Aida Viegas, O Tempo das Delícias (poesia), Cucujães, 1999, p. 57.

Fingir

Fingir
É erro, defeito,
É farsa, enredo, traição.
Mas fingir
Poderá ser
Habilidade,
Artimanha
De iludir o coração.

Fingir
É ignorar,
Disfarçar ou esconder,
Um erro nosso ou alheio.
É julgar tapar o Sol
Por engano ou por receio.
É querer dar o que não temos
Fazer do óbvio a surpresa.
É mostrar um rosto alegre
Tendo no peito a tristeza.
Fingir é tentar esquecer
Agruras que a vida oferece,
Mostrar o que não se sente,
Volver feliz quem padece.

Fingir
Por vezes sera
Abusar do sentimento,
Despertar a compaixão,
Pedir socorro num grito,
Tentando agarrar exausto
A tábua da salvação.

Ó solenes fingidores!
Não sei se exalte ou condene
Estranha arte que ostentais,
A emboscada que armais,
Onde caís e enredais
Aquele que vos não teme.


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