O local de
nascimento de José Maria Eça de Queirós é, ainda, para alguns, uma
questão em aberto. Certo é que nasceu a 25 de Novembro de 1845,
tornando-se um consagrado escritor português, mundialmente conhecido.
Foi, também, advogado, jornalista e diplomata. Aveiro prestigia uma
figura ímpar da nossa literatura, dando-lhe honras na toponímia local.
A Rua de Eça de
Queirós, da freguesia da Glória, foi uma das mais movimentadas de
Aveiro, durante séculos, porque, ligada à medieva Rua Direita,
constituía o principal e mais directo acesso ao centro da cidade.
Conhecida, em
tempos, por Rua do Espírito Santo, tem, como tantas outras ruas, uma
história que a caracteriza.
Em meados do século
XVI, S. Miguel era a única paróquia existente em Aveiro. Anos mais
tarde, em 1572, com o aumento demográfico, repartiu-se em quatro
freguesias: a da Vera-Cruz, a da Nossa Senhora da Apresentação, a de S.
Miguel e, também, a do Espírito Santo.
A igreja, matriz
desta última freguesia – a do Espírito Santo − deu o nome à rua e ao
largo onde, durante séculos, esteve implantada. Desde 1835, época da
redução das quatro freguesias a duas (Vera-Cruz e Glória), o templo foi
considerado inútil e votado ao abandono pelas autoridades e corporações
administrativas. Totalmente demolido, em 1858, parte dos materiais foram
aplicados na construção da torre sineira da actual Sé. Desapareceu mais
uma igreja, mais um monumento, mais uma identidade histórica!
As razões que
levaram, e ainda levam à destruição de templos e edifícios civis, nem
sempre têm a ver com a sua antiguidade. São, na maior parte das vezes,
razões de natureza política e económica, ou mesmo incúria e ignorância.
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Situado
estrategicamente a meio do
Largo de Luís de Camões
(antigo Largo do Espírito Santo), surge um importante e vetusto chafariz
− o "Chafariz do Espírito Santo" − também conhecido por "Fonte das Cinco
Bicas". A construção teve início em 1870, devido à necessidade urgente
de abastecer de água os moradores da zona. Antes de concluída a obra
(demorou mais de dez anos), a população recorria ao antigo "Chafariz dos
Arcos", por ser aquele que ficava mais próximo.
Enquadrando-se nas
construções "arte nova", a "Fonte das Cinco Bicas" terá sido a primeira
manifestação pública dentro dos novos parâmetros artísticos, em Aveiro.
No centro ergue-se uma alta coluna, rematada por uma águia virada para
norte.
Mas… Voltemos à
nossa incursão pela Rua de Eça de Queirós.
À entrada, do lado
direito, fica a casa "Testa e Amadores". Foi em tempos um grande armazém
de mercearias, também representante da Shell, do Banco Espírito Santo e,
ainda, do Banco Borges & Irmão. Onde hoje se encontra a “Padaria da Sé",
ficava a "Sapataria Leitão", revestida por maravilhosos painéis de
azulejo de fabrico aveirense. Logo a seguir, podemos apreciar uma
vivenda do princípio do século XX. Belo exemplar com características de
"arte nova"! Foi recentemente recuperada, para servir de instalações ao
Tribunal de Família e Menores, ali a funcionar desde o dia 15 de
Setembro.
Frente à moradia
ficava a taberna do Sr. Firmino Silva, mais conhecido por "Violas". Em
direcção ao largo, poder-se-ia encontrar, ainda, outro tipo de
estabelecimentos comerciais: a oficina de reparação de bicicletas do Sr.
Joaquim; a mercearia da Sr.ª Maria Ovídio; o restaurante do Sr. Adriano
Pires; a “Barbearia Pinheiro"; uma padaria; um talho; o "Laurentino
Chapeleiro"; a casa de fotografia do Sr. João Ramos; e a alfaiataria do
Sr. Albano Pereira.
No Largo do Espírito
Santo, havia a casa "Marabuto", que vendia lanifícios e roupa por
medida. Naquele tempo, não havia pronto-a-vestir!
Ainda se podia
deliciar a boca e a vista, com a vistosa fruta e hortaliça, vendidas no
pomar da Sra. Henriqueta.
Mas, o comércio foi
alterado, tornando a rua menos característica, mais urbana.
Hoje... alguns problemas
A Rua de Eça de
Queirós é uma das de maior afluência de circulação rodoviária. Moradores
e comerciantes defendem o arranjo urgente da via. O piso de paralelo é
bastante irregular, tornando-se perigoso. Muitos acidentes ali ocorridos
teriam sido evitados, se a resolução do problema, com vários anos, não
fosse consecutivamente adiado pela autarquia.
Quando chove muito,
a água acumula-se nas bermas e os carros que passam com mais velocidade
ensopam pessoas e montras. A zona fica alagada, inundando vários
estabelecimentos e casas.
Agudizam-se
diariamente os problemas inerentes à falta de estacionamento.
A fonte − principal
elemento caracterizante desta zona da cidade − nem sempre se encontra em
funcionamento. Lamentável!
Como rua antiga que
é, deve merecer especial atenção e carinho, quer por parte do município,
quer por parte da própria população aveirense.
Sabia que…
Há cerca de 70 anos,
apenas havia três automóveis em Aveiro. Mercadorias e pessoas eram
transportadas por carros puxados a cavalos.
Na Rua do Espírito
Santo, passava muito do trânsito que se dirigia para o centro da cidade ou
para a Estação de Caminhos de Ferro. Era o caso do carro da “Fábrica da
Vista Alegre”, que fazia frequentemente o percurso, transportando pipas
cheias de louça destinadas à exportação. O director da fábrica desfilava
muitas vezes pela rua, no seu imponente «Rolls-Royce” com a estridente
buzina. Os comerciantes diziam, em tom de brincadeira, que quando a
gaita abria as goelas até as casas tremiam. |