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4ª Série - Número 4 - Junho de 2001 - pp. 22-24

 

5. Festas e comemorações

Neste campo, pretende-se identificar as datas ou temas em torno das quais a escola organiza momentos e forma de comemorações ou de evocação.

 

Festividades de carácter nacional

 

Comemorações do 10 de Junho.

A 1.ª referência a estas comemorações aparece no Anuário de 1915/16, que transcreve uma pequena conferência do reitor, Álvaro Almeida de Eça. Na parte introdutória refere-se uma recomendação feita, no ano anterior, pelo Ministro da Instrução, para que "no aniversário da morte do imortal cantor das nossas glórias"(26) um professor do liceu fizesse uma conferência sobre Camões. O hiato que, a partir desse ano, existe na publicação do Anuário, impede-nos de ter certezas em relação à continuidade das comemorações camonianas. Entre 1920 e 1963, salvo raras excepções, as comemorações camonianas são um facto.

A forma de comemoração varia ao longo dos tempos, entre uma conferência de Hernâni Cidade, uma palestra de João Gaspar Simões ou uma exposição de pintura de Arlindo Vicente. Por vezes o programa é mais variado, como acontece em 1956. Nesse 10 de Junho houve, de manhã, uma sessão solene no ginásio, que foi aberta pelo reitor, seguiram-se números do orfeão, a recitação de uma estância dos Lusíadas (em várias línguas) e uma conferência com "prata da casa". No fim, umas palavras do Governador Civil. No recreio as alunas apresentaram uma classe de ginástica e expuseram-se Trabalhos Manuais, Desenhos e Lavores Femininos. Um quadro digno de uma sociedade salazaristicamente normalizada...

 

Comemorações do 1.º de Dezembro

Outra festividade que durante décadas se comemorou foi o 1.º de Dezembro. Quando se iniciaram as comemorações é assaz difícil de determinar. Mas tal como as festas de Camões já em 1926/27 começavam a criar tradições no Liceu de Aveiro. Diz Pereira Tavares no Anuário desse ano que «as festas patrióticas do 10 de Dezembro e de Camões estão já a entrar nos hábitos desta casa de ensino.»(27) Mais uma vez as dificuldades são devidas à interrupção da publicação do Anuário. Em cada 1 de Dezembro a evocação faz-se, normalmente, através de uma conferência. Em 1929 Alberto Martins de Carvalho, no dealbar da ditadura, faz veemente profissão de fé democrática.(28) No ano da chegada de Salazar ao poder, Olindo Casal Pelaio, faz clara incursão ultranacionalista.(29) Depois de alguns anos sem referências ao 10 de Dezembro, em 1941 a participação do liceu nas comemorações do 10 de Dezembro foi, já, simbólica: pouco mais que um simples hastear de bandeiras. As cerimónias oficiais, ficam, a partir de agora, a cargo da Mocidade Portuguesa, que também organiza as comemorações do 28 de Maio. Mais uma vez a "normalização" imposta pelo regime. / 23 /

 

Festividades próprias

 

Sessão solene de abertura das aulas

A festa do liceu de Aveiro, de âmbito local, com mais significado é a sessão solene de abertura das aulas. Durante a mesma foi hábito um professor fazer a oração de sapiência que versava os mais diversos aspectos. No entanto, durante uma grande parte de sua história tiveram significativa importância as festas escolares associadas ao 10 de Junho.

 

Récitas escolares

Tiveram importância cultural significativa as récitas escolares dinamizadas, a partir do início da década de 20, principalmente, por José Pereira Tavares. A Exortação da Guerra, o Monólogo do Vaqueiro, A Farsa de Inês Pereira, A 3.ª Jornada do Fidalgo Aprendiz, Cenas da Vida de D. Quixote, são peças que vão à cena não só no teatro Aveirense, como também um pouco por todo o país. Esta tradição teatral manteve-se viva e por exemplo na festa de despedida do 7.º ano de 1958/59, levou-se à cena, no teatro Aveirense, a peça em um acto «Quem desdenha...» (30)

 

Comemorações excepcionais
 

▪ Comemoração do centenário da Guerra Peninsular.

▪ Comemoração do 5.º5° aniversário da inauguração do edifício do Liceu (15 de Fevereiro de 1915, seria este o dia do aniversário, mas a evocação realizou-se a 20 de Fevereiro).

▪ Comemoração do 4.º centenário da morte de Vasco da Gama, a 24 de Janeiro de 1925. Lembre-se que Vasco da Gama tinha sido imposto como patrono do Liceu

▪ Comemoração do 1.º centenário de Camilo Castelo Branco, a 16 de Março de 1925.

▪ Sessão de homenagem à memória de António José de Almeida, em 31 de Janeiro de 1930, com conferência de Augusto Casimiro.

▪ Comemoração do 1.º centenário de João de Deus, em 8 de Março de 1930.

▪ Comemoração do 1.º centenário do nascimento de Oliveira Martins, a 30 de Abril de 1945.

▪ Comemoração do 1.º centenário do nascimento de Eça de Queirós, a 24 de Novembro de 1945.

▪ Comemoração do 8.º centenário da tomada de Lisboa aos mouros, a 15 de Maio de 1947.

▪ Comemoração do centenário do nascimento de Gomes Leal, a 5 de Junho de 1948.

▪ Comemoração do centenário do nascimento de Guerra Junqueiro, a 16 de Dezembro de 1950.

▪ Comemoração do 1.º centenário do Liceu, a 5 e 6 de Outubro de 1951.

▪ Entrega do novo edifício do Liceu, a 25 de Maio de 1952.  / 24 /

▪ Inauguração do novo edifício do Liceu, a 13 de Outubro de 1952.

▪ Homenagem ao chefe do governo, a 27 de Abril de 1953, "cumprindo ordens superiores" (sic).

▪ Comemoração do Dia Mundial da Saúde, a 21 de Maio de 1955, por ordem superior.

▪ Comemoração do 1.º centenário do Liceu de Goa, a 24 de Novembro de 1954.

▪ Comemoração do 1.º centenário da morte de Almeida Garrett, a 9 de Dezembro de 1954, no Teatro Aveirense.

▪ Comemoração do 1.º centenário de Mouzinho de Albuquerque, a 14 de Novembro de 1955.

▪ Festa de despedida a José Pereira Tavares, a 30 e 31 de Janeiro de 1957.

▪ Comemorações henriquinas − extenso rol de actividades que tiveram lugar entre 4 de Março de 1960 e 10 de Junho do mesmo ano.

▪ Comemorações condestabrianas, entre 12 de Dezembro de 1960 e 6 de Março de 1961.

▪ Comemoração do centenário da morte de José Estêvão, a 4 de Novembro de 1962.

 

Não são feitas referências a factos ocorridos depois de 1963, pois os Anuários, principal fonte de informação para a história do liceu, deixaram de se publicar. É possível que organizando o arquivo do liceu, cruzando informações diversas (por exemplo, para tempos mais recentes a imprensa regional) venhamos a ter uma ideia mais precisa (e quem sabe se diferente) de uma instituição, que, apesar da voragem dos tempos, soube preservar parte do seu património arquivístico.

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(26) − Anuário do Liceu Central de Aveiro (19151 16). Aveiro, 1917, p.15

(27) − Anuário do Liceu de José Estêvão (19261 27), Aveiro, 1927, p. VI.

(28) − Cf. Anuário do Liceu de José Estêvão (19291 30), Aveiro, 1930, pp. 64-69.

(29) − Cf. Anuário do Liceu de José Estêvão (19321 33), Aveiro, 1933, p. 82.

(30) − Cf. Anuário do Liceu de Aveiro (1958/59), Aveiro, s/d, p. 124.