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Palavras murchas *

Precisava de um molhinho de palavras
Poucas
Para fazer um poema
Palavras com brilho
Com força, com cor.

Procuro reuni-las
Espantoso!
Fogem quais estrelas cadentes.
Só me restam palavras:
Murchas, desbotadas, tortas.

Assim não posso fazer um poema.

Rebusco nas prateleiras - vazias
Reviro as gavetas – em vão
Desdobro as toalhas de linho
Só palavras ocas.

Para onde foram as palavras?
Porque me deixaram
Assim perplexa, abandonada?

Ouço o vento gritar:
– Fugiram.
As trevas dizer:
– Sumiram-se na bruma
Rompo as trevas:
– Vinde
Não deixarei que ninguém
Vos maltrate.

Silêncio é a resposta.

Assim não posso fazer um poema.

No bolso, no bolso,
Lembrei-me agora,
Tenho uma meia dúzia.
Não chegam
E, já estão secas
Vou semeá-las
E no tempo da colheita
Terei palavras novas.

Então… poderei fazer o meu poema.
 

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Poema publicado na 1ª Antologia de Poetas Lusófonos editada pela Folheto em 15/12/2007, em Leiria.


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