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1ª edição, Aveiro, Edição do Clube dos Galitos, 1960, página 63 a 67.


Secção Náutica

TRÊS décadas, mesmo na vida de uma pessoa, representam um mundo de factos, um nunca acabar de recordações, uma imensidade de pequenas histórias; avalie-se o que não sucederá com a Secção Náutica, sabido como é que ao longo da sua existência tem desenvolvido uma actividade intensíssima e por vezes fulgurante.

Não podemos, por isso mesmo, ter a pretensão de se condensar em meia dúzia de linhas o que daria para preencher bastantes volumes. Daí a breve referência a muitos acontecimentos dignos de amplo desenvolvimento, reservado para momento mais oportuno.

Perde-se nos tempos a data do início da prática desportiva no nosso meio, onde, e desde sempre, foi notória a preferência pelos desportos náuticos.

E nem se estranhe que tal suceda, pois «Nós, os de Aveiro, somos feitos, dos pés à cabeça, de Ria, de barcos, de remos, de velas, de montinhos de sal e de areia, até de naufrágios...» — como magistralmente disse um dia esse aveirense insigne que foi D. João de Lima Vidal.

Há na verdade nesta luminosa cidade o culto da água, talvez por ela traduzir fielmente a nossa maneira de ser — límpida, serena e constante, como as consciências, a expressão de sentimentos e as convicções dos aveirenses.

... Estamos em 1924, numa época em que o hoje extinto «Ginásio Clube» e o moribundo «Clube Mário Duarte» disputavam memoráveis regatas no Canal das Pirâmides, perante o entusiasmo de centenas de pessoas que dentro de si tinham o «bichinho» da água. / 64 /


Uma equipa de Shell de 4 seniores.

/ 65 / Alguns desses interessados espectadores eram, além de aveirenses, «Galitos» da mais pura cepa; e parecia-lhes quase um sacrilégio que «o seu Clube» andasse afastado da Ria, dos barcos, dos remos...

Homens de acção, d'antes quebrar que torcer, Luís da Naia, Manuel Félix, Armando Madail e António Pinheiro depressa concluíram que aquele estado de coisas não devia manter-se e mais rapidamente ainda resolveram arranjar dinheiro para um barco e... «experimentar».

Mas como do sonho à realidade a distância é enorme, enormes foram as dificuldades que tiveram de vencer para conseguir o tão desejado barco.

Acabaram por obtê-lo, e ei-los remando com vigor, mas sempre com o coração apertado, não fosse alguma estaca desmancha-prazeres destruir a «menina dos seus olhos».

Àquelas, outras boas vontades se juntaram — o Coronel Amílcar Gamelas, António Morais da Cunha, Alberto Casimiro e José Maria Monteiro — e em 5 de Janeiro de 1926 surgia finalmente a Secção Náutica, já com forma legal, com gente, mas sem dinheiro.

Com um sorteio de um rádio que «nunca ninguém chegou a ver», com o dividendo de algumas acções adquiridas com o lucro da referida iniciativa e com a sua bolsa particular, esses oito jovens (como o tempo passa!...) compraram um «yolle», o primeiro barco de corrida da Secção.

Logo, em 19 de Junho de 1926, a equipa «galinácea» cantou d'alto, vencendo uma prova e a respectiva taça. Era o começo...

No ano seguinte, a mesma tripulação — Luís da Naia (timoneiro e treinador), Manuel Félix e Armando Madail — repete a proeza, deixando para trás os valorosos representantes das outras agremiações citadinas.

Entretanto, o «yolle», em consequência da sobrecarga de trabalho a que o forçava o interesse dos praticantes, ia-se desconjuntando.

Sem barco, cansado o corpo e a bolsa dos seus maiores entusiastas, a Secção «hibernou» até 1938.

/ 66 / Nesse ano quebra-se a letargia em que se havia caído, e sempre os mesmos, agora com a ajuda João Morais Sarmento, Carlos Aleluia, António da Costa Ferreira e Primo da Naia Pacheco, de novo a Ria se movimenta com os barcos dos Galitos.

Sob a orientação de Luís da Naia, recomeçam os treinos e nem os insucessos das primeiras provas conseguem abater o ânimo da gente do Remo.

Trabalha-se com método, com ordem, com vontade. Como corolário lógico, em 1940, vence-se o Campeonato Regional de Yolles de 4 e o Nacional de Skiff. Era a confirmação...

Depois os triunfos sucedem-se numa cadência impressionante, a Cidade acredita e ajuda, e em 1942, na Figueira da Foz, uma tripulação do Clube dos Galitos, representando Portugal, vence os primeiros Campeonatos Ibéricos. Era a consagração!

José Lino (timoneiro), Manuel Matos, Amadeu Moreira, João de Sousa e José Velhinho conquistam a honra de serem os primeiros internacionais do Clube dos Galitos. Atrás deles, outros, muitos outros, 26 ao todo!


Depois de um treino, um quatro feminino de remo dos Galitos, entre os seus devotados monitores, evoca um passado inesquecível.

/ 67 / De então para cá, a Secção Náutica torna-se o mais gritante cartaz de propaganda de Aveiro, chega a ser o melhor «embaixador» do Desporto Português, como aconteceu nas Olimpíadas de Londres em 1948, nos Campeonatos Europeus de 1950, na Regata internacional de Roma em 1950, nos Campeonatos Peninsulares de 1942, 1945, 1947, 1948 e 1950, nas Regatas Internacionais da Figueira da Foz, em 1958.

Dentro do mais rigoroso amadorismo, os remadores do Clube dos Galitos, em representação de Portugal, exibem-se em Espanha, França, Itália, Finlândia e Noruega, sempre se comportando de modo a merecerem as elogiosas referências da crítica especializada e os louvores encomiásticos das entidades oficiais.

Os aveirenses não são ingratos — jamais poderão esquecer ou retribuir o que a Secção Náutica do Clube dos Galitos tem feito em prol da sua Cidade e do Desporto Nacional. Ela bem merece de todos

uma palavra de estímulo,
um gesto de auxílio,
um muito Obrigado!

 


 

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