulas! Nem um compartimento para secretaria, nem um gabinete para o reitor, nem uma sala para os professores, nem um logar de recreio para os alumnos, nem, ao menos, um pequeno quarto para os empregados menores! No entender do arquitecto, o serviço do liceu reduzia-se a aulas e para ellas projectou os 8 salões, tam espaçosos que, por isso mesmo, não teem condições necessarias para esse destino.»(28)

O edifício da actual Escola Secundária Homem Cristo, apesar de manter intacta a fachada principal, pouco tem a ver com o edifício de 1860. Alterações da planta inicial são significativas (os tais 8 salões de que nos fala Francisco Regala estão hoje completamente divididos). Os acrescentos são também de / 36 / monta. Acrescentou-se o Anexo, fez-se um ginásio e adquiriram-se terrenos que permitiram construir um recreio para os alunos. As obras que deram a actual feição a este edifício realizaram-se na transição dos anos 50 para os anos 60, quando lá foi instalada a Secção Feminina. Chegou a estar previsto a instalação de um Liceu Feminino.

 

O Edifício da Rua 25 de Abril

(Actual Escola Secundária de José Estêvão)

Os esforços dos reitores dos anos trinta e quarenta vão principalmente no sentido de fazer os melhoramentos necessários numa Escola quase centenária. Mas aproximava-se a altura em que o velho edifício deixava de poder albergar mais alunos, e, considerando-se que as possibilidades de ampliação eram diminutas, entende-se, desde 1941, que a solução estaria na construção de um novo edifício.

Abandonada assim a possibilidade de ampliação do edifício da Praça da República, prevista no Plano de 1940, é pelo Dec-Lei n.º 33 618, de 24 de Abril de 1944, que fica decidida a construção de «um novo liceu de 16 turmas».

Entre a decisão política e a efectivação da mesma mediaram ainda longos anos. O Governo exigia à Câmara Municipal contrapartidas: a aquisição do antigo edifício, pelo preço de 1500 contos, e a compra do terreno para a construção do novo edifício. O projecto fica concluído em Agosto de 1947, ano em que a Câmara Municipal aprovou um empréstimo de 920 contos para a compra da Quinta das Agras.

As obras do novo edifício do Liceu de Aveiro foram realizadas pelo Eng. Teixeira Duarte (fundações) e iniciaram-se a 16 de Agosto de 1948. O Eng. José Pereira Zagalo realizou as obras propriamente ditas e iniciou-as em Abril de 1949. Concluíram-se em Abril de 1952.(29) O Liceu de Aveiro faz parte de um conjunto de liceus construídos segundo o plano de 1938 e a sua construção é contemporânea da dos liceus da Póvoa de Varzim e de Oeiras. A entrega oficial veio a fazer-se no dia 25 de Maio, hoje dia da Escola, tendo-se iniciado a transferência em Setembro do mesmo ano. A 13 de Outubro de 1952 foi solenemente inaugurado o edifício, ao mesmo tempo que se iniciava um novo ano lectivo. Edifício é em tudo semelhante ao actual, com excepção da ala sul, posteriormente construída, ainda que muitos espaços tenham hoje uma utilização muito diferente daquela que foi inicialmente prevista.

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(20) – É no Paço Episcopal, antigo palacete dos Tavares, e que hoje já não existe, que são exaradas as primeiras actas do liceu.

(21) – Na acta de 8 de Janeiro de 1852 escreve. se: "(...) Que fica ratificado o contralto feito pelo Reitor d'o aluguer d'as Casas, em que agora se acha estabelecido o Lyceu". Acta transcrita por José Pereira Tavares, Livro Comemorativo do 1° Centenario do Liceu de Aveiro, Aveiro, 1952, p. 8.

(22) – Em Outubro de 1852 pede o reitor autorização, que lhe foi concedida pelo Conselho Escolar, para mudar para "as de Francisco José Pinho Ravara, na Rua de Sanita Catharina, que o mesmo Ravara arrenda por cinco moedas". Idem, p. 8-9.

(23) – Cf. José Pereira Tavares, «História do Liceu de Aveiro» Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. lll, Aveiro, 1937, p. 55.

(24) – Marques Gomes, Memórias de Aveiro, Aveiro, 1875, p. 201.

(25) – Não existe qualquer documento oficial que tenha esta data. Os 2 principais historiógrafos de Aveiro, Rangel de Quadros e Marques Gomes, referem a data de 15 de Fevereiro. Pensamos que assim será, mas pode-se correr o risco de estar a repetir uma data (falsa?) de que por tanto repetida passou a ser verdadeira. É estranho que o Campeão das Provincias dos dias próximos ao 15 de Fevereiro nada digam sobre o assunto. Como estranho será as actas do Conselho Escolar também a esse propósito serem mudas.

(26) – Idem, p. 128.

(27) – Francisco Regala, reitor em 1906 conhecia bem o liceu tal como fora construido e inaugurado em 1860. Em 1866, aquando da inauguração do retrato a José Estêvão ele aparece como subscrito r da acta nesse dia aprovada.

(28) – Anuário do Liceu Nacional de Aveiro (1907/08), Aveiro, 1909, p.10.

(29) – Cf. José Pereira Tavares, O Novo Edifício do Liceu de Aveiro, “Arquivo do Distrito de Aveiro”, vol. XXI, Aveiro, 1954, pp. 12-15.