A forma dos
dias - a Júlio Resende e Vasco Branco
O azul era
de fogo. Mas devo começar
pelo barro que amassa as formas da amizade
antes das cores que saem do forno
depois da cozedura. Saem com música de rádio,
risos no pincel e a leveza da tinta:
a do branco seixo, já que o mar debrua a cidade
e salpica de sal o brilho mais escuro.
Um abraço à porta modelado com a cor dos dias
e dos dias que virão de mansinho com os tecos
a dançar nos dedos, o recuo do corpo
que continua a dança até ao fim do barro,
antes da espera que seca a forma crua.
De um ao outro, a tinta se espalha com palavras
e silêncio cúmplice do corpo em movimento
até ao cume da terra e aos confins do ar.
É sempre o horizonte quando a peça entra no forno:
grande fogo é o azul, o preto é de mestre,
o zarcão, o seixo branco sob a pele
até ao sol absoluto, à explosão das cores
que jorram da fogueira nos olhos espantados.
A paleta cresce como cresce o amor
no trabalho das mãos em cada fruto.
Rosa Alice Branco |