Ele é um típico aveirense que, entre os passeios
à beira-ria e a leitura, encontra ainda tempo para umas conversas com os
amigos.
O passar do tempo não pareceu afectá-lo e, aos 58 anos,
encontra ainda fortes razões para permanecer um homem simpático,
espirituoso e brincalhão. Nunca jogou nada, além de futebol, nem cartas;
mas é um eterno apaixonado pela vida e por tudo de bom que ela lhe possa
oferecer. Sim, porque nem só de futebol vive o Homem.
Carlos Alberto Pereira Sarrazola nasceu no bairro da beira-mar, em Aveiro, a 14 de Abril
de 1930.
A escola da rua
Foi na
rua, com os vizinhos, que se iniciou na arte do futebol. Os «Pequenos
Azuis» − como eles próprios se intitularam,
devido à cor das camisolas − foram a sua primeira e única escola
desportiva e chegaram mesmo a realizar jogos contra a miudagem de outros
bairros da cidade ou dos arredores.
Aos 17 anos, começou a
treinar com os juniores do Beira Mar, onde acabaria por jogar durante
dois anos sob a orientação do seu primeiro treinador, o inesquecível
Viriato.
Desses tempos, recorda ainda
nomes de colegas e amigos como: Rogério, Fernando Valente, Caçola ou
Charneira, entre muitos.
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Com 19 anos, jogava já nos seniores da equipa aveirense,
mantendo-se aí durante duas épocas, ao fim das quais resolveu abandonar
a cidade natal e tentar a sorte noutras paragens.
Amigo de dinheiro, como ele mesmo reconhece, ao longo da
sua carreira passou por cinco clubes, a citar: Beira Mar,
Montemor-o-Novo, Caldas Sport Clube, Leões de Santarém e Sporting Clube da Covilhã.
Acabaria por dizer adeus ao futebol no seu clube de
origem, ainda a tempo de festejar um primeiro lugar na II Divisão (época
de 1960/61) e a consequente subida
do Beira Mar à I Divisão Nacional.
Em 1962, afasta-se definitivamente dos relvados. Desde então, manteve-se ligado ao Beira Mar; primeiro como empregado de secretaria, depois como secretário permanente, chegando a fazer parte do núcleo dirigente
durante a época de 1980/81.
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O «senhor» do Beira Mar com 25 anos. |
Actualmente, reformado, não deixa de interessar-se pelo "clube do coração", mas prefere
afastar-se de polémicas. É que, nas suas palavras: "este ano poderá vir
a ser difícil para o Beira Mar. António Sousa, meu amigo, arrisca-se a
ter que suportar a incompreensão dos sócios, principalmente se a sorte
também não ajudar."
Ora, bolas!
Carlos Sarrazola conta:
Esta é para o Ronaldo
"Em 1962, quando abandonei o futebol como jogador, já
ganhava 1.800$00 por mês."
Não há rosa sem espinho
"No início da carreira, quando íamos jogar a Espinho, era um sacrificado. Havia lá um jogador que não
me largava, jogava duro e dava-me bastante pancada. Depois, descobri que
tudo se devia a uma confusão de nome entre mim e o meu irmão mais velho,
também jogador de futebol. Era com ele que tinha começado esta «guerrazinha» e eu, por ser Sarrazola, acabei por pagar pelo
que não fIz."
O preço da fama
"Houve uma altura em que, nas crónicas do «Record», na
rubrica «o melhor em campo» era sempre eu quem aparecia. Os meus
companheiros de equipa até já me chamavam «o Melhor». Eu não tinha culpa
de o jornalista ser um grande amigo."
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Equipa de juniores em 1948/49 |
Bons tempos, bons tempos
"Não me esqueço dos almoços saudáveis da equipa quando
íamos jogar longe. O clube tratava de encomendar uma «tachada», normalmente
de arroz com frango e parávamos no pinhal e fazíamos um «pic-nic».
E, até havia quem levasse vinho!" |