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A Batalha

 
           
 

 

 

ó dentro em pouco, a cidade ainda adormecida, acordará. Contudo, o sol, espreguiçando-se já, refulge com uma intensidade invulgar, numa manhã de anunciação.

É como que um brilho mágico, com cintilações diamantinas, que fere e estilhaça as águas dos canais e dos ladrilhos das marinhas.

Algo de anormal e significativo enche os ares deste dia primaveril, de promissores augúrios.

E eis, que se quebra o encanto. A Boa Nova transpõe num ápice as portas escancaradas do bairro da Beira-Mar, e galga o espaço, levada nas asas alvissareiras das gaivotas, até aos confins da ria.

Então, é o deslumbramento. À recepção dos arautos da mensagem, quais pétalas erguidas simultaneamente, enfunam-se à brisa festiva as velas brancas, nos longes da paisagem, em sinal de regozijo pelo evento. É que a história da Cidade reflecte-se por toda a laguna que a abraça, e onde nasceu numa auréola de sal, há mais de mil anos. O brasão do burgo milenário fica hoje mais rico e enobrecido, com este dia de fulgor resplandecente, irradiado por um diamante em formação, que perfaz sete decénios e meio de existência.

Como primeiramente os hebreus e os gregos, foi D. João I, o de Boa Memória, que instituiu por carta régia datada de 1395, os vigias nocturnos encarregados de efectuar rondas, dar alarme em caso de fogo e combatê-lo, definindo as missões dos carpinteiros de machados e das muIheres para a condução de água. O fundador da dinastia de Avis criava assim os bombeiros portugueses.

Aconteceu neste seu reinado que Portugal alicerçou a independência, ao esmagar os castelhanos em Aljubarrota, onde – entre as hostes portuguesas, sobre o comando do rei e do condestável Nuno Álvares Pereira –, sobressaiu pela valentia e patriotismo, a Ala dos Namorados. Por acção de graças e perpetuação do glorioso feito, mandou o monarca erigir esse majestoso Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

Também vós – Bombeiros Novos, como o rei-bombeiro e a fina flor do seu exército –, com a vossa juventude de sempre e a entrega total ao amor pelo próximo, lograstes vencer a vossa batalha. Foi como que um incêndio gigantesco, devastador, que vos consumia o coração há muitos anos, que finalmente conseguiste dominar, após porfiados e contínuos ataques de denodado esforço e perseverança.

Fruto, pois, de dedicação ímpar, sob a égide do vosso valoroso patrono, também vós – Bombeiros Novos, edificastes o vosso mosteiro: – o Quartel-Sede. Sonho corporizado pelo trabalho árduo e persistente de homens temperados ao calor das labaredas alterosas, ele aí está na grandeza da sobriedade, a simbolizar a pureza de sentimentos do voluntariado. Que, neste momento de júbilo, o vosso exemplo de solidariedade humana se fortaleça ainda mais, e se continue no testemunho que entregardes aos vindouros, porque o exige a Corporação que jurastes servir, e que ostenta o nome glorioso de Guilherme Gomes Fernandes.

 
 

Amadeu de Sousa

 
 

pág. 43

   

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