Deixa-se a Vista Alegre por uma alameda de álamos que
vai, adiante, entroncar na estrada n.º 50-2.ª.
A antiga estrada chamada colimbriana, vindo de
Mamarrosa, Palhaça e Salgueiro, passava por esta
altura da Ermida em direcção a Aveiro.
Desde 1873, a estrada passou a transpor a ria pela ponte
de Água Fria, de madeira e ferro (26 metros de comprimento)
recentemente abandonada e substituída. O plano dessa ponte, do eng.º
Silvério Pereira da Silva, apresentado na exposição de Filadélfia de
1876, foi julgado no seu tempo tecnicamente original e interessante. A
obra teve, porém, talvez como a de João Calancho, de Ílhavo (pág. 517) o
inconveniente de contribuir para a exalção do fundo deste braço da ria,
dificultando o fluxo e refluxo das marés. Ainda na segunda metade do
séc. XIX, no lugar dos juncais que se vêem à volta da ponte, havia
vestígios de compartimentos de salinas
(1).
A * paisagem da ria de Vagos, aberta dum
lado e outro da ponte de Água Fria, é encantadora. Há ribas
macias de relva, angras de água dormente e biombos de arvoredo, em
sucessivos planos, para as bandas das terras baixas do Boco, que estão à
espera, parece, dum pintor com escritos ou em férias.
Logo acima, a 3 km. de Vista Alegre, entra-se no
arruamento principal de
Vagos,
vila de 2027 habitantes, sede de concelho de 3.ª ordem,
do distrito de Aveiro, situada num pequeno plaino da orla Sudeste da
Gafanha.
O facto de ser designada de Vagos a única porta
das muralhas de Aveiro voltada ao Sul permite inferir que nos fins da
Idade Média era povoação relativamente Importante.
A topografia, por sua vez, sugere que neste ponto (1)
deve ter existido um pequeno golfo aberto ao Noroeste, bem abrigado dos
ventos, porventura, outrora, frequentado pela navegação marítima. Em
redor, houve desde o século. XVI a XVII, numerosas salinas.
Foi 1.º Senhor de Vagos Gonçalo Gomes da Silva,
ascendente da estirpe dos cavaleiros-fidalgos sepultados no panteão de
S. Marcos, de Coimbra. D. Manuel deu-lhe foral em 1514. Os habitantes de
Vagos contribuíram bastante para o arruamento dos charcos e areais da
Gafanha. (cfr. João Vieira Resende, Monografia da Gafanha).
– Estalagem de Manuel da Ribeira (modesta); Feira a 5 de
cada mês; Mercado. Domingos; Luz. Electricidade (Lindoso); Água.
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De nascente; Feriado Municipal: 1 de Maio; Miradoiros. Varanda exterior
dos Paços do Concelho e mirante do Vidal; Indústria. Cerâmica de
construção, olaria, resinagem, extracção de moliços.
A
vila, muito modesta, de moradias na sua maior parte térreas, mas
caiadas, dispõe-se ao longo da estrada. Uma parte da população trabalha
na fábrica de porcelana da Vista Alegre; outra, em maior percentagem,
nos campos rasos e férteis que a circundam do lado do poente, sobre a
plataforma peninsular da Gafanha. Por alturas de Março, as terras à
volta, cobertas de trevo (para as azotar), salpicam-se de miríades de
flores amarelas, montículos negros de adubos e de manchas escuras e
brancas de vacas de raça holandesa. Por vezes chega até aos pastos o
cheiro da maresia e o sussurro do mar que se pressente através dos
pinhais.
Os Paços do Concelho são a antiga casa do Visconde de
Valdemouro, edifício de janelas ajimezadas, destituído de interesse, mas
óptimo ponto de vista sobre o braço terminal da ria.
O movimento das embarcações, principalmente de
moliceiros, é muito activo na ponte da Fareja, de madeira, (a 0,6
km. Este, na estrada empedrada que conduz a Mogofores; pág. 467) e no
cais do Boco, donde seguem os adubos para a zona agrícola do Sul do
concelho.
Os campos de Ouca, de 6 km de comprimento e 1 de
largura, a Sudeste de Vagos, que eram uma charneca infecunda, foram
convertidos, nos meados do século XIX, em férteis arrozais.
A 2 km. Noroeste, por estrada municipal, visita-se a
capela de N.ª Sr.ª de Vagos, num fresco relvado coberto de
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álamos, pinheiros mansos e acácias, não longe da orla arenosa. É um
lugar de romaria, de devoção antiga dos povos de Gândara e Bairrada. A
gente do mar traz à padroeira, por vezes, curiosas promessas.
A primitiva ermida, edificada no século XII, 600 metros
mais a Oeste, foi soterrada pelas areias, restando dela apenas um pano
de muro.
Se se prossegue para o Sul pela E.N. n.º 50-2ª, perde-se
de vista o braço da ria no alto de Santo André e percorre-se,
depois da povoação deste nome, uma planura ora agrícola ora florestal de
solo arenoso. A partir do Couto de Calvão (que fica à direita,
para os lados da ria de Mira, no limiar do distrito de Coimbra),
acentua-se o predomínio dos pinhais. Sucedem-se, de um lado e outro, as
grandes massas de arvoredo das matas do Estado: pinhal do Fojo, pinhal
da Gândara de Portomar, etc. O repovoamento florestal deste último
iniciou-se em 1919. A sua orla, do lado ocidental, aproxima-se do sítio
do Areão, na ria.
Logo após a povoação de Portomar, cujo nome
evocaria a época em que aqui andou o Atlântico (pág. 500), entra-se, a
22,5 km de Aveiro, na vila de
Mira
(pág. 122).
Daqui a Coimbra são 37 km. (pág. 176) por Cantanhede e 36
km., à Figueira da Foz (pág. 115). A praia de Mira fica a 5 km Oeste.
Uma
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uma estrada florestal, divergindo para Norte da que liga o lugar de
Lagoa a Palheiros de Mira, permite atingir o Poço da Cruz,
extremo Sul da ria de Aveiro. Nas Videiras do Sul (pinhais do Estado)
interessa visitar o viveiro de carpas dos Serviços Florestais.
A lagoa de Mira, junto da vila, era coutada real de pesca
no reinado de D. Afonso V. Quem nela pescasse ou armasse armadilhas era
punido com multa e um ano de degredo em Tânger…
As enormes dunas entre Mira e Quiaios estão hoje quase
inteiramente dominadas e revestidas de pinhais, semeados nos últimos 25
anos.
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(1)
– Informações do Comandante Rocha e Cunha.
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