Página inicial
<<<

>>>

 

Textos de Apoio

  Aquilino Ribeiro

  Santuário da Lapa

  Acerca de Trancoso

  Programa da visita

Escola Secundária José Estêvão - Aveiro <> Biblioteca Escolar <> Área Disciplinar de Português <> Visita de Estudo "Terras do Demo" - 12 de Junho de 2010

 

Aquilino Ribeiro

(1885-1963)

 

Clicar para ampliar.

“Eu sou um artista rude, filho da minha terra. Nasce-se com berço às costas como uma geba.

A Beira Alta não tem símile no Mundo. Em poucas dezenas de quilómetros reproduz-se a terra toda: amenidade e braveza, a colina e o vale, a civilização e a selvajaria”

Aquilino Ribeiro, 1952

 

Biografia: “Mais não pude”

Aquilino Ribeiro nasce a 13 de Setembro de 1885 em Carregal de Tabosa, concelho de Sernancelhe. Aos dez anos, vai residir com os pais para Soutosa, onde faz a instrução primária. Transita depois para a Lapa, Lamego e Viseu, onde chega a frequentar o seminário, abandonando-o por falta de vocação. Em 1906 muda-se para Lisboa e, em pleno período de agitação republicana, começa a escrever os primeiros artigos em jornais.
 

Clicar para ampliar.

 Em 1907, devido à explosão de uma bomba no seu quarto, é preso por suspeita de republicano. Mas consegue evadir-se e, entre 1908 e 1914, divide a sua residência entre Paris e Berlim. Em 1914, com a eclosão da I Grande Guerra, volta a Portugal. Em 1918 publica o primeiro romance, "A Vida Sinuosa", que dedica à memória do seu pai, Joaquim Francisco Ribeiro. A convite de Raul Proença, entra em 1919 para a Biblioteca Nacional. A partir desse ano, escreve incessantemente: "Terras do Demo" (1919), "O Romance da Raposa" (1924), "Andam Faunos Pelos Bosques" (1926), "A Batalha Sem Fim" (1931) e muitos outros títulos. Envolvido em revoltas contra a ditadura militar, no Porto e em Viseu, exila-se por duas vezes em Paris (1927 e 1928) , onde casa pela segunda vez (a primeira mulher falecera). A partir de 1935 o seu labor literário torna-se mais fecundo: "Volfrâmio" (1944), "O Arcanjo Negro" (1947), "O Malhadinhas" (1949), "A Casa Grande de Romarigães" (1957), "Quando os Lobos Uivam" (1958), este último apreendido pela censura e pretexto para um processo em tribunal. Entretanto, viaja: Brasil, Londres, Paris.

Em 1963, durante as comemorações do 50° aniversário do seu primeiro livro –promovidas pela Sociedade Portuguesa de Escritores, então presidida por Ferreira de Castro – adoece inesperadamente.

Morre a 7 de Maio de 1963, no Hospital da CUF, com 78 anos.

Maria Josefa Campos, a mulher de Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro, primeiro filho de Aquilino Ribeiro, morreu em Fevereiro sem apreciar a republicação de “Quando os Lobos Uivam” pelo Círculo de Leitores, o romance que preferia entre as 70 obras publicadas pelo sogro. E deixou um vazio na Fundação Aquilino Ribeiro, sedeada em Soutosa (Moimenta da Beira), que as câmaras das terras do Demo querem agora reconstruir. Com o empenho e o apoio do outro filho do autor de “A Casa de Romarigães” – Aquilino Ribeiro Machado, filho do segundo casamento do escritor (com a filha de Bernardino Machado).

Clicar para ampliar.

A Fundação está sem presidente do conselho de administração, enquanto a casa onde o escritor viveu, e que guarda vários manuscritos, o que resta de uma biblioteca de cerca de oito mil títulos e outras memórias do autor, se vai degradando. As autarquias daquela região querem assumir a presidência. "A Fundação ficou sem presidente, porque os estatutos nunca previram a sucessão", explica o presidente da Câmara de Moimenta da Beira, em cujo concelho Aquilino viveu. "Os estatutos têm um carácter fechado; e sem a anuência do Conselho de Fundadores não podem ser alterados", adianta José Eduardo. Certo é que, "após a morte da presidente, houve alguns telefonemas, institucionais, a mostrar alguma preocupação, porque a casa e a fundação ficaram sem ninguém a residir e solicitámos o reforço de patrulhamento à GNR para acautelar a preservação da memória do escritor", reconhece José Morgado, presidente da Câmara de Vila Nova de Paiva, onde o escritor foi baptizado. Também José Eduardo reconhece que "são precisos trabalhos de manutenção, de arejamento e de conservação dos edifícios da fundação devido à falta de uso". No interior dos edifícios da fundação "está toda a memória do escritor e na biblioteca estão guardados muitos dos manuscritos e outros livros, já que o essencial foi transferido para a Biblioteca Nacional", revela o edil de Moimenta da Beira.

José Morgado assume a "importância do 'mestre', que pode constituir uma mais-valia destas terras, cunhadas do Demo pelo escritor, mas para isso é preciso que a fundação desempenhe bem o seu papel social". O conselho de curadores reuniu-se com os autarcas, incluindo o de Sernancelhe, concelho onde o escritor nasceu a 13 de Setembro de 1885, para "decidir a alteração dos estatutos para que os três autarcas possam ocupar a presidência da fundação, de forma rotativa", diz José Eduardo. Com o fim dos direitos de autor "à vista, a intervenção das câmaras pode alavancar todo este património em torno de um projecto de turismo cultural que promova a obra e a vida de Aquilino", conclui o autarca. 

O Conselho de Fundadores reúne-se este mês para analisar a alteração dos estatutos.

DN, 16-04-10 , por  Amadeu Araújo / António Pedro Pereira

Clicar para ampliar.

Tabosa do Carregal

No ano de 1692, segundo uma doação de D. Maria Pereira, senhora de origens fidalgas e de largas posses, foi fundado na sua Quinta da Luz, sita no lugar de Tabosa, concelho de Caria, e pertencente à jurisdição da Diocese de Lamego, um mosteiro para freiras Bernardas Recolectas, com capacidade para 25 religiosas e dotado de elevados bens e rendas para o seu sustento e continuidade.

À sombra deste convento se foi constituindo a povoação da Tabosa, hoje com bastantes habitações, que oscilam entre o tipo de construção tradicional e o ditado pela modernidade.

Clicar para ampliar.

Carregal

Clicar para ampliar.

O nascimento de Aquilino foi registado em 7 de Novembro de 1885 na Igreja de Alhais, concelho de Vila Nova de Paiva – ao tempo, concelho de Fráguas –, data em que o baptismo foi oficializado pelo cura Luís Machado de Morais.

Contudo, “nasceu na freguesia do Carregal, concelho de Sernancelhe, diocese de Lamego, à uma hora da tarde do dia treze do mês de Setembro do mesmo ano, filho natural e primeiro de Mariana do Rosário, solteira, criada de servir…" É o que consta do registo de nascimento.

Nasceram também no Carregal os seus dois irmãos: o Melchior o Quinzinho do livro Cinco Reis de Gente em 10 de Setembro de 1888 e a Maria do Rosário em 2 de Outubro de 1889. A menina terá falecido cedo, mas o Melchior acabou seus dias em Soutosa em 30 de Junho de 1967. Era proprietário e exercia também o ofício de serralheiro.

Clicar para ampliar.     Clicar para ampliar.


     TEXTOS Aquilinianos (excertos)

“Luís Maneto”

«O Luís Maneto, com vinte e quatro anos no pêlo e boa sorte no amanhã, ia amiúde pelo serão da Gaudência para rentar às moças. De princípio andou muito embeiçado por Glorinhas e, quando a rapariga, pelas mostras, começava a dar trela, largou-a de salto. Já não era o primeiro que fairava às fraldas da criatura, e como o cuco despedia sem dizer: aqui me vou! Nanja que ela não tivesse uma legítima arredondada e não fosse mulher curiosa, asseada, toda videira, sabendo coser à máquina e cobrando boa pina das roupas que amanhava. Mas fora o brinquinho do Sr. Inácio Mioma – homem de prol e agrónomo, ainda longe dos trinta, de seu nome completo Inácio Relvas Maturranga, da casa de Mioma, no termo de Ferreira d’Aves – e isto de fidalgos não despedem sem satisfazer a cobiça com o rabusanos.  À boca grande se dizia que o Sr. Inácio gozara dela forte e feio; verdade ou mentira, não se livrava da fama, e por aí se ia escoando a maré do casamento.

O Luís foi pela vereda dos mais e, mal te precatas, virou-se para a prima Florinda. Tinha aquela pecha da mão ratada, mas a legítima que lhe coubesse era mesmo para obscurecer achaque de maior vulto. Além disso, apreciavam-no por bem-falante e pimpão, que algum proveito lhe houvera de servir a escola do cadelas e correr as sete partidas do mundo, da precisão tirando arte. E o derriço pegou deveras.

Florinda gozava fama de cachopa limpa, em que ninguém punha tacha, e, bem governada, a sua sorte não era argalho que se não visse. Breve se falou no povo na gorra que os dois iam levando, e as moças, quando ele lhes adiantava a mão para o amoujo ou queria arriscar uma esfregadela de barba, formalmente ariscas, destemperavam:

Larga , cadelo!...larga…Não tens a Florinda?!

No serão, o Luís Maneto alapardava-se-lhe no regaço e assim curtia horas em êxtase amorudo ou roncando de sono, quando não largava de papo mariola uma  léria à  characina. Aos sábados, não a deixava dançar – que fora arte que não aprendeu com os padres – e sentia zelo vendo-a na fragalhotice com os mais. Bem suspirava ela, que tinha o pé alceiro, mas compunha-se e, aninhados a um canto, muito engalriçados, apreciavam, ou entretinham-se em fosquinhas de bem-querer (…)»

Aquilino Ribeiro, “Terras do Demo” , págs. 70-71.


«Danado aquele Malhadinhas de Barrelas, homem sobre o meanho, reles de figura, voz tão untuosa e tal ar de sisudez que nem o próprio Demo o julgaria capaz de, por um nonada, crivar à naifa o abdómen dum cristão. Desciam-lhe umas farripas ralas, em guisa de suíças, à borda das orelhas pequeninas e carnudas como caca de noz; trajava jaleca curta de montanhaque, sapatos de tromba erguida; faixa preta de seis voltas a aparar as volutas dobradas da corrente de muita prata – e, Aveiro vai, Aveiro vem, no ofício de almocreve, os olhos sempre frios mas sem malícia, apenas as mandíbulas de dogue a atraiçoar o bom-serás, as suas façanhas deixaram eco por toda aquela corda de povos que anos e anos recorreu. Na velhice, o negócio tilintado através de gerações, as andanças de recoveiro, o ver e aturar mundo, tinham-no provido de lábia muito pitoresca, levemente impregnada de um egoísmo pândego e glorioso. Nas tardes de feira, sentado da banda de fora do Guilhermino, ou num dos poiais de pedra, donde já tivessem erguido as belfurinhas, alegre do verdeal, desbocava-se a desfiar a sua crónica perante escrivães da vila e manatas, e eu tinha a impressão de ouvir a gesta bárbara e forte de um Portugal que morreu.»

Preâmbulo a “O Malhadinhas” de Aquilino Ribeiro


“Aquilino é uma nação idiomática” Baptista Bastos

DESAFIO: vamos escolher o sinónimo certo?

Piteiro: bêbado – fiteiro – pilriteiro

Volantim: muleta – andarilho – carro de mão

Mariposos: borboletas – mimados – amantes

Podriqueira: preguiçosa – podridão –indomável

Titilações: rodopios – palpitações – cantilenas

Maranhão: esperteza – ratoeira – mentira

Alvoriçado: magoado – assustado – quebrado

Cadeta: filha segunda – filha predilecta – filha primogénita

Borraceiro: chuva miúda – chuvada – temporal

Avondado: obeso – inchado – rico

Bilhestres: berlindes – bilhares – dinheiro

Belfas: costelas – bochechas – tripas

Cuvilheira: carpideira – alcoviteira – parteira

De nação: governável – nacionalista – autêntico

Desmonte: encosta – colheita – destruição

Engalho: solteiro – pendura – engano

Estreme: antiquado – fino – puro

Exaustinado: cansado – ponderado – destrambelhado

Fúcias: facécias – face – fidalguice

Golondrina: andorinha – pomba – cotovia

Irreferente: arrogante – febril – indiferente

Nanja: agora – sempre – nunca

Paivante – rapé – cigarro – cachimbo

Palúrdio: briguento – emproado – palerma

Pingueiro: a cair de bêbedo – a arder em febre – coberto de suor

Pucelagem: velhice – infância – adolescência

Regadinha: bem regada – satisfeita – lameira

Regalão: folgazão – desleixado – guloso

Sereno: madrugada – calor do dia – ar da noite

Sustância: energia – mioleira – equilíbrio

Tarraço: aspecto – baixo – terraço

Zarelho: impertinente – travesso – azarado

Tisneira: eira – torreira do sol – água da torneira

Serralharia: prostituição – má-língua – marcenaria

Ó cetrás: saudação matinal – expressão de espanto – empurrão para trás

Avezar: ter – dar a vez – pesar

Baldoar: agradecer – elogiar – insultar

Larota: ladroagem – fome – jogo

Grazina: congelado – constipado – resmungão

Gravanço: grão-de-bico – feijão-frade – cogumelo

Lúzios: pirilampos – olhos – lanternas

Sarambeque e Zanguizarra: – festa barulhenta – funeral – banho quente

    

 

Página anterior  Página inicial  Página seguinte