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David Christo - A homenagem que tardava

Quinta-feira, 19 de Novembro de 1998 – pág. 9 Paula Ventura

A Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro (FBDA) vai homenagear David Christo. Uma iniciativa considerada prioritária na altura da tomada de posse da actual direcção e que se concretizará no próximo sábado, integrada nas comemorações dos 90 anos dos Bombeiros Novos de Aveiro. «Uma grande responsabilidade», reconhece José Valente, presidente da Federação. Os lançamentos do livro «In Memoriam», de uma medalha comemorativa e de um prato da Vista Alegre, são apenas alguns dos pontos altos desta homenagem. Por proposta da FBDA, a autarquia aveirense decidiu também dar o nome de David Christo à rua até agora conhecida por Rua da Lota.

Todas as corporações do distrito vão associar-se a esta homenagem participando num desfile que tem como objectivo «testemunhar a David Christo toda a consideração e gratidão dos Bombeiros do distrito». Para levar por diante esta ideia, a comissão responsável pela organização desta homenagem pediu a colaboração das pessoas que, de uma forma ou de outra, tiveram a oportunidade e o privilégio de travar conhecimento e amizade com o advogado aveirense. «Chamámos os homens que estiveram ligados a David Christo na época de 1960/70» altura em que se realizou, em Aveiro, o Congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses. Uma reunião «revolucionária para a vida dos Bombeiros, em Portugal», na qual David Christo desempenhou um papel de fundamental importância. Foi graças ao «seu amor aos Bombeiros e à sua forma de estar apaziguadora que se alcançou o espírito de partilha e entreajuda que hoje se vive entre as corporações». Uma mudança que havia de marcar para sempre a vida dos Bombeiros portugueses.

Na conferência de imprensa para apresentação desta homenagem, o ex-comandante dos Bombeiros de Oliveira de Azeméis recordou os encontros que antecederam o Congresso de 1970 em Aveiro como «umas reuniões de amigos, uns jantares e uns passeios dos quais nada resultava». Graças ao empenho de David Christo surgiram teses previamente preparadas e comissões organizadas. Ainda hoje, realça Ramiro Alegria, os congressos decorrem nos moldes defendidos por David Christo, em 1970. Foi também graças a ele «que se lançou a semente para a criação de uma estrutura de coordenação dos Bombeiros», no fundo, o pontapé de saída para o actual Serviço Nacional de Bombeiros. Mas a homenagem organizada pela Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro tem ainda como objectivo mostrar aos aveirenses e à comunidade em geral o trabalho desenvolvido por David Christo nas diversas áreas em que este se notabilizou. É que para além de exercer advocacia e de ser um excelente orador, participava activamente na vida dos clubes da cidade, o Beira Mar e o Galitos, tendo sido também dirigente da Associação de Futebol de Aveiro; era um amante das obras de arte, que não só coleccionava, como também produzia: pintava, esculpia, fotografava, e tudo com invejável mestria. O resultado do seu talento era acessível apenas a um restrito grupo de amigos.


«Um esbanjador de talento»

Nas palavras de Gaspar Albino, ex-presidente da direcção dos Bombeiros Novos de Aveiro, David Christo foi «um esbanjador de talentos». Certo de que esta homenagem vai constituir «uma autêntica revelação» para muita gente, Gaspar Albino recorda a grande influência que o advogado exerceu na geração de 1960, em Aveiro. «Era um purista, um perfeccionista nos seus múltiplos talentos», que passavam pela pintura, fotografia e escultura. Já para não falar nos seu dotes de orador, qualidade «a que se ficou a dever muito do sucesso que acabaria por ter o 19º Congresso dos Bombeiros de Portugal», durante o qual conseguiu convencer os vários comandantes das vantagens do estabelecimento de uma efectiva cooperação entre as várias corporações; tudo por conta da sua enorme capacidade de persuasão. Uma realidade que acabaria por ser imitada um pouco por todo o país. «Ele usava a palavra com todo o peso, conta e medida até conseguir transmitir aos outros tudo aquilo que sentia».

Domingos Cerqueira também deixou o seu testemunho sobre David Christo, seu familiar e amigo. Para o presidente da direcção dos Bombeiros Velhos de Aveiro, ele terá sido «um dos dois ou três aveirenses mais talentosos de sempre». Por isso, Domingos Cerqueira tem dificuldade em perceber o porquê deste «alheamento da cidade perante esta figura memorável». «Aveiro tem assistido a tantas homenagens, nos últimos anos, ao baptismo de tantas ruas com nomes de tanta gente com mérito duvidoso, que até reconhecia não gostar de Aveiro e não se fala de David Christo». Domingos Cerqueira arrisca uma explicação. «Ele tinha uma coisa de que os políticos não gostavam dizia-se anarca; por isso, nunca alinhou por nenhuma força partidária, apesar dos muitos convites». Mas ainda bem, diz, porque «lá onde estiver, estará com certeza feliz por esta homenagem ter partido dos Bombeiros».


O programa


O programa desta homenagem a David Christo começa por volta das 9 horas da manhã com o hastear das bandeiras (nacional, da Federação, da cidade e da corporação), ao som da fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Estarreja. Segue-se a missa de sufrágio por David Christo, na igreja da Misericórdia, numa celebração do Reverendo João Gonçalves.

Para as 11 horas está marcada uma romagem à campa do homenageado, no cemitério central. O programa para a manhã de sábado termina com uma recepção e um almoço com as entidades convidadas.

A homenagem prossegue a partir das 14 horas com a concentração das corporações e descerramento da placa toponímica "Av. Dr. David Christo", (ex-Rua da Lota), na presença de um pelotão dos Bombeiros do distrito e da Banda Amizade.

Às 16:30 abre portas a exposição de trabalhos do homenageado, uma mostra que vai ficar patente no salão nobre do Teatro Aveirense. Ainda antes da sessão solene de homenagem, marcada para as 17h, no Teatro Aveirense, procede-se ao lançamento do livro «In Memoriam».

 

 

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