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4ª Série - Número 3 - Dezembro de 2000 - pp. 91-93

Lídia Maria Saraiva Correia 

Agora estou na n.º 1. A experiência que tive foi um primeiro mandato em 89/91 na Secundária de Anadia e o segundo mandato foi de 93 a 96 na n.º 1 de Aveiro. Agora em termos de mandato, acho que não têm nada a ver um com o outro. O contexto foi no início um Pedagógico extremamente quente. Cinco caloiros de vinte e poucos anos que decidem fazer uma lista e pronto. A caloira mais jovem, talvez porque era a mais tapada não é? Decidiu ser presidente. Decidiu, não. Decidiram por ela e aí temos cinco pessoas com idades compreendidas entre os 23 e os 26 anos numa escola quente. Pronto, nós ganhámos numa eleição quente também contra uma outra lista de velha guarda da escola e eu na altura fiquei muito feliz por achar que era uma coisa muito boa, não é? Se eu tivesse reflectido bem, achava que devia ter juízo, não é? E então ficámos os cinco. Abdicámos das nossas férias, porque nenhum de nós tinha experiência de gestão; então ficámos lá os cinco plantados na Secundária de Anadia, assim com um calor como o de hoje a fazer horários. Depois, na verdade, eu acho que estes dois anos que passei em Anadia me ensinaram muita coisa e criaram em mim o vício da gestão, porque eu acho que isto é um vício. Nós viciamo-nos nestas coisas não é?

Erradamente eu acho que comecei mal. Primeiro, eu era demasiado jovem e uma pessoa com 24 anos não tem a racionalidade para gerir as coisas como deve ser, nem a nossa casa, quanto mais a escola; e nunca deveria ter começado como presidente. Pronto, acho que não, mas ensinou-me muita coisa. Porquê? Primeiro, tinha uns serviços administrativos e uma chefe dos serviços administrativos muito boa, que nós sabemos em termos legais, por exemplo, aqui o meu colega Corga tem formação para isso, mas uma pessoa com 24 anos que tirou uma licenciatura em Português/Francês nunca tinha visto um "Diário da República" a não ser para concorrer, não é? Então, ler o "Diário da República" era uma hora interessante em que eu me juntava à Chefe dos serviços administrativos e líamos profundamente. Isto foi uma aprendizagem muito boa. Depois, a Associação de Pais era super interveniente, seja para o bom, seja para o mau. Os Pedagógicos eram interessantíssimos, porque a secundária de Anadia, a escola é na vila, as pessoas conheciam-se demasiado / 92 / bem. Um exemplo: recordo-me de um recurso do 12.º ano de um aluno em que por ironia do destino eu tive de utilizar o meu voto de qualidade e a nota é passada de 9 para 10. Entretanto vou de férias para S. Jacinto, onde não tinha telefone para ninguém me aborrecer e por acaso fui comprar o jornal, lá na variante, lá na marginal de S. Jacinto e vejo na zona da Bairrada: Secundária de Anadia – Presidente do Conselho Pedagógico reprova professora. Eu apanhei o maior susto da minha vida, porque eu era a presidente do Conselho Pedagógico e não tinha reprovado ninguém. Houve uma fuga de informação; o pai foi para o jornal, a colega de matemática contactou a inspecção – foi uma confusão muito gira para as férias.

Também a imprensa era super interveniente na escola. Ou a pedido da associação de pais ou a pedido dos professores ou a pedido dos alunos, havia sempre uns artiguitos sobre a escola secundária de Anadia. Entretanto também tem faceta boa. Talvez pelo facto de não ter filhos na altura dava-me ao luxo de às três horas da manhã de me ligarem o guarda nocturno a dizer-me que havia água a descer pelas escadas abaixo como em cascata. Há água a descer pelas escadas abaixo e às 3 horas da manhã ia para lá, tiravam-se umas fotografias; e no dia seguinte aparecia tudo no jornal com umas declarações bombásticas da presidente; nem disse nada daquilo, mas pronto, ficava sempre muito bem. A Direcção Regional telefonava logo a seguir e era interessante. Não há dúvida que me deu um background. A disponibilidade na altura era muita; eu vivia para a escola. Eu penso que o maior problema foi a alteração do sistema remuneratório dos funcionários públicos, a mudança das fases para os índices, depois ninguém se entendia, o problema do vencimento dos estagiários. Sem dúvida que foi gratificante pela relação com a própria câmara, a câmara era muito interveniente, a câmara de uma vila é diferente nas relações humanas, é engraçado eu acho que é óptimo com essa ideia agora depois da experiência da n.º 1. É muito fácil fazer inimigos quando se está no Directivo. É uma coisa facílima. Uma pessoa arranjar uns inimigos que ainda agora quando uma pessoa entra na casas de banho, saem. Mas também é muito fácil fazer amigos. Eu comentava aqui com o Carlos Dias, há bocado, que nós ficamos a conhecer bem as pessoas, os colegas, os alunos. Entretanto termino o mandato em Anadia e é engraçado eu só me recordo que terminei o mandato e vim / 93 / para Aveiro de uma imensa angústia como quem deixou de ter alguma coisa para fazer, vim completamente perdida para dar aulas; entretanto arranjei qualquer coisa para fazer, tive um filho e descansei um ano. Entretanto estive um ano parada. O Carlos Dias estava cansado, queria sair, descansar um pouco, chamou-me ao Directivo assim como a outras pessoas (posso dizer não é Carlos?) e perguntou se eu estava interessada em continuar, eu disse que não na altura, mas juro-vos estava completamente dividida entre a criança de um ano que eu tinha nas mãos e a gestão da escola, é que eu acho que é um vício, muita carolice e vício. Entretanto fomos a uma votação nominal, na reunião geral de professores, uma assembleia e, claro, voltei às lides: fiz uma equipa de cinco elementos. Acho que isto de fazer equipa também foi interessante, tanto da primeira como da segunda. Eu acho que fundamental no sistema é trabalhar bem em equipa, que a equipa em si é a base de tudo, não é? Nós conhecemos Conselhos directivos que rebentaram, deram errado, não é? Às vezes, as pessoas não se conheciam. Na altura, trabalhei com pessoas que não conhecia e tive sorte também com isso. Aqui na n.º 1 tive um ano em que fui nomeada e depois apresentei lista exactamente a mesma. Eu acho que há aqui pessoas da n.º 1 que conhecem melhor a escola que eu. Que posso eu dizer? Para o final do mandato, que foi há três anos, em 1995/96, estava completamente desgastada, o que não é uma característica minha, eu não me desgasto facilmente, porque cumulativamente tivemos aquela fantochada dos exames do 12.º. Vocês desculpem-me a palavra, mas foi uma fantochada com aqueles erros constantes, alteravam-se coisas, aquela primeira experiência dos exames do 12.º ano e cumulativamente uma inspecção financeira também muito interessante. Pronto isso na parte final de mandato não me deixou a saudade que me deixou quando saí de Anadia. De qualquer maneira, passados uns tempos, recordo-me que fui a uma acção de formação de estudos portugueses, aqui na Universidade de Aveiro, e juro-vos que estava completamente perdida, sentada a assistir ao seminário, porque achava que não estava no sítio certo, percebem? Pronto, estava completamente desenraizada. Eu acho que era só isto que eu queria dizer em termos de trabalho, não me recordo de mais nada.