Escola Secundária José Estêvão, n.º 28, Abril de 2002


A Associação de Estudantes da Escola Secundária José Estêvão, convidada a intervir nesta sessão, fá-lo com muita honra e com grande sentido de responsabilidade, pelo facto de estarmos a representar a comunidade, sem a qual todo o processo educativo perderia o sentido, a comunidade
estudantil.

Cento e cinquenta anos de ensino liceal é realmente muito tempo. Foram cento e cinquenta anos a ensinar e a projectar. Cento e cinquenta anos a indicar caminhos, a traçar personalidades, a fornecer valores e conhecimentos, a moldar existências, a ser circunstância.

A história da cidade de Aveiro, confunde-se com a história do ensino liceal em Aveiro. Assim como a história de cada um de nós, Aveirenses ou Aveirenses por adopção, está inteiramente ligada com a história da Escola José Estêvão. Os nossos pais, avós, tios, professores, conhecidos, através das suas reminiscências, foram-nos mostrando um bocadinho destes cento e cinquenta anos, mas como será compreensível é o Liceu contemporâneo que melhor conhecemos e sobre o qual temos credibilidade para falar.

Tendo na abertura à comunidade o seu vanguardismo actual, o Liceu de Aveiro contínua a levar as suas finalidades avante: forma pessoas, cria cidadãos.

A evolução do contexto histórico-social obrigou-o a uma adaptação, mas nem por isso o descaracterizou. Continuou a demarcar-se dos demais, pelo rigor e profissionalismo; pela boa preparação dos seus alunos.

O edifício da nossa escola não foi sempre o mesmo. Passaram por ela inúmeros professores, funcionários e alunos. As mentalidades que percorreram os corredores desta instituição foram diversas; os problemas com que se debateu são diferentes dos problemas com que o Liceu se debate actualmente. Obviamente, o conhecimento actual nada terá haver com o conhecimento de há dez, vinte, cinquenta ou cem anos atrás. O espaço físico da escola transfigura-se de ano para ano; mas tenhamos presente uma coisa: qualquer estudante relembrará sempre a sua escola.

A escola é mais do que o espaço ou a memória de uma fachada. Ela representa o amigo e o professor, a convivência, a irreverência, a aprendizagem, a intervenção, a rejeição ou a aceitação e porque não dizê-lo, o crescimento.

Cada vez mais acreditamos, que a escola será tanto melhor, quanto melhores forem aqueles que a construírem. Devemos ter a capacidade de abstracção suficiente, para reconhecer que o pequeno nada que cada um de nós vive desta instituição, é apenas mais um, entre os inúmeros nadas “vivênciais” - passo a expressão - dos cento e cinquenta anos do Liceu de Aveiro. Orgulhamo-nos do passado mas não vivemos dele ou nele.

Para finalizar um poema da autoria de Carlos Corga:

«Hoje venho falar-te do tempo:
Não,
não é do tempo que faz,
não é do sol ou da chuva, do vento ou do frio.
Hoje venho falar-te do tempo que passa:
Sim,
do tempo de ontem que é já hoje e logo é amanhã.
Daquele tempo que finge mais do que o poeta,
porque finge que não passa
mas afinal sempre passa.
Do tempo que traz a marca de cada um de nós
e que está em todas as coisas.
Do tempo que é a máscara de todos os sonhos,
que é o poeta de cada momento:
Que já foi menino,
que brincou, pulou, correu
e num instante é o nada.
Hoje venho falar-te
para dizer que não olhes para trás
porque esse tempo passou.
Que tens de olhar para a frente
e viver o momento do tempo que é teu.»

 

Discurso de Sara Vieira, Presidente da Direcção da Associação de Estudantes da Escola, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Sessão da Assembleia Municipal Comemorativa dos 150 anos do Liceu de Aveiro.


As caras da Associação de Estudantes em 2001/2002

  

 

 

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