Corta as amarras dessa barcaça
Ancorada no cais da tua solidão
Mas antes da largada, escreve;
Escreve versos suaves como folhas verdes
Adejando nas claras primaveras dos jovens
E sulca mares onde, segundo Homero
Ulisses navegou se perdeu e regressou a Ítaca;
Aí, bela ocasião para releres Horácio e Ovídio.
Em Corinto livra-te dos fantasmas de Freud;
Vogarão ainda por aí Édipo e Electra?
Agora já em Delfos “ conhece-te a ti mesmo”
Como dizia Pítia no Templo de Apolo onde profetizava
E hoje não passa de oráculo em tabernas com totós
Como os nossos “Je sais tout” nas TV.s portuguesas
Vertendo baboseiras sobre as guerras que nos sufocam
Bem longe das estratégicas lutas do Peloponeso
Descritas pelo insigne historiador Tucídides.
Sobe ao Parténon e de alma cheia revê o teu poema
Agora já sem o lustroso brilho das letras
Mirradas que estão como a face tisnada dos velhos
E sepulta-o sem as cerimónias fúnebres e sem o luto
No sopé do monte Parnaso
Julho de 2025 |