161
De aldeia longinqua fumegam as choças,
por entre as montanhas esconde-se o sol,
reco-lhe-se o gado exausto de forças
roendo nos prados o céspede moI?
Um velho encostado a um pau de sanguinho
o monte atravessa pauzado, a vergar;
vacila… uma pedra encontrou no caminho,
e alfim assentou-se para alento tomar.
– Ai disse, que triste!
que
magua, que dó!…
e um
sapo que o ouve,
responde – cró, cró!
Ao Angelus toca… Em noite como esta
queimou-se-me a casa fiquei sem mulher;
do gado da córte já nada me resta,
na terra a semente não vi florescer.
Vendi para o fisco as vinhas e hortas.
O mundo precorro sosinho, a pedir,
e quando não vejo fechadas as portas
açulam-me os cães que fazem fugir,
Canta
sapo, canta,
tu e eu
causamos dó!...
e o
sapo choroso
canta –
cró cró!
Tão sós, na miseria!... Sosinhos na
terra!
tu nela um asilo encontras, eu não;
a ti não te açoitam os ventos da serra,
e eu passo a miseria da vida de um cão.
Nasceste nos montes, nos montes esperas
cantando a teu modo, o teu termo vêr;
descendo dos homens e vivo entre feras
e a morte não vejo se quero morrer.
O
Angelus!... Resemos;
ha
Deus... e um só?!...
EIe
será e o sapo
cantava
– cró, cró!
A noite caindo, a lua alvacenta
nos lividos cumes começa a brilhar;
na mata assombrosa o raio atormonta
e ouve-se ao longe do lobo o uivar.
O pobre do velho, dos anos pesado
ergueu-se da pedra e ao pau se encostou;
por entre as tomeiras, rosnando marchou…
com a
vista seguindo
o pobre
tão só,
o sapo
indolente,
cantava
– cró, cró!
CATÃO SIMÕES.
|