Escola Secundária José Estêvão, n.º 19, Maio de 1997

encontros no secundário

Aveiro

 

No passado dia 6 de Maio, em salas da Secção Autónoma de Gestão e Engenharia Industrial da Universidade, realizou-se o encontro de Aveiro que reuniu professores de escolas de ensino secundário: regulares, artísticas e profissionais; públicas e privadas: de Penacova, Tábua, Oliveira do Hospital e Nelas, Mortágua, Santa Corra Dão, Tondela e Viseu, Cantanhede, Mealhada, Anadia e Oliveira do Bairro, Mira, Vagos e Ílhavo, Estarreja e Ovar, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Vouzela, S. Pedro do Sul e Castro Daire, para além de escolas de Aveiro. Para a realização deste e dos outros encontros foram publicados e distribuídos (embora tardiamente) textos de apoio ao debate, da responsabilidade do Departamento do Ensino Secundário.

A Escola Secundária José Estêvão, responsável pela organização do encontro de Aveiro, seleccionou um conjunto de 25 escolas do território considerado, considerando a distribuição geográfica da rede pública e privada e a diversidade de prestação de serviços de educação e ensino, com representantes das quais reuni, ainda antes de ter sido recebidos os documentos de apoio ao debate. A reunião serviu para estabelecer os constrangimentos do debate, em especial a sua fragilidade resultante do prazo apertado entre o conhecimento dos documentos e a realização do encontro, e para apontar o tema próprio do território 'A Escola & o Mundo do Trabalho'.

A Escola Secundária de José Estêvão manteve contactos com essas escolas e com as restantes, na tentativa de ir esclarecendo pormenores da incipiente organização e promover a participação local de todas as escolas. Realça-se a virtude das escolas seleccionadas que promoveram encontros locais ou incentivaram a discussão e, em vez de nomearem representantes exclusivos, dinamizaram a presença de representantes das diversas escolas e sensibilidades das localidades. Este facto demonstra a necessidade sentida e a vontade de troca de opiniões entre as escolas dos diversos sistemas e, só por si, é uma mais-valia da iniciativa neste território.

A organização não encontrou um espaço próprio para realizar um encontro de 100 professores, dentro das escolas do ensino secundário da cidade. Este facto é prova das dificuldades das escolas da cidade de Aveiro e merece alguma reflexão sobre as condições de trabalho (e de reunião) dos professores e estudantes. Prova, por outro lado, a boa vontade da Universidade (ou a boa vontade da Câmara Municipal de Aveiro, pois poda ter sido feito no Cento Cultural e de Congressos, se este não estivesse ocupado por outra realização) e a disponibilidade para apoiar as iniciativas das escolas Secundárias e do Departamento do Ensino Secundário. Resta-nos manifestar o nosso reconhecimento público à Reitoria e aos Serviços de Acção Social da Universidade, bem como aos serviços de cultura da Câmara ou ao Instituto Superior de Contabilidade e Administração que também se propuseram dar solução ao problema da instalação do encontro. / 3 /

Como preparação prévia do encontro, a escola realizou um debate geral por grupos temáticos, antecedido por uma intervenção plenária e concluído com uma apresentação de conclusões por parte dos moderadores e relatores dos grupos de trabalho. No plenário, nos grupos de trabalho temáticos e na apresentação das conclusões participaram a Presidente da Associação de Pais, alunos dos Conselhos Directivo e Pedagógico, para além de colegas de escolas profissionais que entenderam fazer-se representar nesta Iniciativa preparatória. Os representantes da escola foram escolhidos entre os moderadores/relatores de conclusões, a saber: Alcino Carvalho (autonomia), António José Antunes (A escola e o mundo do trabalho), Carlos Alberto Leite (Currículos) e António Luís Matos dos Santos (Estrutura do Ensino Secundário).

Os resultados da discussão sobre o ensino secundário são genericamente pobres se os confundirmos com conclusões e consensos. De facto, não tem havido estudos razoáveis sobre o ensino secundário e as preocupações dos seus "práticos" têm sido tudo menos preocupações reflexivas sobre o sistema em que exercem a sua actividade ou sobre as suas práticas docentes e não docentes e pouco sobre as situações que a vida lhes apresenta. Entre os professores do ensino secundário (cidadãos, também) há os mais variados projectos de sociedade e há as mais variadas, legítimas e alimentadas desconfianças sobre as mudanças (quer por razões de emprego, actualização científica e pedagógica ou mesmo reconversão, quer por razões de política geral);

sobre a criação das novas escolas, das públicas sobre as privadas, das privadas sobre as públicas. das regulares sobre as artísticas e as profissionais e destas sobre as regulares. Nestas condições de ausência de quaisquer hábitos de intercomunicabilidade entre todas as partes intervenientes no ensino secundário e de desconhecimento e desconfiança entre os diversos sistemas, para além da semi-clandestinidade da prestação acumulada de serviços dos professores das escolas regulares nas escolas privadas e profissionais e da existência de professores vindos de outros sectores de actividade, quaisquer consensos seriam milagres, quaisquer conclusões a respeito de caminhos para o futuro do ensino secundário seriam forçosamente resultado de alguma manipulação ou conspiração organizada. O principal mérito deste encontro terá de ser encontrado nele mesmo, na sua existência, no encontro e reencontro de todas as ideias contraditórias num espaço de diálogo (mesmo que como primeiro diálogo de surdos ou diálogo de perguntas em resposta a perguntas). E deve ser realçada a bondade da iniciativa do Departamento do Ensino Secundário (mesmo que empobrecida por diversas desgraças) de dar voz e ouvir os "práticos", sem os quais não há medida de política geral ou particular, tomada ou a tomar, que ganhe sentido e consequência na realidade das escolas.

Publicamos aqui alguns resultados das discussões na escola que foram carreados para o encontro pelos representantes. Representam o estado actual da discussão na escola e devem ser uma base de trabalho para futuras discussões. Não representam posições de qualquer dos órgãos de direcção da escola.
 

 

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