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A paisagem tem um aspecto originalissimo
e belo. Veem-se as salinas ou marinhas de sal, cheias de agua no
inverno, brilhantes como o sal branco, fino e purissimo se é no
verão; ao longe as serras entre neblinas arroxeadas, cobertas de
neve do inverno, e um grande numero de povoações todas muito densas
e pitorescas de Aveiro até Ilhavo e Vista-Alegre.
Na ria andam a toda a hora inumeros
barcos, quasi sempre á vela. Dos barcos da ria de Aveiro, os
principais são os moliceiros muito curiosos pelo seu feitio,
parecendo andarem sempre com a borda debaixo de agua e destinados á
apanha e transporte das algas; os mercanteis ou saleiros,
barcos de bordo alto, espaçosos, para transporte de sal e grandes
cargas e um sem numero de tipos de bateiras para pesca, pescado,
conduções etc.
Ha tambem algumas lanchas a gazolina e a
vapor e muitos barcos particulares, alguns elegantes e muito
velozes.
Passando a ponte em frente á qual fica a
cale da Vila, a Ilha de Sama e praia e mata de S. Jacinto, entra-se
na
Gafanha
A Gafanha é uma povoação recente, hoje
muito rica e populosa, construida sobre as areias que o braço tenaz
e resistente do homem transformou em terras produtivas.
A Gafanha é um exemplo admiravel de
atividade e economia e demonstra bem como toda a duna, desde que
haja adubos que a fertelisem e braços que a trabalhem, é capaz de
produzir. Os terrenos na Gafanha estão muito divididos e atingem já
um preço elevadissimo. As casas são pequenas. Os caminhos são na
propria areia, havendo apenas as estradas macdamisadas de Aveiro á
Barra, da Gafanha a Ilhavo e de Ilhavo á Costa Nova. A Gafanha é,
contudo, uma terra feliz, de tipos loiros fortes, queimados do sol,
onde não ha miseria.
Constitue hoje uma freguezia autonoma,
produz admiravelmente feijão, ervilha, batata, milho, couve, hervas,
pastos, horta etc. Os principais e melhores adubos para estas terras
arenosas e soltas são os moliços, pela quantidade de lama que trazem
e que melhora os terrenos dando-lhes a coesão que falta á areia fina
abandonada pelo mar.
Ao lado direito sobre a ria ficam alguns
estabelecimentos de séca do bacalhau. Em Aveiro e Ilhavo ha hoje
umas 5 parcerias ou sociedades de pesca de bacalhau no Banco da
Terra Nova. Em frente á cale da vila houve estaleiro para construção
e reparação de navios de vela.
Na Barra, as duas praias do Farol e do
Forte
esta com poucas casas, onde se vê ainda a antiga fortaleza e a torre
de sinais. Realisa-se aqui uma festa muitíssimo concorrida na ultima
segunda-feira de setembro. E' o local onde deve vir a ser construida
a Estação de Piscicultura de que a ria tanto necessita para o seu
repovoamento. Na ponte das portas de agoa ha uma corrente
fortissima. E’ por aí que passam todas as águas da ria da Costa Nova
e Mira.
Agueda
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Vista da vila |
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Pateira de Fermentelos |
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Da torre do Forte descortina-se um
panorama surpreendente. Ao norte fica a praia de S. Jacinto,
importante pelas suas pescas maritimas. Nos terrenos alagadiços em
volta do forte, de S. Jacinto e da Costa Nova ha grandes bancos de
birbigão, lingueirão de canudo, alguma ameijoa e
outros mariscos. A ostra, que houve já em quantidade, desapareceu. A
pesca do birbigão faz-se com rêde e encinho, nas aguas profundas, ou
á mão, nos bancos de areia, que a maré deixa a descoberto na vasante.
A apanha do lingueirão de canudo é muito divertida. O molusco está
numa toca na areia e faz-se vir á superficie lançando-lhe sal no
orificio. E' preciso uma grande agilidade para o apanhar quando ele
chega ao de cima pois, senão, escapa-se imediatamente, enterrando-se
novamente no solo a grande profundidade. O mexilhão cria-se
nas pedras do paredão, perto da ponte das portas de agua.
O Farol
A praia chamada do Farol é muito
frequentada na epoca balnear e uma das melhores de Portugal em
condições higienicas. E’ um verdadeiro sanatorio, principalmente
para as creanças que lá colhem optimos resultados.
As casas são muito limpas e quasi todas
completamente mobiladas. As rendas variam entre 7 a 30:000 reis por
mez. Não há população piscatoria. E’ uma praia onde todas as
familias se conhecem e que se encontra em excelentes condições para
ser explorada como estancia de luxo. Pensa-se em a dotar com alguns
melhoramentos. Hoje tem apenas uma casa de assembleia e tenis. O
Farol que se pode visitar todos os dias, com licença do faroleiro
chefe, com excepção dos dias de festa local, é um dos melhores da
nossa costa, iluminado a petroleo com lanterna de grande alcance
composta de lentes com rotação por aparelho de relojoaria. O seu
movimento produz uma serie de clarões e eclipses de luz branca,
sendo um eclipse maior que os outros. A torre tem 60 metros de
altura e uma escadaria em caracol de perto de 300 degraus. Está
solidamente construida.
Nos dias de tempestade, a parte superior
da torre afasta-se da vertical perto de 50 centimetros segundo dizem
os intendidos. Junto do Farol fica o sinal sonoro ou sirene,
vulgarmente conhecido pela Ronca da Barra, para os dias de
nevoeiro. O som, que se ouve a mais de 15 kilometros, em terra, é
produzido pela acção do ar, comprimido fortemente pelo vapor, numa
enorme palheta de aço. A vista da varanda superior é uma maravilha,
estendendo-se até ao Bussaco, Cabo Mondego e Leixões. O mar, a ria,
a Gafanha, Aveiro e arredores e toda a planice, até á serra do cabo
Mondego, tem um aspecto estraordinariamente belo e imponente.
Veem-se as praias da Costa Nova,
Vagueira e Mira, ao sul; S. Jacinto, Torreira, Furadouro, Esmoriz
etc., ao norte. Avista-se Ilhavo, Estarreja, Feira e Oliveira de
Azemeis.
Do Farol á Costa Nova está-se
construindo uma estrada pelo meio do areal que deve trazer a esta
praia um grande movimento. Na praia do Farol tem logar o famoso
banho santo na noite de S. João a que concorre muita gente das
aldeias afastadas de Aveiro. Na epoca balnear ha diligencia. Cada
pessoa 100 reis, de Aveiro.
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A Costa Nova do Prado
é a praia de Aveiro e Ilhavo. A sua
disposição sobre uma lomba de areia, á beira da ria é unica em
Portugal. A ria, em frente á praia, é baixa e não tem perigos nem
mesmo com ventos fortes. Isso faz com que seja o divertimento
predilecto de quantos procuram a Costa Nova nos mezes de agosto,
setembro e outubro. Ha inumeros barcos de todos os tamanhos e
feitios em que toda a gente barqueia. A’ noute, em dias calmos,
fazem-se serenatas e iluminações.
O reflexo da lua na agua, em noites
serenas, é delicioso. As casas são quasi todas de madeira, havendo
algumas construções novas. A população piscatoria é grande. Na praia
ha quatro companhas de pesca. As rendas das casas regulam entre 5 a
20:000 reis mensais. Todos os anos, em setembro, se realisam na
Costa Nova festas desportivas, regatas, iluminações etc.
No ultimo domingo de setembro ha uma
festa muito concorrida por gente de Aveiro, Ilhavo, Vagos e
arredores. No mez de outubro a Costa Nova enche-se com o povo da
Bairrada que para ali vem a banhos.
Entre a Costa Nova e a Gafanha (da
Encarnação) ha os barcos da carrera, até ás 9 horas da noute, a 10
reis cada pessoa. Da Gafanha a
Ilhavo
boa estrada passando pela mata do Estado, Carreira de Tiro militar e
areais, onde pastam manadas de gado bravo. Com essa estrada entronca
uma outra que atravessa a Gafanha e se liga á de Aveiro á Barra.
Essa estrada tem excelentes vistas sobre llhavo, Aveiro e salinas da
ria.
Passando por Ilhavo, pode visitar-se a
Fabrica de Porcelana da Vista Alegre que fica perto, junto da qual
ha uma capela com esculturas preciosissimas, o largo da feira dos
13, teatro etc., e a Ponte da Agua Fria (ponte de Vagos)
sitios muito apraziveis. (Ilhavo, Vista Alegre e Vagos, ver
descrições).
De llhavo a Aveiro ha estrada boa. com
algumas pequenas ladeiras, mas com vistas lindas. Passa-se a
Verdemilho, localidade onde viveu Joaquim José de Queiroz, de
Eça de Queiroz, ministro do reino com Saldanha, e onde se efectuaram
importantes reuniões dos liberais de Aveiro, quando das lutas entre
o absolutismo miguelista. Romaria importante da Senhora das Dôres no
2.º domingo de setembro e Quinta da Boa-Vista.
Toda a região é muito fertil, rica e
populosa.
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