Não valerá a pena procurar os motivos que determinam o
Voluntário a tudo deixar e a lançar-se, numa corrida, ao
encontro de uma angústia, quer esta se manifeste e se
materialize por um naufrágio, por um incêndio, por um
desastre, por uma inundação, ou por qualquer situação em que
outros homens e a sua fazenda sofrem e estão sujeitos a
perecer, porque esses motivos não seriam, certamente,
encontrados.
Quem será
capaz de descortinar as razões que levam o Voluntário a
expor-se ao perigo, dando tudo, pondo – quantas e quantas
vezes – a sua vida em risco, sem nada pedirem em troca?...
Não
haverá, ou não há, razões que expliquem a atitude do
Bombeiro Voluntário, mas uma coisa é certa: o Bombeiro
Voluntário é um homem bom e normal da nossa sociedade que
aceitou – sem que nada ou alguém o compelisse –
sacrificar-se pelo seu irmão homem quando este chama por
socorro.
Este
"homem bom", o Bombeiro Voluntário, surgiu na sociedade
portuguesa há um pouco mais de cem anos e de tal modo se
multiplicou que, hoje – poderemos afirmá-lo – constitui a
principal base do socorrismo em Portugal. Hoje, mais de
quatrocentos Corpos de Bombeiros Voluntários, formando um
"pacífico exército" com cerca de 35.000 homens, constituem o
grande esteio do socorrismo no nosso país.
Terá o
cidadão comum consciência desta realidade? Suponho que sim,
embora, por vezes, essa consciência não seja plena. Terá o
cidadão comum consciência de que se o Voluntariado
fenecesse, em Portugal, a sua protecção na emergência
ficaria seriamente afectada, a sua segurança no quotidiano
diminuída e as suas horas amargas
/ p. 54 /
seriam muito mais amargas e dolorosas? Terá o cidadão comum
alguma vez pensado quanto lhe custaria a substituição do
abnegado voluntariado por equipas profissionais de
socorristas? Terá o cidadão comum consciência do quanto cada
vez mais se exige ao Voluntário, pois que com o avanço da
civilização crescem os riscos, em número e agressividade?
Saberá o comum dos cidadãos que em cada dia que passa esse
homem bom que é o Bombeiro Voluntário tem que ser posto ao
corrente de novos perigos que a sociedade civilizada gera e
tem de adquirir conhecimentos sobre novas tecnologias e tem
de estar habilitado a manobrar, com êxito, equipamentos cada
vez mais evoluídos e, portanto, de trato mais exigente?
E o
cidadão de Aveiro, terá ele consciência que vinte e quatro
horas por dia e trezentos e sessenta e cinco dias por ano,
os seus Bombeiros – todos Voluntários – há mais de um século
estão prontos a responderem ao seu apelo de ajuda e de
socorro?
Em 1882
surgiu em Aveiro o primeiro Corpo de Bombeiros Voluntários e
vinte e seis anos depois surgiu o segundo. Porque uns eram,
relativamente à sua fundação, mais velhos e os outros mais
novos, passaram a ser designados, vulgarmente, por Bombeiros
Velhos e por Bombeiros Novos.
Comemora-se, portanto, no corrente ano de 1983, o 75.º
aniversário dos "Bombeiros Novos". Setenta e cinco anos de
serviço, particularmente, à cidade e ao concelho e, quantas
vezes, para além dos limites deste. Setenta e cinco anos de
dádiva e de esforço que constituem como que a razão de ser e
uma obrigação de cada mais e mais eficientemente os
"Bombeiros Novos" estarem aptos a corresponderem às
necessidades, em matéria de socorrismo, da sociedade em que
inserem e são a sua razão de ser.
São
passados setenta e cinco anos durante os quais homens bons e
dedicados, voluntariamente, com farda e sem farda, pois à
retaguarda dos Bombeiros com farda estão sempre os
"Bombeiros sem farda", e sem estes aqueles não podiam
existir – uns após outros se sucederam, arrastando canseiras
e trabalhos, tendo-nos legado esta instituição – a Companhia
Voluntária de Salvação Pública Guilherme Gomes Fernandes –
que temos que sustentar e dignificar no presente e projectar
no futuro.
BOMBEIROS
NOVOS, presente!...
Assim foi
ontem, assim é hoje, assim será amanhã. |