16º Festival Nacional de Folclore e 9º Internacional - 8 de Julho de 2000 – pp. 45 a 49

 

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré foi fundado no dia 1 de Setembro de 1983, com o propósito de defender os usos e costumes dos nossos antepassados, isto é, dos que habitaram as Gafanhas desde o século XVII, conforme rezam algumas crónicas de escritores e estudiosos que à região dedicaram e continuam a dedicar algumas páginas de reconhecido interesse.

Dada a localização das Gafanhas, que são banhadas pela Ria e pelo Mar, apenas existia ligação por terra com Vagos e Mira, pelo que todos os usos e costumes foram influenciados pelas gentes daquelas localidades.

Aveiro e Ílhavo não tiveram influência nos usos e costumes das gentes das Gafanhas devido à grande dificuldade que existia nas ligações, visto que as mesmas / 46 / só podiam ser efectuadas por barco.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, consciente da necessidade de fazer uma pesquisa metódica e honesta, colocou «mãos à obra» e hoje orgulha-se de poder apresentar o fruto de todo o seu trabalho. A escritura pública dos seus estatutos aconteceu em 11 de Julho de 1986, no Cartório Notarial de Ílhavo. É sócio efectivo da Federação do Folclore Português e inscrito no INATEL.

A região das gafanhas – Beira-Litoral – era habitada por gente humilde, entregue com denodo à transformação das dunas improdutivas em terras férteis. É esta gente simples que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré tenta representar o mais fielmente possível.

A prova de que todo o trabalho de recolha e apresentação tem sido feito com muito cuidado está nos números gravados pela R.T.P. para o filme «Os Pescadores» de Raul Brandão, nos inúmeros festivais em que tem participado, nas deslocações ao estrangeiro, e muito em especial, na Medalha de Mérito Cultural atribuída pela Câmara Municipal de Ílhavo ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré começou as actuações em 1985, tendo realizado nesse mesmo ano primeiro Festival de Folclore. Em 1988 deslocou-se a França para actuar nas cidades de Rouillac, Angoulême, Cognac e La-Rochelle, tendo visitado novamente este país em 1990.

Realizou diversas exposições no salão da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré subordinadas a diversos temas etno-folclóricos, bem como uma outra, composta por 6 carros, sobre a vida dos gafanhões no início do século XVII, integrada no 5º Festival.

Em 1993 organizou o / 47 / I colóquio etno-folclórico subordinado ao tema "Gafanhas: Usos, Costumes e Tradições" e em 1998 o II colóquio orientado segundo o tema "A pesca do bacalhau – O que foi?".

Em 1999 organizou o 4º Encontro de Cantares de Janeiras.

Em 1993 houve mais uma saída ao estrangeiro, neste caso à Alemanha, em 1996 a Itália – Sicília, e em 1995 e 2000 a Espanha – Múrcia.

Por oito vezes participaram nos Festivais grupos de folclore vindos do estrangeiro, que a tornaram os respectivos festivais internacionais.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é, desde Fevereiro de 1995, Associação de Utilidade Pública. Em 1997 editou um CD e mais uma cassete.

Em 1998 teve participação em diversos espectáculos na EXPO'98, e em 1999 no Festival Internacional dos Açores, com actuações em diversas ilhas.

O repertório do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é composto por danças e cantares que representam a dureza do desbravamento das areias. As danças são normalmente de roda, simples como o povo que as criou e belas pela simplicidade que possuem.

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DANÇAS:

Águas do Rio: Homenagem ao único rio que desagua na Ria de Aveiro.

Arrais do Barco: Moda dançada por lavradores e pescadores quando iam e voltavam dos trabalhos da ria, tais como a apanha do moliço e o transporte de sal das eiras para os barcos.

Borde-Gaio: Moda Cantada e dançada por pessoas que normalmente vinham pagar as suas promessas ao seu santo devoto e que se chamavam "novenas". / 48 /

Cana Verde: Moda de roda, de corte às raparigas com mandador e contra-mandador.

Castanheira: Moda de roda de corte às raparigas.

Chula: Moda dançada e cantada no fim de cada dia de trabalho, nas marinhas de sal.

Ciranda: Moda de roda de corte às raparigas.

Desgarrada: Cantava-se aos Domingos e Dias-Santos nas eiras. É cantada com quadras soltas ao desafio.

É Mais Um Pirata: Moda que se dançava e cantava no final das novenas.

Fado: Moda cantada por mulher, acompanhada, por viola e violão, que é também dança de roda. Muito em uso por volta de 1900/1910 e que se foi perdendo em beneficio dos clubes de dança que iam aparecendo.

Farrapeira: A mais antiga, trazida das zonas de Vagos, Mira e Areão. É uma dança mandada, dançada nas eiras em fins de tarde com quadras soltas.

Laurindinha: Moda que remonta aos primórdios da Gafanha. Era uma homenagem aos namorados.

Madrugada: Dança de roda simples.

Malhão: Moda cantada e dançada em homenagem às pessoas que nesta região se implantaram para a transformação dos areais.

Menina: Moda de roda com a particularidade de não ser tocada, mas só cantada e dançada.

Parreirinha: Moda que se dançava depois de certos trabalhos, como o cortar dos tremoços bravos.

S. Paio da Torreira: Moda que representa a romaria para a Torreira, que normalmente se fazia em bateiras e barcos moliceiros (S. Paio).

Serraninha: Moda que se dançava depois dos serões das rasgadelas de tiras.

Teu Lindo Par: Moda usada pelos rapazes para fazerem a corte às raparigas.

Tirana: Moda de roda dançada depois das ajuntadelas para o fabrico de adobos. / 49 /

Vassourinha: Moda de ritmo muito vivo que se dançava aos domingos nas eiras.

Vira de Ir Ao Meio: Moda que foi transmitida de geração em geração, onde se juntavam lavradores, pescadores e marnotos em festas e romarias.

Vira de Quatro: Moda dançada com dois pares onde se tenta demonstrar a agilidade dos dançarinos.

Vira do Pescador: Moda que representa a expressão de uma das artes dos habitantes desta terra.

Vira Gaiteiro: Moda dançada e cantada nas marinhas da nossa região, possivelmente no fim de um dia de trabalho.

Vira Sem Parar: Moda dançada nas festas e romarias pelos foliões e cuja origem se perde no tempo.

EM PREPARAÇÃO: Vira de Oito; Ó laranja ó limão.


CÂNTICOS:

Cantar das almas: Canto com alguma representação, pois inclui mais objectos. Cantado de porta em porta pela noite dentro.

Criação do Mundo: Canto religioso e popular que já tem sido cantado em diversas missas em que o Grupo tem participado.

 

 

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