10º Festival Nacional de Folclore - 16 de Julho de 1994 – pp. 30 a 35

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré foi fundado no dia 1 de Setembro de 1983, com o propósito de defender os usos e costumes dos nossos antepassados, isto é, dos que habitaram as Gafanhas desde o século XVII, conforme rezam algumas crónicas de escritores e estudiosos que à região dedicaram e continuam a dedicar algumas páginas de reconhecido interesse.

Dada a localização das Gafanhas, que são banhadas pela Ria e pelo Mar, apenas existia ligação por terra com Vagos e Mira, pelo que todos os usos e costumes foram influenciados pelas gentes daquelas localidades.

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Aveiro e Ílhavo não tiveram influência nos usos e costumes das gentes das Gafanhas devido à grande dificuldade que existia nas ligações, visto que as mesmas só podiam ser efectuadas por barco.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, consciente da necessidade de fazer uma pesquisa metódica e honesta, colocou "mãos à obra" e hoje orgulha-se de poder apresentar o fruto de todo o seu trabalho. A escritura pública dos seus estatutos aconteceu em 11 de Julho de 1986, no Cartório Notarial de Ílhavo e é sócio efectivo da Federação do Folclore Português e inscrito no INATEL.

A região das Gafanhas – Beira-Litoral – era habitada por gente humilde, entregue com denodo à transformação das dunas improdutivas em terras férteis. É esta gente simples que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré tenta representar o mais fielmente possível.

A prova de que todo o trabalho de recolha e apresentação tem sido feito com muito cuidado está nos números gravados pela RTP para o filme "Os Pescadores" de Raul Brandão, nos inúmeros festivais em que tem participado, nas deslocações ao estrangeiro, e muito em especial, na Medalha de Mérito Cultural atribuída pela Câmara Municipal de Ílhavo ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré começou as actuações em 1985, tendo realizado nesse mesmo ano o seu primeiro Festival de Folclore. Em 1988 deslocou-se a França para actuar nas cidades de Rouillac, Angoulême, Cognac e La-Rochelle, tendo visitado novamente este país em 1990.

Realizou diversas exposições no salão da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré subordinadas a diversos temas / 32 / etno-folclóricos, bem como uma outra, composta por 6 carros, sobre a vida dos gafanhões no início do século XVII, integrada no 5º Festival.

Em 1993 organizou o I colóquio etno-folclórico, subordinado ao tema "Gafanhas: Usos, Costumes e Tradições".

Em 1993 houve mais uma saída ao estrangeiro, neste caso à Alemanha.

Por três vezes participaram nos Festivais grupos de folclore vindos do estrangeiro, que assim tornaram os respectivos festivais internacionais.

O reportório do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré é composto por danças e cantares que representam a dureza do desbravamento das areias. As danças são normalmente de roda, simples como o povo que as criou e belas pela simplicidade que possuem.


Farrapeira: A mais antiga, trazida das zonas de Vagos, Mira e Areão. É uma dança mandada, dançada nas eiras em fins de tarde com quadras soltas.

Vira do Pescador: Expressão de uma das artes dos habitantes desta terra. 

Águas do Rio: Homenagem ao único rio que desagua na Ria de Aveiro. 

Vira de Ir Ao Meio: Moda que foi transmitida de geração em geração, onde se juntavam lavradores, pescadores e marnotos em festas e romarias.

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Desgarrada: Cantava-se aos Domingos e Dias-Santos nas eiras. É cantada com quadras soltas ao desafio.

S. Paio da Torreira: Moda que representa a romaria para a Torreira que, normalmente, era feita em bateiras e barcos moliceiros (S. Paio).

Vira de Quatro: Dançada com dois pares onde se tenta demonstrar a agilidade dos dançarinos.

Borde-Gaio: Cantada e dançada por pessoas que normalmente vinham pagar as suas promessas ao seu santo devoto e que se chamavam "novenas".

Laurindinha: Moda que remonta aos primórdios da Gafanha. Era uma homenagem aos namorados.

Vira Sem Parar: moda dançada nas festas e romarias pelos foliões e cujas origens se perdem no tempo.

Teu Lindo Par: Moda também usada para os rapazes fazerem a corte às raparigas.

Vira Gaiteiro: Moda dançada e cantada nas marinhas da nossa região, possivelmente no fim de um dia de trabalho.

Chula: Moda dançada e cantada no fim de cada dia de trabalho, nas marinhas de sal.

Malhão: Moda cantada e dançada em homenagem às pessoas que nesta região se implantaram para a transformação dos areais.

Tirana: É uma dança de roda dançada depois das ajuntadelas para o fabrico de adobos.

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Serraninha: É uma moda que se dançava depois dos serões das rasgadelas das tiras.

Menina: Uma moda de roda que tem a particularidade de não ser tocada, mas só cantada e dançada.

Castanheira: Uma dança de roda.

Arrais do Barco: Uma moda dançada por lavradores e pescadores quando iam e voltavam dos trabalhos na ria, tais como a apanha do moliço e o transporte de sal das eiras para os barcos.

Parreirinha: Moda que se dançava depois de certos trabalhos, como o cortar dos tremoços bravos.

É Mais Um Pirata: Moda que se dançava e cantava no final das novenas.

Laranja: Moda de roda que se dançava no final do trabalho.

Fado: Moda cantada por mulher, acompanhada por viola e violão, que é também uma dança de roda. Muito em uso por volta de 1900/1910 e que se foi perdendo em beneficio dos clubes de dança que iam aparecendo.

Cantar das Almas: É um canto com alguma representação, pois inclui mais objectos. Era cantada de porta em porta pela noite dentro.

Criação do Mundo: É um canto religioso e popular que já tem sido cantado em algumas missas folclóricas em que o Grupo tem participado.

Vassourinha: Dança de roda de ritmo muito vivo que / 35 / se dançava aos domingos nas eiras.

Ó Prima Que Vou P'ra Guerra: Dança de roda, alegre e simples.

EM PREPARAÇÃO: Vira de Oito; Ciranda; Caninha Verde;

 

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