Este
livro de bons nomes não tem a pretensão de abarcar todas as alcunhas que
durante gerações marcaram o quotidiano da nossa Cidade de Aveiro, em
particular nos bairros a norte do canal: na Beira Mar, no Rossio, em Sá,
nas Barrocas e em Esgueira e, a sul, o Alboi, a Pêga, a Misericórdia e a
Fonte Nova. Numa tentativa anterior suscitei a divulgação destas
alcunhas ao que me foi dito que poderia ferir suscetibilidades por os
próprios ou familiares ainda estarem entre nós; ponderando melhor, e
após recolha oral e aprofundado recurso às minhas memórias,
questionei-me "que interesse há em não divulgar o que foi a marca de uma
vida ou vidas de aveirenses: Cagaréus, Ceboleiros e Bicudos?" e conclui
"Nenhum!.." Aquando de uma pesquisa oral fui confrontado com um
extraordinário caderno de folhas soltas onde estão registadas também
muitas alcunhas de família e individuais, escritas em letra de forma
pelo Cagaréu António da Naia Graça e que em tempos recuados também se
preocupou em passar a escrito o que entendia de utilidade cidadã. O
fac-símile correspondente vai fazer parte integrante deste livro, com o
consentimento dos netos Hélder e Olinda, e da sua Família, que,
generosamente, no-lo disponibilizou. Há que registar em livro apropriado
estas dezenas de alcunhas que não raras vezes se substituíram aos nomes
próprios e apelidos e que constituíram, em parceria com o nome próprio
ou isoladamente, o "nome", a identidade, o bom nome. Nos bairros da
cidade, por força de muitos casamentos consumados entre primos próximos
ou afastados, para se distinguirem dos apelidos comuns, alcunhavam-se.
(Roque Gamelas).
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Outras
distinções advinham de sinais: de fisionomia, de personalidade, de
manias, de tiques, e, de modos de ser e de estar, todos muito bem
vincados no dia a dia. A origem apropriada de cada alcunha estava também
relacionada com estórias individuais dos avoengos que passaram de
geração em geração. Não há, nem pode haver, intenção de ferir quem quer
que seja, por muito pejorativa que seja a alcunha, mas tão só não deixar
cair no esquecimento o que marcou o dia a dia e as vivências de uma
comunidade digna, laboriosa e também brincalhona. Por todas as razões
recolhi oralmente de amigos mais velhos e mais novos as alcunhas e
seriei-as por ordem do alfabeto, de modo a serem identificáveis, algumas
intercaladas com estórias de figuras singulares que também foram grandes
figurões, "naquilo que hoje se designa por ciência cidadã." (José Mota)
Este arrolamento de bons nomes e estórias vai ilustrado na capa e âmago
pelo traço inconfundível do Cagaréu Armando Regala, a par do apurado
sentido de humor, que em boa hora aceitou o repto que lhe fiz, e que vem
acrescentar um valor incomensurável às minhas e nossas memórias, bem
como de todos aqueles que se cruzaram nas nossas vidas e que fizeram
cidadania em Aveiro.
Sendo
certo que estará sempre incompleto, aqui ficam registadas estas dezenas
de alcunhas, bem como muitas estórias de aveirenses que se distinguiram
pelo seu amor à nossa cidade.
Dezembro
2019,
Manuel Pacheco
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