Escola Secundária José Estêvão, n.º 11, Jan.- Mar. de 1994

Muitos teóricos e muitos práticos têm defendido que a formação continua de professores deve estar ancorada na escola em que os professores prestam o seu serviço. As razões que apresentam são muitas. Podemos referir algumas.

A formação deve ser feita sobre a realidade que os professores vivem e deve ser virada para as necessidades de formação dos professores, enquanto membros de uma comunidade. A esta razão acresce o facto de as actividades de formação constituírem pólos dinamiza dores das actividades da escola, se nela forem integradas.

É também verdade que centrando a actividade na escola, mais directamente se faz sentir que os destinatários últimos da formação de professores são os estudantes e que uma das finalidades sempre presente é a melhoria da qualidade de ensino e de aprendizagem. As actividades de formação centradas na escola podem mesmo envolver actividades com alunos, servindo estas de exemplo e contra-exemplo para o que se defende e promove. A escola como centro tem, além de todas as outras, a vantagem de integrar no dia a dia dos professores a actividade de formação como mais uma actividade, não provocando desgastes de deslocações e de integração em ambientes novos. E é por aqui que se desenha a principal desvantagem: se fecharmos os professores dentro do seu círculo restrito empobrecemos com certeza a sua formação. O contacto com outras realidades de outras escolas pode enriquecer muito as perspectivas dos professores.

A formação contínua de professores é absolutamente necessária para promover a sua actualização científica, pedagógica e didáctica e deve ter como consequências a melhoria da qualidade de ensino e a criação de uma consciência crítica, capaz de criar participação em processos de mudança. A comunidade educativa e cada estudante são os verdadeiros destinatários dos resultados que se obtêm com a formação dos professores.

A Escola Secundária de José Estêvão é uma das escolas associadas do Centro de Formação da Associação de Escolas do Concelho de Aveiro. O Centro de Formação pode constituir uma notável forma de equilíbrio: permitir formação centrada em cada uma das escolas associadas e permitir trocas entre os professores provenientes de escolas diferentes (até de níveis diferentes de ensino), embora marcadas por problemas comuns que o âmbito geográfico por si só cria.

O Centro de Formação pode constituir ainda um incentivo ao associativismo inter-escolas que, em acção, pode ajudar a resolver os problemas que se colocam ao nível da rede escolar, como prestadora de serviços de educação à sua comunidade municipal. Embora ainda haja um grande caminho a percorrer, o Centro de Formação é já um fórum de discussão e debate dos problemas dos professores e mesmo das escolas e, entre as suas iniciativas. já se contam actividades capazes de influenciar a forma como as escolas agem relativamente às comunidades que servem. Na Comissão Pedagógica do Centro estão reunidos responsáveis das escolas – desde os jardins de infância até às secundárias – e só a existência desses encontros constitui um facto novo e importante, para estabelecer pontes entre as diversas realidades.

Ainda mais rica é a existência do Centro se pensarmos que através dele se estabelecem ligações entre o ensino público e o ensino privado, entre o ensino não superior e superior.

É. por tudo isso. absolutamente indispensável que a escola assuma a sua quota parte de direcção das actividades do Centro e que cada professor assuma a sua formação continua.

Centro pode promover todas as acções de formação mútua e participa (que os professores proponham em cada escola e em cada grupo. Quer isto dizer que o Centro não pode ser uma realidade distante dos professores e escola, para que a formação se. centrada na escola, e não pode ser uma realidade estranha que presta um serviço necessário mas estranho e decidido por estranhos. O Centro é um meio que os professores podem utilizar. Não pode servir de desculpa para não fazer o que é verdadeiramente preciso e sentido como tal pelos colectivos dos professores. É preciso que os professores tomem em mãos a actividade do Centro e construam a esperança, contra o desespero de quem diz que "a nossas necessidades de formação são impossíveis de satisfazer" porque outro, o responsável, não consegue adivinhar as nossas estranhas maneiras de ser. Ao Centro nenhuma necessidade de formação é estranha: a cada um compete provar isso.

Há, para além do Centro de Formação da Associação de Escolas, outras entidades formadoras que apresentam o seus menus de formação. Necessária também. Claro. Preocupo-me em esperar que os professores compreendam as diferenças entre o que é nosso e o que não é nosso, entre o que podemos ser nós a determinar e aquilo que nos oferecem para comer e comemos. O prato que preparamos até pode ter o mesmo nome, ser essencialmente a mesma coisa, mas comer em casa é sempre outra coisa. Não é?

Arsélio Martins

Director do Centro de Formação da Associação
de Escolas do Concelho de Aveiro

Aliás, Escola Secundária José Estêvão

 

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