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Domingos Alves da Costa


Aveiro


Recordando jogos tradicionais

JOGO DO PIÃO

 

 

Quando havia bom tempo, jogávamos ao pião.

 

Depois de o lançar, quem o fizesse girar durante mais tempo tinha direito a dar umas quantas ‘bicadas” com a ponta de ferro do mesmo nos piões dos colegas que perdiam. Mas para não estragar os piões que se lançavam, cada interveniente no jogo levava sempre um pião suplente, já um pouco estragado.

 

Os piões também serviam para os apanharmos, enquanto giravam (e quanto mais girassem, melhor). Colocávamo-los a girar e, depois, apanhávamo-los na palma da mão, usando, para o efeito, os dedos indicador e médio. Também o apanhávamos do chão, a girar, entre os dedos polegar e indicador e, sempre a girar, no lado direito da unha do polegar.

 

Era um regalo!

 


 

JOGO DO BOTÃO

 

Por vezes, de manhã, ainda na cama, — após uns sonhos risonhos, próprios de crianças —, acordava ao som de umas pequenas e suaves pancadas na “minha porta” da rua. Era sinal de que os meus amigos das brincadeiras se encontravam já a praticar o jogo do botão. Eu acordava imediatamente o meu irmão Chico e lá íamos também os dois para a... «jogatina»!

 

Este jogo consistia no seguinte: era feito ou jogado por dois colegas. Eram necessários dois botões de ceroulas. Alternadamente, cada jogador tinha de bater o seu botão de encontro a uma porta. Se o Joaquim, por exemplo, lançasse o botão e ele ficasse no chão a menos de um palmo do outro, o adversário tinha de lhe entregar um outro botão como recompensa. E o jogo prolongava-se por largos minutos até estarmos cansados ou saturados do mesmo jogo, ora ganhando, ora perdendo um botão.

 

Escusado será dizer que cada um tinha por vezes um saquito cheio de botões. E de onde vinham estes botões? «Esmifrávamos» dos que havia na casa de cada um de nós, ou, simplesmente, arrancávamo-los das camisas, das calças, das cuecas e dos vestidos dos familiares! Em compensação, quando uma mãe ou uma irmã necessitasse de determinados modelos de botão, tinha autorização para ir “ver” no saquito. É que neste alforge havia botões de todas as espécies e feitios! Até de sobretudos e de gabardinas!

 

Se fosse hoje, eu abria uma loja dos trezentos!

 

Aveiro, 11 de Outubro de 2004 

Domingos Alves da Costa.

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