● – A cidade do Negage fica no Norte de Angola, a cerca de 37
quilómetros de Uíje (antiga Carmona, capital provincial), fazendo
parte de um sistema montanhoso com 1.300 metros de altitude.
● – As principais actividades económicas, num passado ainda recente,
eram o cultivo e a secagem do café, a agricultura e a pecuária. No
tempo "colonial" foi uma zona militar por excelência. Nela estavam
estacionados o Aeródromo Base nº. 3; a 3.ª Companhia de Caçadores do
Capitão Xavier; o Pelotão de Apoio Directo n.º 248; o Pelotão de
Artilharia Antiaérea n.º 984; o Pelotão de Intendência n.º 168 ou a
Companhia de Artilharia n.º 749.
●
– Em 1961, o Negage foi das regiões
do Norte de Angola mais atingidas pela barbárie do terrorismo,
ficando toda a zona a ferro e fogo. Muita gente ainda sentirá o
pânico de terem visto passar nas ruas verdadeiras hordas de
bandidos, armados com canhangulos e catanas, arcos e flechas, para
além das armas que iam roubando das Fazendas que haviam atacado
indistintamente.
● – Nas imediações do Negage ficam os municípios do Quitexe, Puri e
Bungo, também eles martirizados pelo terrorismo.
● – Contam-se muitas histórias acerca da figura de João Ferreira, um
mítico caçador e o maior produtor agrícola do Negage, entre as quais
a que evocamos no parágrafo seguinte.
Por
ser um homem desmesuradamente podre de rico, contava-se que
pretendia mandar confeccionar um fato com a pele de um, dois ou três
negros. Evidentemente que isto não é mais do que uma das muitas
lendas contadas acerca dele, propaladas talvez por facções do MPLA,
que nele viam um inimigo. Transmontano ricaço, pai de miríades de
filhos, brancos, pretos e mulatos, com mais netos do que a aldeia
poderia suportar, dizia-se que comprava hotéis só para mandar os
directores para o desemprego. E tantas outras fantasias, que fazem
de João Ferreira alguém, cuja vida deveria ser pesquisada e dada a
conhecer.
● – No sentido Negage-Camabatela,
logo à saída da cidade, no local onde a estrada faz uma bifurcação
com o acesso a Uíje, encontra-se o impressionante aglomerado
populacional da Aldeia da Missão Católica do Negage.
Existiam, igualmente, dois estádios, um pertencente ao Grupo
Desportivo do Negage; o outro, ao Sporting Clube do Negage, ambos
situados à saída da cidade pelo lado da Capoupa, já na estrada para
o Quisseque e o Pinganho, onde também havia um campo de Tiro, com
fosso olímpico, prancha Trapp, várias máquinas de lançamento de
pratos, etc.
● – Sabe-se que, actualmente, por iniciativa dos vários sectores da
sociedade angolana, entre os quais o governo do MPLA, está a ser
implementada a reconstrução da cidade, em todos os parâmetros das
necessidades locais e com a abertura de novas valências comerciais e
industriais. O café, um produto reconhecido nas quatro
partidas do mundo, já não será o "OURO NEGRO" de que tanto se
orgulhava Angola. Mas as feridas da guerra vão cicatrizando,
lentamente, e, quem sabe, talvez a região volte a conhecer o
desenvolvimento que tinha.
Victor Manuel Antunes Ferreira Elias
Sargento Ajudante (Reformado)
victormafelias@gmail.com
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