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O concelho tem uma enorme rede de
estradas que dão fácil acêsso aos seus diferentes povos e a muitas
outras dos concelhos visinhos. E’ sem duvida um dos mais completos
em viação.
A pouco tempo de viajem de Anadia fica a
importante mata do Bussaco onde, na epoca calmosa, muitos nacionais
e estrangeiros buscam as sadias aragens, e dentro do concelho ficam
as aguas ferreas de Vale da Mó, na freguezia da Moita, a 3
quilometros a nascente de Anadia, e que teem tido muita concorrencia
dos anemicos de varias partes, e as termas da Curía, muito
procuradas para as doenças artriticas, cutaneas e estimulantes dos
rins, etc. e que são muito semelhantes ás conhecidas aguas de
Contrexeville, na França. Estas nossas térmas ficam a 2 quilometros
a sudoeste da estação de Mogofores e a menos de um quilometro do
apeadeiro das Aguas da Curía, encontrando-se actualmente
dotadas de importantes melhoramentos, que tendem a aumentar, como o
rico balneario, bons hoteis, etc.
Varias jornais teem havido em Anadia:
A Bairrada, Correio da Bairrada, C. Ideal da Bairrada,
Voz da Bairrada e as Verdades, os quais pouco duraram,
existindo presentemente o antigo orgão progressista, Jornal de
Anadia, que apesar de acintosamente ter historiado a jornada da
Fogueira de 29 de Agosto de 1909, é hoje uma folha de bom
republicanismo, secundando a propaganda feita pelos republicanos, e
a Bairrada Livre, orgão retintamente republicano, que está a
completar dois anos de existencia, dois anos de luctas pela
perfeição do ideal que o fez nascer e que consubstancia, concretisa
e reune em si as puras aspirações patrioticas dos que trabalham pelo
aperfeiçoamento e libertação da sociedade.
O proprietario deste jornal tem adjunto
uma boa tipografia e papelaria.
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Anadia tem sído, desde largos tempos,
terra de muitos titulares. Segundo os subsidios historicos que temos
á mão, o 1.º visconde e 1.º conde de Anadia foi João Rodrigues de Sá
e Melo, primeiro senhor donatario desta vila para a possuir em sua
vida, da mesma forma que teve a Universidade de Coimbra.
O primeiro destes titules foi concedido
por D. Maria 1.ª por carta de 8 de Maio de 1786, precedida do
decreto de 24 de Abril do mesmo ano, em atenção aos muitos serviços
prestados por seu pae Aires de Sá e Melo, senhor do praso e morgado
de Anadia, que lhe suplicou para seu filho as mercês que se dignasse
conceder-lhe, sendo elevado a conde em 17 de Dezembro de 1808 pelo
principe regente D. João, depois D. João 6.º
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Foi 2.º conde de Anadia José Antonio de
Sá Pereira que se doutorou em Canones aos 19 anos,
seguindo depois a
carreira diplomatica, e veiu mais tarde a suceder ao 1.º conde de
Anadia, seu sobrinho, por decreto 17 de Dezembro de 1812 e carta de
23 de Fevereiro de 1813. – O 3.º conde de Anadia foi Manuel Pais de
Sá do Amaral de Almeida e Vasconcelos Quifel Barbarino, que teve
autorisação de usar do titulo por carta de 31 de Agosto de 1822 – O
4.º foi José Maria de Sá Pereira e Menezes Pais do Amaral Almeida e
Vasconcelos Quifel Barbarino, filho do 3.º conde e teve o titulo por
decreto de 31 de Outubro de 1855. Era muito estimado pelo povo pela
forma franca como tratava com ele e tornou-se celebre pela sua vida
aventurosa e picaresca, falecendo muito novo, o que foi devéras
sentido pelo povo que muito o chorou conforme indica o celebro fado
do conde de Anadia – Um dos seus filhos, Manoel Pais de Sá do Amaral
Pereira Menezes Quifel Barbarino, foi o 5.º conde de Anadia e
faleceu ha poucos anos (1903), tendo sido o herdeiro de todas as
honras e dignidades de seu pai.
Outros titulares teem havido, existindo
ainda á data da lei da Republica que aboliu os titulos
nobiliarquicos, o barão do Cruzeiro em Mogofores (ha pouco
falecido), condessa da Foz de Arouce… Famalicão, Marquês da Graciosa
e viscondessa de Labra em Mogofores.
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Uma particularidade extraordinaria se dá
com Anadia: é que sendo uma vila muito populosa, com grande
importancia comercial e tudo o mais que já no principio deste artigo
dissémos, não é séde de freguezia, e, caso ainda mais engraçado, é
que pertence a duas fréguezias, a Moita e Arcos, tendo sido meio ano
de cada uma. Segundo os dados mais provaveis foi isto devido a não
se poder passar em tempos invernosos para a Moita por causa das
enchentes de um rio que vem da serra que passa entre esta vila e
aquele logar, tendo de se servir neste tempo da egreja de Arcos para
as suas praticas religiosas, ficando pois, a pertencer a ambas as
partes.
Anadia teve foral dado em Lisboa por D.
Manoel em 21 de Agosto de 1514 e o velho concelho compunha-se apenas
das povoações de Anadia, Alfeloas, Vale do Azár e Fatela, a qual já
não existe.
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Em tempos muito remotos houve aqui o
hospicio dos frades Antoninos no logar em que é hoje o edificio dos
Paços do Concelho e pertencente o senhorio desta vila desde
os tempos da primeira dinastia até ao reinado de D. João 3.º aos
frades de Santa Cruz, de Coimbra, passando depois para a
Universidade onde se conservou até á epoca liberal.
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Ha quem afirme que o logar onde hoje
está situada a vila era em tempos muito antigos um casal sem
importancia habitado por Ana Dias nome que ficou ligado a esta
terra, e outros autores dizem que em 1082 já era conhecida por
Nadia.
Muitos outros dados historicos ha ainda
a respeito desta vila mas perdem-se todos na noite dos tempos.
José Nunes Cordeiro.
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