Unem-me à
autora deste livro momentos de partilha buscados na sombra do
tempo, percursos de mãos dadas em alguns espaços da estrada da
vida, a descoberta e a afirmação em uníssono, de um mesmo
credo...
Por isso ela
me deu a ler os seus poemas. Volto a ficar-lhe em dívida por
este gesto que ainda para mais é um dos tais que deixam marca!
Ao voltar
cada página, ao saborear cada poema, adivinhar cada rima, sentir
cada palavra, vão ganhando forma, para o leitor, os contornos da
sua alma, a sua capacidade de amar de dizer o amor.
A par, pela
sua mão, vai-se adivinhando a vida na sua essência.
Qual
bailarina alada, ela vai rodopiando no palco da vida, ora
deliciada com a beleza e estonteada com a luz, ora prostrada ao
peso da amargura da solidão e aos vincos da dor.
Lado a lado
sempre, a vivacidade dos sentimentos e a esteticidade dos traços
deixados pelas palavras.
Faz a
apologia da fé e o elogio do sonho e do afecto, canta a saudade
e a esperança, interroga o desalento, o ódio e o desamor,
questiona a vida em noite escura; em alerta, lembra a brevidade
aos passantes...
Busca na
memória das vivências e para além dela a fonte dos seus gestos,
a harmonia dos sons o calor das cores, o prazer dos aromas e dos
sabores.
Como a água
dos rios mata a sede e o calor do fogo aquece e ilumina, ler os
seus poemas, leva o leitor a momentos de paz e bem-estar.
Ficaremos com ela como clara luz nas madrugadas inseguras e
amena companhia nas tardes sombrias.
Para a autora
a minha admiração e muita estima.
Helena Serra Fernandes Porto,
Outubro de 2008
Sendo a
dualidade parte intrínseca de todo o ser humano, encontrando-se o
bem e o mal no seu âmago e à sua volta e permanentemente se
contrapondo e defrontando, é exigido de cada um, uma vontade
forte, uma vigilância permanente para que o bem prevaleça.
Caminhamos por
entre Rios de Fogo e Madrugadas de Luz numa alternância nem
sempre constante e nunca totalmente controlável por nós.
É anseio
supremo seguir ileso, usufruir os benefícios do fogo e da luz,
gozar o seu calor e brilho, evitando no entanto ser molestado.
Urge obstar a que o fogo passe de bênção a maldição queimando,
quando a sua função deverá ser aquecer e confortar com seu calor.
Quanto à luz,
permitamos-lhe que rompa as trevas, ilumine e guie os nossos
passos, nunca que nos ofusque ou encandeie, o que poderá ser-nos
fatal.
Tal como o
fogo, a luz, a água, e tantos outros elementos da natureza, também
o amor, que à partida é bem supremo, poderá deparar-se-nos como
padecimento, bálsamo ou ferro em brasa, nem sempre sob o controlo
do peito que o alberga.
A arte de viver
assenta na nossa livre escolha, que indubitavelmente nos coloca no
fio da navalha.
O poeta salta
sem rede, porque o sonho o suporta.
O equilíbrio é
perfeito quando o coração do poeta que escreve bate em uníssono
com o coração do poeta que lê.
Aida Viegas |