Corria o ano de 1760 quando os primeiros colonos se instalaram, de costas para o mar, em terrenos encharcados e pantanosos, impróprios para o que quer que fosse... pensava-se então; mas esta gente de garra, cedo sentiu que não podia permanecer nessa obstinada posição e logo se convenceu que o futuro desta terra, denominada Gafanha, estaria na ria que os beijava mansamente.

É o pulso da mulher Gafanhoa, meã de altura, que mais luta dia-a-dia por melhor vida. O fruto dessa luta deu semente, tornou a florescer e a Gafanha nos primeiros anos deste século sobe a povoação, saída, assim, duma vida sem rasgos nem história.

O charco de então, adubado com o próprio lodo que lhe servia de berço, algas e moliço, torna-se numa terra produtiva. O Gafanhão começa a ter esperança, trabalhando-a afanosamente.

O homem no seu moliceiro, de proas elegantes pintadas com cores vivas e decoradas com dizeres e figuras maliciosas, lá vai andando mansamente entre os canais colhendo o moliço que irá adubar as terras. De feições duras, curtidas pelo sol, belo corpo de qual bronze talhado a cinzel, é assim o Gafanhâo.

É a «Mulher da Gafanha» símbolo de trabalho, de sacrifício, de poupança, de coragem e abnegação. Nem o belo sol que a aquece e a suave brisa que a refresca lhe adoça a dura batalha sem tréguas, nem limite de esforços que na sua luta constante arranca à Ria a terra que o mar enfurecido, por vezes, quer roubar.

A Gafanha da Nazaré foi o local escolhido, desde antanho, para porto de pesca. E dessa pesca, costeira e longínqua, começaram a aparecer as grandes empresas pesqueiras que, encostadas lado a lado, são o grande «forte» desta terra.

A «Mulher da Gafanha» do charco fez vida; o Gafanhão da ria tirou o seu pão e ambos, lutando, venceram!

Maria Armanda Grangeon

 

 

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