Acesso à hierarquia superior.

 

Por momentos, o peixe quase se liberta do anzol; é grande, muito grande mesmo, e debate-se loucamente; ali em cima, deve-o pressentir, está o fim de toda a sua vida, das migrações para melhores águas, da caça, da fuga desenfreada / 29 / ante a avidez dos grandes esqualos. Mas o pescador, «bicheiro» firme nas mãos calejadas, não o deixa escapar; o seu brio de bom pescador também está em causa e sente pesar em si, ameaçadores, os olhares duros de dois ou três camaradas. Que o peixe, se fugisse, podia também arrastar o cardume atrás de si!

O peixe, fora de água, deixa de se debater; já não está no seu elemento. É içado; ainda estrebucha longa e violentamente no convés, até se aquietar numa resignação que confrange, os grandes olhos vidrados, as barbatanas batendo levemente.

A certa altura, todo o convés está repleto; o sangue escorre e é espalhado em todas as direcções.

– Mais isca! Depressa! – ainda gritam alguns.

Mas o peixe já rareia; uns mortos, outros saciados, do cardume pouco resta.

Ainda se vê passar, calmo, grave, no seu nadar gracioso, o terrível tubarão; de repente, é a debandada, e a procura doutro cardume começa.

manuel bixirão

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