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4ª Série - Número 3 - Dezembro de 2000 - pp. 102-104

Anabela Cunha

Estou na escola EB 2+3 de Cacia, mas a minha experiência de gestão foi na então escola preparatória de Albergaria-a-Velha. Tomei posse em 23 de Outubro de 1990 e estive na gestão até 15 de Julho de 1993.

Entrei para a gestão no meu terceiro ano de trabalho e portanto vocês devem imaginar que eu era uma garota com vinte e cinco anos, que não percebia muito bem a nível da gestão. E foi por convite do presidente e do Vice-Presidente na altura, porque o secretário tinha sido convidado para a profissionalização em serviço. Eles convidaram-me, eu disse que não, que não, porque enfim, não tinha experiência, ainda gostava muito dos meninos, vinha com aquela ilusão do estágio, de fazer muitas coisas mas depois acabei por dizer que sim, porque acabava por ser um desafio, uma coisa diferente, para ver se aprendia alguma coisa e gostei bastante. Estive lá três anos. Saí porque entretanto efectivei em Cacia e era substancialmente mais perto, porque morava em Aveiro e gostei muito. As principais dificuldades que eu senti logo de início tiveram que ver com a minha falta de experiência pois era o terceiro ano que trabalhava. Tinha feito estágio, tinha estado um ano na Gafanha e depois tinha ido para Albergaria; e além disso ressenti-me um pouco da idade que eu tinha, porque os colegas mais velhos não aceitavam muito bem que uma / 103 / garota que tinha chegado ali de repente e que nem sequer já estava na escola há muito tempo, porque eu estava na escola há meia dúzia de dias tivesse que tomar decisões e isso dificultou-me um pouco a vida. E isso porque havia que em termos de cumprimento de horários era um pouco complicado, porque vivia do outro lado da escola e entendia que para ter aulas às oito e trinta podia levantar-se às nove menos vinte e cinco. E nós entramos um bocadinho em choque e isso foi chato, foi complicado esse tipo de situações. A falta de formação na área também foi um problema, pronto. Eu olhava para um "Diário da República" e aquilo era complicado no início, mas lá fui aprendendo. E nisso presto homenagem aos meus colegas da gestão, que foram muito dedicados. Eles já tinham experiência de gestão, já estavam na gestão há mais de dois anos, ajudaram-me em tudo e formámos uma equipa. Nunca houve ninguém que tomasse decisões para seu lado, portanto o que estava decidido. Às vezes estava mal decidido mas o que importava mesmo na altura era decidir e depois, entre nós, acertávamos agulhas. Portanto, isso foi bastante bom. Experiências negativas, para além daquela que falei com o colega, que foi realmente uma situação muito constrangedora, tivemos uma vaga de vandalismo na escola, já no meu segundo ano de mandato, em que dois alunos da escola, veio-se a saber pela policia judiciária, destruíram tudo quanto havia na escola, desde arquivos de secretaria até tudo quanto era máquinas de cantina, bar, reprografia,. Destruíram-nos tudo. Tivemos que equipar a escola de novo e perderam-se arquivos dos alunos, o que foi irremediável. Só para terem uma ideia.

Isto passou-se num fim-de-semana alargado de Junho, naquela altura em que se juntou o fim de semana com o 10 de Junho e nós chegámos à escola e tínhamos água pelo tornozelo, porque entretanto tinham aberto as torneiras, tínhamos água pelo tornozelo, e tínhamos marmelada colada ao texto e tínhamos peixes a nadar lá na água. Foi muito complicado. Deu-nos muito trabalho, sobretudo porque tivemos a Judiciária durante muito tempo, que não nos deixava propriamente muita liberdade de acção, porque nos compartimentava espaços e não nos deixava falar livremente sobre o assunto para não transpirar cá para fora. Felizmente isso foi resolvido. Já foi resolvido depois de eu ter saído de lá, o que me obrigou e ir lá mais algumas vezes mas, pronto, isso foi resolvido. Outra das dificuldades que eu encontrei foi / 104 / a nível do pessoal auxiliar. Deram-me a parte do pessoal. Em termos de relações humanas foi bastante enriquecedor e foram experiências muito engraçadas, porque eu tinha funcionárias que não sabiam ler nem escrever e eu não sabia que era possível um funcionário público a trabalhar numa escola não saber nem escrever. Eu tinha uma senhora que pura e simplesmente era com o dedo e, além disso, em vez de colaborar connosco, não, era extremamente desconfiada. E então quando lhe pedíamos para assinar a classificação de serviço ou outra coisa qualquer, ela tinha sempre de levar os documentos a uma pessoa da confiança dela para os ler e só depois é que vinha ter connosco a dizer que sim ou que não. Essa senhora criou outro tipo de problemas, porque a determinada altura decidiu não gostar de mim e decidiu que fazia bem ir fazer uns certos bruxedos do género de eu ter ido encontrar um altarzinho com velas e umas rezas atrás de uma porta de uma casa de banho. Foi uma experiência um bocado estranha. Mas pronto deu para, dá para recordar, e para ver que as pessoas, em termos de relações humanas são incríveis e há desde o muito bom até ao muito complicado, para não dizer mau. O balanço que eu faço da experiência, tirando estes picositos, que às vezes criavam uma certa angústia, foi uma balanço bastante positivo. Positivo ao ponto de eu ter sido eleita na sexta-feira passada como membro da nova comissão executiva da escola onde estou. E espero que agora, nos próximos três anos, as coisas corram bem. Daqui a três anos eu digo-vos.