Momentos difíceis na vida de um
professor…
Certo dia
na “Latina” em Aveiro, em 28/09/1992
São 19 horas e 20 minutos. Anoitece
rapidamente e estou na “Latina”. Tomei o chá da praxe e sou
rodeada e observada por dois jovens mirones. É divertido. Dei
por isso e sinto-me num palco. Há um “bigodes” louro que veio
tomar um “fino” e me olha com certa provocação... Podia ser meu
filho – penso. Talvez. No fundo, até talvez nem pense. Ainda há
tanta inocência dentro de mim… Só eu me conheço. E estou-me
”lixando” para os tipos. Estou aqui para fugir das quatro
paredes decoradas de livros em que habitualmente me encontro só.
Procuro o silêncio interior no meio da gente. E concentração
para levar a cabo uma tarefa aborrecida.
Sinto-me vítima dum trabalho insano.
Pesa-me mais que o rochedo que Sísifo carreava por castigo dos
deuses vingativos, montanha acima…
Vejo o trabalho de duas “aplicadas” alunas
que gostam de ler o jornal “O Crime”. O maior crime é o de
mostrar não saberem pontuar e, desde o início, terem escrito
“aparece-nos” tudo pegado: “aparecenos”, assim mesmo, que
repetem dúzias de vezes. E são alunas do 10º ano. Falo só neste
aspecto negativo, pois seria fastidioso enumerar ou nomear
outros. Já nem me quero lembrar do ”puriço”…
A empregada ronda. Estou a sentir-me
cansada. “Chega de tanto sofrer!...”, – parafraseando o poeta
João de Deus que, nos seus tempos de estudante coimbrão, conta
que roubou as setas cravadas no peito da imagem de São
Sebastião, aos Arcos do Jardim, e deixou o recado escrito em
parangonas para que se soubesse que fora por uma boa causa.
Está a escurecer cada vez mais breve: as
luzes da cidade iluminam-se e vou tentar “fazer luz” para outro
sítio...
M.ª Helena
– (12-01-2006
pelas
11:46:29) |