TREINADOR


O treinador do Beira-Mar é argentino. Dante Jorge BIANCHI principiou a sua carreira de técnico no Brasil, para onde embarcou em 1940. Era médio-centro. Trocou Córdoba pela Baía, encontrando lugar no Esporte da Baía. Foi depois contratado pelo S. Cristóvão (Rio de Janeiro), mas voltou a S. Salvador, ao primeiro clube, para iniciar, em 1945, uma nova fase da sua actividade desportiva, a de jogador-treinador. E só deixou de jogar em 1950, com 40 anos. Passou então a ser apenas técnico.

– «Treinei muito clube do Norte do Brasil, tanto que não sou capaz de lembrar todos os nomes. No Recife, Ceará, S. Paulo, selecção da Baía, selecção de Pernambuco, fiz trabalho, sim. Já dirigi mesmo um clube português, em 1960-61. Foi o Lusitano de Évora. Mas estive pouco tempo. A equipa não andava bem e o treinador é que foi a vítima. É sempre assim. E voltei o ano passado a Portugal por ter sido contactado por um empresário. Ele fez-me uma proposta, eu estava livre e vim para Aveiro.»

Bianchi tem uma experiência igual àquela que mostram os seus cabelos grisalhos. Aos 61 anos não tem ilusões. Encara a vida de frente, tal como ela é.

– "O Beira Mar está a realizar uma carreira em que ninguém pensava. São coisas do futebol. Acredito que terminará o campeonato num lugar tranquilo, aquele em que não há perigo de despromoção. E tudo foi armado à última hora. A meio de Julho do ano passado ainda não tínhamos jogado um único desafio particular. A equipa não tinha tarimba, foi feita de novo. E está firme, mesmo. Não é sorte, não. Bom entendimento, colaboração, camaradagem e muito trabalho têm contribuído para isso."

No meio da tabela classificativa no Nacional da I Divisão, o Beira-Mar apresenta um ataque que é dos mais sóbrios de todas as equipas e uma defesa que é das mais sólidas. O treinador explica:

– «O nosso sector defensivo é o mais poderoso da equipa; está muito mais estruturado do que o sector atacante. A linha da frente tem uma média de golos muito baixa, mas espero que possa melhorar de um momento para o outro, com o decorrer do campeonato, à medida que for verificando que também pode fazer futebol ofensivo.»

Bianchi não faz ondas, não promete nada, gosta de trabalhar tranquilamente para tentar obter o maior rendimento. Ele não tem nenhuma táctica-milagre.

– «O nosso sistema de jogo é simples. Fechamos a defesa com cinco ou seis homens diante da grande área e ficamos atentos para lançar, logo que seja possível, o jogo de contra-ataque. A equipa que tem melhor meio campo do Nacional é o Beira Mar.»

O Beira-Mar conta com menos de dúzia e meia de jogadores profissionais para a primeira equipa. Mas isso não atormenta muito o treinador.

– «O "plantel" não é grande, mas também não tenho tido necessidade de utilizar muitos jogadores. Nisso temos tido sorte, como temos tido infelicidade nos desafios em casa. Aqui a equipa ainda não fez uma exibição de gala. Os piores encontros têm sido realizados no nosso estádio. O público de Aveiro é muito exigente, estupendo a apoiar a equipa; quer, porém, a vitória a todo o preço. Ora isto desorienta os jogadores, que se têm sentido mais à vontade no campo do adversário. As nossas melhores partidas têm sido disputadas fora, como contra o Benfica e o Sporting. Mesmo contra o Setúbal. São coisas do futebol.»

 

 

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