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Avenida Central no segundo quartel do século XIX. Clicar na imagem. |
Lourenço
Peixinho foi o responsável pela abertura da principal avenida de Aveiro,
que dava acesso rápido e directo ao comboio. Exerceu, gratuitamente, as
funções de presidente da Câmara e, como médico, ganhou fama de João
Semana. As várias obras e iniciativas que concretizou fizeram dele uma
figura ímpar, digna de registo na toponímia local.
Obra
iniciada em Maio de 1918, a avenida do Dr. Lourenço Peixinho veio
imprimir a Aveiro um aspecto citadino e moderno. Uma zona de campos de
erva, de milho, de leguminosas e de gramíneas transformou-se, no segundo
quartel deste século, num autêntico espaço comercial, urbanizado e
bastante procurado pela população de todo o distrito.
Todo o
comprimento da actual avenida foi desaterrado com poucos recursos
financeiros e processos técnicos rudimentares. Vagonetas sobre carris
eram empurradas por homens que tinham também como tarefa cavar a terra à
enxada, à picareta e à pá.
Situando-nos de costas para a actual “ponte-praça", e de olhos postos na
estátua ao Soldado Desconhecido, deparamo-nos com a encantadora
perspectiva de uma longa e larga artéria − a principal avenida da
cidade. No topo vislumbra-se a estação dos Caminhos de Ferro, construída
devido ao impressionante crescimento ferroviário da época. De grande
valor arquitectónico para a cultura regional, o edifício da Estação tem
as paredes revestidas por uma riquíssima colecção de painéis de azulejos
com motivos históricos, etnográficos e monumentais.
Inicialmente, Aveiro não estava contemplada com a passagem da linha
férrea, devido às dificuldades de a aproximar de uma zona muito húmida e
lagunar. Porém, as insistências do grande tribuno aveirense, José
Estêvão, conduziram à alteração do percurso, finalizado em 1864.
A
necessidade de um acesso rápido e directo à linha férrea foi a razão de
ser da Avenida do Dr. Lourenço Peixinho.
Teve
anteriores designações, tais como: Avenida 16 de Maio, fazendo alusão a
uma data histórica no percurso da Liberdade – movimento político de 16
de Maio de 1828 – que custou a vida a alguns aveirenses ilustres,
recordados na toponímia local e que ficaram conhecidos como “Mártires da
Liberdade”; e, também, Avenida Central, obviamente, por razões contidas
na sua designação.
A avenida
inicia-se com o edifício da Capitania do Porto de Aveiro. Mandado
construir, em 1830, por José Ferreira Pinto Basto (fundador da fábrica
da Vista-Alegre), foi já um velho moinho de marés, um armazém de
laranjas, uma oficina de tanoeiro, a sede do Clube dos Galitos, a
Companhia Aveirense de Navegação e Pescas e, também, a Escola de Desenho
Industrial. O projecto para as novas instalações da Escola foi da
autoria de Francisco Augusto da Silva Rocha. Era a melhor do País! Foi
expropriada, em 1926, pelo Ministério da Marinha, passando a funcionar
neste prédio, desde então, a Capitania. Hoje, património classificado,
encontra-se em obras de recuperação, devido ao seu avançado estado de
degradação.
No
primeiro andar do actual Centro Avenida, ficava o Ginásio Clube de
Aveiro, frequentado apenas pela alta sociedade aveirense. No rés-do-chão
havia um armazém de mercearias e bacalhau, pertencente à sociedade
Clemente, Vieira e Lau, Lda. Ao lado deste estabelecimento encontrava-se
a Garagem Trindade.
Logo em
seguida ficava uma casa de mercearias, tabacos e cervejas, propriedade
do Sr. Ulisses Pereira, e a Padaria Bijou. No primeiro andar, por cima
da padaria, funcionava o "clube chique" da cidade − o Clube Mário
Duarte. Aí organizavam-se bailes e festas em que era obrigatório "vestir
a rigor".
Bonito
todo aquele aparato! Escusado será dizer que apenas a alta sociedade
tinha livre acesso.
Os dois
prédios foram expropriados, para mais tarde darem lugar às instalações
do Banco de Portugal, a funcionarem até há muito pouco tempo.
Do outro
lado da avenida, no edifício do Banco Espírito Santo existiu o Café
Avenida, muito frequentado. O estabelecimento cobria toda a área do
Banco e era totalmente envidraçado, permitindo uma excelente panorâmica
para o exterior.
Interessa
ainda assinalar a vivenda do Eng.º Pascoal, com características de “casa
portuguesa”, que já existia antes da avenida ser rasgada. Após a sua
morte, foi doada à fundação com o mesmo nome.
Até 1930,
na Avenida do Dr. Lourenço Peixinho pouco mais existia que os referidos
edifícios.
Hoje…
alguns problemas
De acordo
com as várias opiniões de moradores e comerciantes, a avenida deveria
ser asfaltada e substituído o actual piso de paralelo.
As
árvores, grandes demais, são, por sua vez, desapropriadas para o local.
As suas raízes destroem os passeios e a própria estrada, pondo em
risco, assim, a circulação de pessoas e veículos. O lixo, provocado pelo
cair das folhas, bem como os dejectos dos pássaros que ali poisam, fazem
da avenida um cenário pouco atractivo, em termos ambientais.
O
estacionamento, problema constante em qualquer zona da cidade, melhorou
com a introdução de áreas de parqueamento e com a utilização do cartão
de utente para os moradores. Alguns destes defendem a inclusão de uma
placa toponímica a meio da Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, afim de
evitar “enganos" por aqueIes que se movimentam na cidade.
As
opiniões dividem-se, quanto ao possível encerramento ao trânsito da
principal artéria da cidade. O facto de ser a rua mais comercial de
Aveiro é um dos argumentos apresentados pelos defensores da ideia;
outros há que a rejeitam, por considerarem que esta via é fundamental
para a circulação rodoviária.
Relativamente às construções
de grande valor arquitectónico, histórico e patrimonial existentes na
avenida, é pertinente lançar um alerta que previna contra a tentação de
se vir a descaracterizar aquela que é considerada como a principal
artéria da cidade. |