Velório

 

Em vigília nesta longa noite
E na ilusão de ver um amanhecer
Para doirar as searas estioladas
Fui acreditando, numa sem razão
Que este denso manto seria breve;
Erro meu, parolice, má avaliação
Pois o dia despontou em tristeza
E a manhã ficou toldada de nuvens;
Os campos continuam ressequidos
Os rios parecem veias sem sangue
E nas árvores os corvos não poisam,
Apenas o eco do canto dos galos
Ainda se repercute pelos valados.


Deixo a vigília e passo a velório
Desta morte tão breve, dolorosa
Sofrida no sufoco e no embuste
Das insistentes mentiras enfáticas
Deslumbres de inépcia e insipiência
Ataques à sorrelfa e cumplicidades
Recheadas com a facúndia manhosa
A eleger a gosma, a facilidade, o lúdico
Com a trapaça abraçada à impunidade
Num arrebatamento de glória célica
Como se fosse um conto de fadas.

Março de 2023

 

 

03-03-2023