166
                                                                                                                                                    

 

O concelho tem uma enorme rede de estradas que dão fácil acêsso aos seus diferentes povos e a muitas outras dos concelhos visinhos. E’ sem duvida um dos mais completos em viação.

A pouco tempo de viajem de Anadia fica a importante mata do Bussaco onde, na epoca calmosa, muitos nacionais e estrangeiros buscam as sadias aragens, e dentro do concelho ficam as aguas ferreas de Vale da Mó, na freguezia da Moita, a 3 quilometros a nascente de Anadia, e que teem tido muita concorrencia dos anemicos de varias partes, e as termas da Curía, muito procuradas para as doenças artriticas, cutaneas e estimulantes dos rins, etc. e que são muito semelhantes ás conhecidas aguas de Contrexeville, na França. Estas nossas térmas ficam a 2 quilometros a sudoeste da estação de Mogofores e a menos de um quilometro do apeadeiro das Aguas da Curía, encontrando-se actualmente dotadas de importantes melhoramentos, que tendem a aumentar, como o rico balneario, bons hoteis, etc.

Varias jornais teem havido em Anadia: A Bairrada, Correio da Bairrada, C. Ideal da Bairrada, Voz da Bairrada e as Verdades, os quais pouco duraram, existindo presentemente o antigo orgão progressista, Jornal de Anadia, que apesar de acintosamente ter historiado a jornada da Fogueira de 29 de Agosto de 1909, é hoje uma folha de bom republicanismo, secundando a propaganda feita pelos republicanos, e a Bairrada Livre, orgão retintamente republicano, que está a completar dois anos de existencia, dois anos de luctas pela perfeição do ideal que o fez nascer e que consubstancia, concretisa e reune em si as puras aspirações patrioticas dos que trabalham pelo aperfeiçoamento e libertação da sociedade.

O proprietario deste jornal tem adjunto uma boa tipografia e papelaria.

*

*     *

Anadia tem sído, desde largos tempos, terra de muitos titulares. Segundo os subsidios historicos que temos á mão, o 1.º visconde e 1.º conde de Anadia foi João Rodrigues de Sá e Melo, primeiro senhor donatario desta vila para a possuir em sua vida, da mesma forma que teve a Universidade de Coimbra.

O primeiro destes titules foi concedido por D. Maria 1.ª por carta de 8 de Maio de 1786, precedida do decreto de 24 de Abril do mesmo ano, em atenção aos muitos serviços prestados por seu pae Aires de Sá e Melo, senhor do praso e morgado de Anadia, que lhe suplicou para seu filho as mercês que se dignasse conceder-lhe, sendo elevado a conde em 17 de Dezembro de 1808 pelo principe regente D. João, depois D. João 6.º

 

167
                                                                                                                                                    

 

Foi 2.º conde de Anadia José Antonio de Sá Pereira que se doutorou em Canones aos 19 anos, seguindo depois a carreira diplomatica, e veiu mais tarde a suceder ao 1.º conde de Anadia, seu sobrinho, por decreto 17 de Dezembro de 1812 e carta de 23 de Fevereiro de 1813. – O 3.º conde de Anadia foi Manuel Pais de Sá do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quifel Barbarino, que teve autorisação de usar do titulo por carta de 31 de Agosto de 1822 – O 4.º foi José Maria de Sá Pereira e Menezes Pais do Amaral Almeida e Vasconcelos Quifel Barbarino, filho do 3.º conde e teve o titulo por decreto de 31 de Outubro de 1855. Era muito estimado pelo povo pela forma franca como tratava com ele e tornou-se celebre pela sua vida aventurosa e picaresca, falecendo muito novo, o que foi devéras sentido pelo povo que muito o chorou conforme indica o celebro fado do conde de Anadia – Um dos seus filhos, Manoel Pais de Sá do Amaral Pereira Menezes Quifel Barbarino, foi o 5.º conde de Anadia e faleceu ha poucos anos (1903), tendo sido o herdeiro de todas as honras e dignidades de seu pai.

Outros titulares teem havido, existindo ainda á data da lei da Republica que aboliu os titulos nobiliarquicos, o barão do Cruzeiro em Mogofores (ha pouco falecido), condessa da Foz de Arouce… Famalicão, Marquês da Graciosa e viscondessa de Labra em Mogofores.

*

*     *

Uma particularidade extraordinaria se dá com Anadia: é que sendo uma vila muito populosa, com grande importancia comercial e tudo o mais que já no principio deste artigo dissémos, não é séde de freguezia, e, caso ainda mais engraçado, é que pertence a duas fréguezias, a Moita e Arcos, tendo sido meio ano de cada uma. Segundo os dados mais provaveis foi isto devido a não se poder passar em tempos invernosos para a Moita por causa das enchentes de um rio que vem da serra que passa entre esta vila e aquele logar, tendo de se servir neste tempo da egreja de Arcos para as suas praticas religiosas, ficando pois, a pertencer a ambas as partes.

Anadia teve foral dado em Lisboa por D. Manoel em 21 de Agosto de 1514 e o velho concelho compunha-se apenas das povoações de Anadia, Alfeloas, Vale do Azár e Fatela, a qual já não existe.
 

168
                                                                                                                                                    

 

Em tempos muito remotos houve aqui o hospicio dos frades Antoninos no logar em que é hoje o edificio dos Paços do Concelho e pertencente o senhorio desta vila desde os tempos da primeira dinastia até ao reinado de D. João 3.º aos frades de Santa Cruz, de Coimbra, passando depois para a Universidade onde se conservou até á epoca liberal.

*

*     *

Ha quem afirme que o logar onde hoje está situada a vila era em tempos muito antigos um casal sem importancia habitado por Ana Dias nome que ficou ligado a esta terra, e outros autores dizem que em 1082 já era conhecida por Nadia.

Muitos outros dados historicos ha ainda a respeito desta vila mas perdem-se todos na noite dos tempos.

 

José Nunes Cordeiro.