I
Viva o 25 de
Abril.
Viva
Liberdade.
Viva o Zeca
que nos fêz acordar de uma longa noite de trevas.
Viva a voz
audaz de um povo, até então, calado e adormecido.
Viva a
consciência dessa voz que nos iluminou o futuro.
O futuro?
Que futuro?
O da
politica demagógica?
O da falsa
democracia?
Viva o
futuro que já não se silencia.
Viva o
futuro da expressão de todas as cores: rosa, laranja, vermelho, verde,
amarelo…
Viva o eco
de pensamentos outros,
Do diálogo
ou da conversa fiada,
Da trama das
ideologias e da teoria da inexistência das ideologias.
Viva o amor
e a paz, sempre adiadas,
Mesmo depois
do fim da guerra colonial,
Dos homens
mutilados,
Dos corações
de mulheres despedaçados;
Das almas
das crianças órfãs,
Que assim
nas ceram à luz da promessa de uma nova idade.
Viva o 25 de
Abril!
Viva a
Liberdade!
II
Vinte e
cinco anos passados.
Restam-nos
as memórias dos horrores da Guerra,
De uma
sociedade que, em nome dos cravos vermelhos,
Um dia ousou
gritar: Liberdade.
Liberdade:
Essa palavra
de ordem que fez cair um Regime eternamente enraizado,
Que
arrancou, com todas as armas, a tirania dos pretensos opressores.
Liberdade:
O sinal do
dizer aberto,
Há muito
ocultado, pelo véu da falsa ordem,
Há muito
camuflado, sobre a tríade,
Deus, Pátria
e Família;
O sinal do
dizer aberto,
Há muito
velado, nos meandros da paupérrima cultura de um povo,
Que convinha
manter ignorante, analfabeto …
Em nome da
ausência do espírito crítico,
Da mente
desperta e do pensar astuto.
Vinte e
cinco anos passados.
E aqui
estamos nós, quiçá em uníssono,
A comemorar,
Com milhares
de cravos vermelhos,
O grande
acontecimento da Liberdade.
III
Volvidos 25
anos.
Já não somos
os mesmos.
Avistamo-nos
com um outro rosto;
O rosto da
política da integração europeia;
Da
integração comunitária,
Da moeda
única,
Da adaptação
ideológica.
O rosto,
quiçá, da desintegração cultural é apátrida.
O rosto,
cuja voz, já não sabe cantar o hino nacional.
O rosto,
cujos traços e as cores,
Já não são,
talvez,
Os da nossa
bandeira.
Volvidos
vinte e cinco anos.
Já não somos
os mesmos.
E o que
somos, então?
Um povo
errante,
Ainda e
sempre no resto da cauda do mundo,
Que outrora
conquistámos,
No preciso
momento em que o perdemos.
Erguemos o
Convento de Mafra,
Com o ouro
vindo do Brasil;
Edificámos a
Torre de Belém
E o
Monumento das Descobertas,
À custa de
longas e saudosas lágrimas,
Dos que
sempre partiram
E dos que
sempre ficaram.
Qual Velho
do Restelo se ousa, ainda, erguer?
Qual
Adamastor, povoa, ainda, os nossos mares?
Quais ondas
alterosas se erguem, ainda, desse imenso mar?
Isabel Rosete
24-04-1999 |