AO ser criada no nosso Boletim a Secção
Técnica, houve a preocupação de procurar identificar os nossos
leitores com os diferentes ramos de actividade a que a E. P. A. se
dedica e ainda aqueles que lhe possam interessar. Enquadrada neste
espírito, está a Pesca do Atum, a que vamos dedicar algumas palavras
num resumo muito sucinto, dado o pouco espaço de que dispomos,
procurando, todavia, focalizar todos os aspectos desta tão
interessante modalidade.
A pesca do atum tem-se desenvolvido, nos últimos dez
anos, extraordinariamente em todo o mundo, embora ela se faça
especialmente nos oceanos Atlântico e Pacífico, sendo porém aquele o
que mais locais de eleição possui para a prática frutuosa da
actividade, em especial devido às temperaturas das águas, salinidade
e correntes marítimas que o percorrem.
As
nações que mais progressos têm feito e que mais estudos têm
realizado são, sem sombra de dúvida, o Japão e os E. U. A.. Todas as
outras têm caminhado na exploração adoptando os frutos colhidos
pelos dois países indicados.
Falaremos adiante dos vários sistemas usados, mas
antes parece-nos de certo interesse falar um pouco do atum, para a
captura do qual se têm construído frotas enormes, como a do Japão,
que é de várias centenas de navios.
O atum pertence à família dos «Scombridae» e nela podemos destacar
quatro espécies de características diferentes e que também têm
diferente valor comercial:
a) O voador (Germo Alalunga, /
19 / Gmelin) – Atum
de carne branca, caracterizado rudimentarmente por ter a barbatana
peitoral muito comprida. É a espécie de maior valor comercial.
b) O albacora (Neothunnus Albacora, Lowe)
– Atum de carne muito clara. A sua principal característica,
para nós, leigos, é ter amarela a ponta da barbatana dorsal. É uma
espécie muito apreciada, cuja conserva se apresenta com óptimo
aspecto, o que lhe dá um valor comercial muito semelhante ao do
voador.
c) O patudo (Parathunnus obesus, Lowe)
– É um tonídeo de carne rosada, que
podemos caracterizar pelo seu aspecto menos fusiforme que as outras
duas espécies anteriores e ainda por ter o olho bastante grande. É
também apreciada a sua conserva, mas o seu valor comercial não
atinge as cotações do albacora e voador.
d) Atum vulgar ou rabilho (Thunus Thynnus,
Linaeus) – É esta espécie
caracterizada pela coloração vermelha da sua carne e por ter a
barbatana dorsal de coloração azul. É nesta espécie que se têm
encontrado exemplares de maior porte, alguns dos quais com mais de
400 quilos! É, dentro dos tonídeos, o que actualmente menor cotação
obtém no mercado internacional.
Estas são as principais características das quatro mais importantes
espécies de tonídeos.
Das
características gerais da família dos «scombridae», podemos
dizer que são muito vorazes e peixes com um ciclo migratório que
ainda não está completamente definido, embora /
20 / se relacione intimamente com a temperatura,
salinidade das águas e correntes marítimas.
Este ciclo migratório coincide, em parte, com a
deslocação dos peixes de que se alimentam e ainda que fazem as suas
migrações em grandes cardumes.
Vejamos agora como se faz, ou melhor, como tem
evoluído a pesca do atum. Nesta evolução que vamos relatar,
apontamos apenas os períodos em que cada modalidade tem marcado
época, não afirmando que nesses períodos se não praticasse outra
modalidade, embora em pequena escala e, de modo algum, indicando que
a evolução tenha feito desaparecer as outras modalidades.
Armações fixas: São redes enormes que entram pelo mar dentro,
por vezes mais de um quilómetro, com um sistema de labirinto, que
obriga o peixe a nadar para uma armadilha, donde não pode sair.
Usam-se na costa do Algarve, Espanha, Tunísia e
Itália, principalmente.
O seu custo é enorme e apresentam o inconveniente de
apenas poderem capturar o peixe que passa ao seu alcance, isto é,
que navegue dentro do limite da armação.
Vara de salto: É quanto a nós a mais emocionante e das mais
rendosas.
É feita com isca viva e com anzol. Em que consiste?
Os navios pescadores estão dotados com tanques viveiros, onde
armazenam o peixe que vai servir de engodo para a captura de atum.
Os atuneiros fazem a pesquisa, usando, especialmente, vigias e bons
binóculos e, quando avistam um cardume, tentam abordá-lo e fazê-lo
parar junto do barco, lançando isca pela borda fora. Quando o
cardume está bem «atracado», começa a pesca de anzol, iscado também
com isca viva. Quando o cardume é grande e come bem, pode numa hora
fazer-se pesca de 40 ou mais toneladas.
Long-Line – Consiste essencialmente
numa linha horizontal de cerca de 40 quilómetros, com várias linhas
verticais, no extremo das quais são colocados anzóis com isca morta.
Um destes aparelhos tem bóias e balizas de identificação, para
facilmente se fazer a sua recolha.
Este aparelho é lançado ao mar, deixa-se ficar
durante algumas horas e é depois recolhido com um alador especial.
É uma pesca relativamente rendosa, porém mais para
peixe que navega pelo fundo, do que peixe de superfície.
Cerco – É uma modalidade que agora
se está a experimentar / 21 / com bons resultados, dado o seu enorme
rendimento. Consiste em, por meio de rede, cercar o peixe e fechá-lo
dentro da própria rede, tal e qual como para a sardinha.
Nestes apontamentos que acabastes de ler, rabiscados
muito à pressa, apenas quisemos dar uma vaga ideia do que é a pesca
do atum, sem a aprofundarmos, como gostaríamos de fazer e como a
modalidade merece. Esperamos, num futuro não muito longe, estar de
novo convosco e, então, apresentar-vos um estudo mais atraente e
agradável, quer sob o aspecto técnico, quer sob o aspecto literário. |