11º Festival Nacional de Folclore (5º Internacional) - 15 de Julho de 1995 – pp.  27 a 31

 

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré foi fundado no dia 1 de Setembro de 1983, com o propósito de defender os usos e costumes dos nossos antepassados, isto é, dos que habitaram as Gafanhas desde o século XVII, conforme rezam algumas crónicas de escritores e estudiosos que à região dedicaram e continuam a dedicar algumas páginas de reconhecido interesse.

Dada a localização das Gafanhas, que são banhadas pela Ria e pelo Mar, apenas existia ligação por terra com Vagos e Mira, pelo que todos os usos e costumes foram influenciados pelas gentes daquelas localidades.

Aveiro e Ílhavo não tiveram influência nos usos e costumes das gentes das Gafanhas devido à grande dificuldade que existia nas ligações, visto que as mesmas só podiam ser efectuadas por barco.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, consciente da necessidade de fazer uma pesquisa metódica e honesta, colocou "mãos à obra" e hoje orgulha-se de poder apresentar o fruto de todo o seu trabalho. A escritura pública dos seus estatutos aconteceu em 11 de Julho de 1986, no Cartório Notarial de Ílhavo e é sócio efectivo da Federação do Folclore Português e inscrito no INATEL.

A região das Gafanhas – Beira-Litoral – era habitada por gente humilde, entregue com denodo à transformação das dunas improdutivas em terras férteis. É esta gente simples que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré tenta representar o mais fielmente possível.

A prova de que todo o trabalho de recolha e / 28 / apresentação tem sido feito com muito cuidado está nos números gravados pela R.T.P. para o filme "Os Pescadores" de Raul Brandão, nos inúmeros festivais em que tem participado, nas deslocações ao estrangeiro, e muito em especial, na Medalha de Mérito Cultural atribuída pela Câmara Municipal de Ílhavo ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré começou as actuações em 1985, tendo realizado nesse mesmo ano o seu primeiro Festival de Folclore. Em 1988 deslocou-se a França para actuar nas cidades de Rouillac, Angoulême, Cognac e La-Rochelle, tendo visitado novamente este país em 1990.

Realizou diversas exposições no salão da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré subordinadas a / 29 / diversos temas etno-folclóricos, bem como uma outra, composta por 6 carros, sobre a vida dos gafanhões no início do século XVII, integrada no 5º Festival.

Em 1993 organizou o I colóquio etno-folclórico subordinado ao tema "Gafanhas – Usos, Costumes e Tradições".

Em 1993 houve mais uma saída ao estrangeiro, neste caso à Alemanha.

Por quatro vezes participaram nos Festivais grupos de folclore vindos do estrangeiro, que assim tomaram os respectivos festivais internacionais.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é, desde Fevereiro de 1995, Associação de Utilidade Pública.

O reportório do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é composto por danças e cantares que representam a dureza do desbravamento das areias. As danças são normalmente de roda, simples como o povo que as criou e belas pela simplicidade que possuem.

 

Farrapeira – A mais antiga, trazida das zonas de Vagos, Mira e Areão. É uma dança mandada, dançada nas eiras em fins de tarde com quadras soltas.

Vira do Pescador – Expressão de uma das artes dos habitantes desta terra.

Águas do Rio – Homenagem ao único rio que desagua na Ria de Aveiro.

Vira de Ir Ao Meio – Moda que foi transmitida de geração em geração, onde se juntavam lavradores, pescadores e mamotos em festas e romarias.

Desgarrada – Cantava-se aos Domingos e / 30 / Dias-Santos nas eiras. É cantada com quadras soltas ao desafio.

S. Paio da Torreira – Moda que representa a romaria para a Torreira que normalmente era feita em bateiras e barcos moliceiros (S. Paio).

Vira de Quatro – Dançada com dois pares onde se tenta demonstrar a agilidade dos dançarinos.

Borde-Gaio – Cantada e dançada por pessoas que normalmente vinham pagar as suas promessas ao seu santo devoto e que se chamavam "novenas".

Laurindinha – Moda que remonta aos primórdios da Gafanha. Era uma homenagem aos namorados.

Vira Sem Parar – moda dançada nas festas e romarias pelos foliões e cujas origens se perdem no tempo.

Teu Lindo Par – Moda também usada para os rapazes fazerem a corte às raparigas.

Vira Gaiteiro – Moda dançada e cantada nas marinhas da nossa região, possivelmente no fim de um dia de trabalho.

Chula – Moda dançada e cantada no fim de cada dia de trabalho, nas marinhas de sal.

Malhão – Moda cantada e dançada em homenagem às pessoas que nesta região se implantaram para a transformação dos areais.

Tirana – É uma dança de roda dançada depois das ajuntadelas para o fabrico de adobos.

Serraninha – É uma moda que se dançava depois dos serões das rasgadelas das tiras.

Menina – Uma moda de roda que tem a particularidade de não ser tocada, mas só cantada e dançada.

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Castanheira – Uma dança de roda.

Arrais do Barco – Uma moda dançada por lavradores e pescadores quando iam e voltavam dos trabalhos na ria, tais como a apanha do moliço e o transporte de sal das eiras para os barcos.

Parreirinha – Moda que se dançava depois de certos trabalhos, como o cortar dos tremoços bravos.

É Mais Um Pirata – Moda que se dançava e cantava no final das novenas.

Laranja – Moda de roda que se dançava no final do trabalho.

Fado – Moda cantada por mulher, acompanhada por Viola e violão, que é também uma dança de roda. Muito em uso por volta de 1900/1910 e que se foi perdendo em benefício dos clubes de dança que iam aparecendo.

Cantar das Almas – É um canto com alguma representação, pois inclui mais objectos. Era cantada de porta em porta pela noite dentro.

Criação do Mundo – É um canto religioso e popular que já tem sido cantado em algumas missas folclóricas em que o Grupo tem participado.

Vassourinha – Dança de roda de ritmo muito vivo que se dançava aos domingos nas eiras.

Nas Fitas do Avental – Dança de roda, alegre e simples.

Cana Verde – Dança de roda, mandada com mandador e contra-mandador.

EM PREPARAÇÃO Vira de Oito; Ciranda.

 

 

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