Enigma

 

No princípio eram duas gotas de orvalho
Em oscilações fulgentes como olhos de gato
Duas faixas de luz na escuridão da noite;
Uma delas valsando como um anjo azul
Carregava consigo não só o enigma
Mas também o dilema ambos por decifrar;
Foi com esse estigma que abriste a clausura
Numa timidez de quem vai soltar um segredo
Petrificado e preso na língua por um medo
Que fabrica aquela frieza de murchar rosas
E de congelar rúbidas e aveludadas pétalas.
A recuperação dos desejos perdidos era a luz
O lampião que vindo da lonjura das estrelas
Guarda as memórias de todo o amor vivido
Em miríficos sonhos na essência dos regaços.
E nós dois na esperança de reaver a perda
Em deambulações entre o enigma e o dilema
Perdidos na curva do afecto que nos sufocava
Só nos restava voltarmos ao princípio das coisas:
Gotas de orvalho a baloiçar na serenidade
Da brisa amiga das madrugadas sem fim.

                          Outubro de 2025

 

 

06-10-2025