HISTÓRIA

TEXTO PINTO GARCIA / FOTOS ANTÓNIO XAVIER


CHAMAVAM-LHE "Os americanos." Eles foram os fundadores do Beira-Mar. Na realidade, foi um grupo de jovens regressado dos Estados Unidos que em 1922 lançou a ideia da fundação de um clube para praticar futebol em Aveiro. Gente da beira mar, do bairro piscatório, pois o clube iria adoptar esse nome simples: Beira Mar. Um armazém de pescado no Cais dos Mercantéis iria servir como primeiro local de reuniões a sério. O dono do armazém, João Moreira, seria o primeiro sócio do clube. Outro armazém pertencente a uma companha conhecida pela "Burra", na Rua Bernardino Machado, 2, iria servir como novo local de reuniões e, sobretudo, como vestiário. Foi aí que os jogadores enfiaram a primeira equipa do Beira-Mar, uma equipa improvisada, trazida dos Estados Unidos. Justamente umas camisas amarelo torrado, de flanela, à "cowboy". Os calções, azuis ou pretos, foram comprados à custa de sacrifícios pessoais, em Aveiro.

A primeira sessão solene teve lugar no número 17 do Cais dos Mercantéis, no primeiro andar, tendo sido hasteada a bandeira por Luís da Rocha Leonardo. Meia dúzia de anos depois a sede passaria para a Rua das Marinhas.

Os primeiros desafios de futebol datam do princípio de 1922. Para se conseguirem fundos, destinados à aquisição de bolas, de meias e de botas, cada um teve de fazer investimento pessoal ou recorrer aos amigos. E foi por imposição de Mário Duarte que o Beira-Mar mudou de equipamento, na altura de realizar um desafio a sério com o Vilanovense. Compraram numa casa aveirense camisolas às riscas amarelas e pretas, as únicas que existiam na ocasião. Ao tempo, a equipa, incluindo as meias, custou 160$00.

Na primeira equipa do Beira Mar alinharam João da Cruz Moreira, José de Pinho Nascimento, Primo Naia Pacheco, Luís dos Santos Gamelas, José de Deus da Loura, António de Pinho das Neves, Firmino da Naia, Francisco dos Passos da Cruz, João da Rosa Lima, João Salvador da Maia, Francisco da Maia e António Gonçalves Andias.

Além do futebol, o Beira-Mar começou a praticar natação. A prova inaugural teve lugar no Cais das Pirâmides, contra uma equipa do Galitos.

Depois de ter feito carreira nos campeonatos regionais, durante muitos anos, o Beira-Mar só começou a dar nas vistas em futebol na temporada de 1958/59, em que terminou campeão Nacional da III Divisão. Ingressando na II Divisão nacional, a equipa de Aveiro salientou-se na temporada de 1960/61, ao conquistar o título, ganhando assim direito a entrar no campeonato maior do futebol português, na época seguinte. Aí terminou a temporada em 11.º e, perdendo os jogos de passagem, foi despromovido.

Após um ano de eclipse, os aveirenses voltaram a dar que falar. Com efeito, conseguiam outro título da II Divisão Nacional em 1964/65 e regressavam ao convívio dos "grandes". Desta vez por duas temporadas. Com efeito, em 1965/66, classificaram-se no 14º lugar e na época seguinte ficaram no fim da tabela. Regressaram à II Divisão, para aparecerem de novo como campeões o ano passado, derrotando na final o Atlético. Aí está o Beira-Mar junto dos maiores do futebol nacional, pela quarta vez.

O clube vive agora uma data de euforia. Com efeito, está a festejar 50 anos de existência. Oficial da Ordem de Benemerência, Medalha de Prata da cidade de Aveiro, o Beira-Mar viu-lhe agora concedido pela Câmara o nome de uma rua da cidade. Ao mesmo tempo, está em vésperas de poder dispor de um estupendo pavilhão desportivo, com 50x35 metros, com capacidade para 1600 espectadores, equipado com balneários, um centro de medicina desportiva e, possivelmente, em breve, um edifício-sede, uma vez que a sede actual é alugada e não oferece as condições ideais para um clube que não cessa de crescer e ampliar a sua actividade.

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NOTA (HJCO) – Acerca do nascimento do Beira-Mar, remetemos os leitores para o artigo do «Almanaque Desportivo» de 1960, pág. 80, cujo link anexamos:

COMO NASCEU UM CLUBE
 

 

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