AVENIDAS, RUAS, PRAÇAS E LOCAIS DE AVEIRO

Avenida

do Dr. Lourenço Peixinho

Quinta-feira, 28 de Outubro de 1998 – pág. 15 Marta Duarte

Avenida Central no segundo quartel do século XIX. Clicar na imagem.

Lourenço Peixinho foi o responsável pela abertura da principal avenida de Aveiro, que dava acesso rápido e directo ao comboio. Exerceu, gratuitamente, as funções de presidente da Câmara e, como médico, ganhou fama de João Semana. As várias obras e iniciativas que concretizou fizeram dele uma figura ímpar, digna de registo na toponímia local.

 

Obra iniciada em Maio de 1918, a avenida do Dr. Lourenço Peixinho veio imprimir a Aveiro um aspecto citadino e moderno. Uma zona de campos de erva, de milho, de leguminosas e de gramíneas transformou-se, no segundo quartel deste século, num autêntico espaço comercial, urbanizado e bastante procurado pela população de todo o distrito.

Todo o comprimento da actual avenida foi desaterrado com poucos recursos financeiros e processos técnicos rudimentares. Vagonetas sobre carris eram empurradas por homens que tinham também como tarefa cavar a terra à enxada, à picareta e à pá.

Situando-nos de costas para a actual “ponte-praça", e de olhos postos na estátua ao Soldado Desconhecido, deparamo-nos com a encantadora perspectiva de uma longa e larga artéria − a principal avenida da cidade. No topo vislumbra-se a estação dos Caminhos de Ferro, construída devido ao impressionante crescimento ferroviário da época. De grande valor arquitectónico para a cultura regional, o edifício da Estação tem as paredes revestidas por uma riquíssima colecção de painéis de azulejos com motivos históricos, etnográficos e monumentais.

Inicialmente, Aveiro não estava contemplada com a passagem da linha férrea, devido às dificuldades de a aproximar de uma zona muito húmida e lagunar. Porém, as insistências do grande tribuno aveirense, José Estêvão, conduziram à alteração do percurso, finalizado em 1864.

A necessidade de um acesso rápido e directo à linha férrea foi a razão de ser da Avenida do Dr. Lourenço Peixinho.

Teve anteriores designações, tais como: Avenida 16 de Maio, fazendo alusão a uma data histórica no percurso da Liberdade – movimento político de 16 de Maio de 1828 – que custou a vida a alguns aveirenses ilustres, recordados na toponímia local e que ficaram conhecidos como “Mártires da Liberdade”; e, também, Avenida Central, obviamente, por razões contidas na sua designação.

A avenida inicia-se com o edifício da Capitania do Porto de Aveiro. Mandado construir, em 1830, por José Ferreira Pinto Basto (fundador da fábrica da Vista-Alegre), foi já um velho moinho de marés, um armazém de laranjas, uma oficina de tanoeiro, a sede do Clube dos Galitos, a Companhia Aveirense de Navegação e Pescas e, também, a Escola de Desenho Industrial. O projecto para as novas instalações da Escola foi da autoria de Francisco Augusto da Silva Rocha. Era a melhor do País! Foi expropriada, em 1926, pelo Ministério da Marinha, passando a funcionar neste prédio, desde então, a Capitania. Hoje, património classificado, encontra-se em obras de recuperação, devido ao seu avançado estado de degradação.

No primeiro andar do actual Centro Avenida, ficava o Ginásio Clube de Aveiro, frequentado apenas pela alta sociedade aveirense. No rés-do-chão havia um armazém de mercearias e bacalhau, pertencente à sociedade Clemente, Vieira e Lau, Lda. Ao lado deste estabelecimento encontrava-se a Garagem Trindade.

Logo em seguida ficava uma casa de mercearias, tabacos e cervejas, propriedade do Sr. Ulisses Pereira, e a Padaria Bijou. No primeiro andar, por cima da padaria, funcionava o "clube chique" da cidade − o Clube Mário Duarte. Aí organizavam-se bailes e festas em que era obrigatório "vestir a rigor".

Bonito todo aquele aparato! Escusado será dizer que apenas a alta sociedade      tinha livre acesso.

Os dois prédios foram expropriados, para mais tarde darem lugar às instalações do Banco de Portugal, a funcionarem até há muito pouco tempo.

Do outro lado da avenida, no edifício do Banco Espírito Santo existiu o Café Avenida, muito frequentado. O estabelecimento cobria toda a área do Banco e era totalmente envidraçado, permitindo uma excelente panorâmica para o exterior.

Interessa ainda assinalar a vivenda do Eng.º Pascoal, com características de “casa portuguesa”, que já existia antes da avenida ser rasgada. Após a sua morte, foi doada à fundação com o mesmo nome.

Até 1930, na Avenida do Dr. Lourenço Peixinho pouco mais existia que os referidos edifícios.

 

Hoje… alguns problemas

 

De acordo com as várias opiniões de moradores e comerciantes, a avenida deveria ser asfaltada e substituído o actual piso de paralelo.

As árvores, grandes demais, são, por sua vez, desapropriadas para  o local. As     suas raízes destroem os passeios e a própria estrada, pondo em risco, assim, a circulação de pessoas e veículos. O lixo, provocado pelo cair das folhas, bem como os dejectos dos pássaros que ali poisam, fazem da avenida um cenário pouco atractivo, em termos ambientais.

O estacionamento, problema constante em qualquer zona da cidade, melhorou com a introdução de áreas de parqueamento e com a utilização do cartão de utente para os moradores. Alguns destes defendem a inclusão de uma placa toponímica a meio da Avenida do Dr. Lourenço Peixinho, afim de evitar “enganos" por aqueIes que se movimentam na cidade.

As opiniões dividem-se, quanto ao possível encerramento ao trânsito da principal artéria da cidade. O facto de ser a rua mais comercial de Aveiro é um dos argumentos apresentados pelos defensores da ideia; outros há que a rejeitam, por considerarem que esta via é fundamental para a circulação rodoviária.

Relativamente às construções de grande valor arquitectónico, histórico e patrimonial existentes na avenida, é pertinente lançar um alerta que previna contra a tentação de se vir a descaracterizar aquela que é considerada como a principal artéria da cidade.

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, vendo-se também a Rua de Viana do Castelo, Clicar para ampliar.

 

Avenida Dr. Lourenço Peixinho em «Aveiro Diacrónico».

 

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