Aida Viegas, Rios de Fogo e Madrugadas de Luz, 1ª ed., Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, 2009, 76 pp., ISBN 978-972-8675-18-9

Prefácio

Unem-me à autora deste livro momentos de partilha buscados na som­bra do tempo, percursos de mãos dadas em alguns espaços da estrada da vida, a descoberta e a afirmação em uníssono, de um mesmo credo...

Por isso ela me deu a ler os seus poemas. Volto a ficar-lhe em dívida por este gesto que ainda para mais é um dos tais que deixam marca!

Ao voltar cada página, ao saborear cada poema, adivinhar cada rima, sentir cada palavra, vão ganhando forma, para o leitor, os contornos da sua alma, a sua capacidade de amar de dizer o amor.

A par, pela sua mão, vai-se adivinhando a vida na sua essência.

Qual bailarina alada, ela vai rodopiando no palco da vida, ora deliciada com a beleza e estonteada com a luz, ora prostrada ao peso da amargura da soli­dão e aos vincos da dor.

Lado a lado sempre, a vivacidade dos sentimentos e a esteticidade dos traços deixados pelas palavras.

Faz a apologia da fé e o elogio do sonho e do afecto, canta a saudade e a esperança, interroga o desalento, o ódio e o desamor, questiona a vida em noite escura; em alerta, lembra a brevidade aos passantes...

Busca na memória das vivências e para além dela a fonte dos seus gestos, a harmonia dos sons o calor das cores, o prazer dos aromas e dos sabores.

Como a água dos rios mata a sede e o calor do fogo aquece e ilumina, ler os seus poemas, leva o leitor a momentos de paz e bem-estar. Ficaremos com ela como clara luz nas madrugadas inseguras e amena companhia nas tardes som­brias.

Para a autora a minha admiração e muita estima.

Helena Serra Fernandes Porto, Outubro de 2008
 


Sendo a dualidade parte intrínseca de todo o ser humano, encontrando-­se o bem e o mal no seu âmago e à sua volta e permanentemente se contrapondo e defrontando, é exigido de cada um, uma vontade forte, uma vigilância perma­nente para que o bem prevaleça.

Caminhamos por entre Rios de Fogo e Madrugadas de Luz numa alter­nância nem sempre constante e nunca totalmente controlável por nós.

É anseio supremo seguir ileso, usufruir os benefícios do fogo e da luz, gozar o seu calor e brilho, evitando no entanto ser molestado. Urge obstar a que o fogo passe de bênção a maldição queimando, quando a sua função deverá ser aquecer e confortar com seu calor.

Quanto à luz, permitamos-lhe que rompa as trevas, ilumine e guie os nossos passos, nunca que nos ofusque ou encandeie, o que poderá ser-nos fatal.

Tal como o fogo, a luz, a água, e tantos outros elementos da natureza, também o amor, que à partida é bem supremo, poderá deparar-se-nos como pa­decimento, bálsamo ou ferro em brasa, nem sempre sob o controlo do peito que o alberga.

A arte de viver assenta na nossa livre escolha, que indubitavelmente nos coloca no fio da navalha.

O poeta salta sem rede, porque o sonho o suporta.

O equilíbrio é perfeito quando o coração do poeta que escreve bate em uníssono com o coração do poeta que lê.

Aida Viegas


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