Escola Secundária José Estêvão, n.º 22, Junho de 1998


◄◄◄ No painel de informações da sala de professores estava colocado um texto-panfleto do movimento "sim pela tolerância", a anteceder uma recolha livre de assinaturas. Um professor ou uma professora decidiu roubar as assinaturas dos adultos professores, acrescentando ao panfleto um disparate dactilografado.

Sem dúvida que alguém – publicamente professor e clandestinamente doido – muito desequilibrado e muito doente cambaleia pelos corredores da escola, deixando um rasto de baba cobarde.

As nossas vidas estão marcadas pela clandestinidade. Por uma ideia, por uma crença, por uma dúvida, ainda não há 30 anos, um português podia ser preso. Clandestinamente se distribuíam ideias em papel, se pintavam palavras de ordem, se colavam cartazes. Clandestinas eram as reuniões, as associações, as opiniões, as lutas, a democracia, a liberdade, o direito,... as almas livres. Até o sofrimento da luta para acabar com a clandestinidade foi clandestino. Hoje, as pessoas podem expressar livremente as suas opiniões contraditórias que sejam entre elas e com o regime sufragado e livremente escolhido. Só a lama da ofensa aos direitos humanos fundamentais, só a lama de quem defende organizadamente o retorno ao fascismo ou similar e ao crime organizado em estado é que é proibido pela constituição. Mas até esses falam livremente, sem receio de serem presos.

É intolerável, por isso, que nos roubem as livres assinaturas. É degradante vivermos com quem – um de entre nós, professores – é bicho que rouba as nossas assinaturas. Quem assim procede é um monstro e anseia alimentar-se de almas. Só pode ser um diabo chifrudo, reconhecível pelo cheiro a ideias podres.

Arsélio Martins

 

 

Página anterior Índice de conteúdos Página seguinte

pág. 31