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                  Num rio de ouro, feito de asfalto
                  negro,
                    
                   
                  
                  Onde folhas avermelhadas de Outono
                  voam ao vento,
                    
                   
                  
                  Com um sopro de vida,
                    
                   
                                                        
                  com um sopro de morte, 
                  
                  Com pressa de se dissolverem em poças
                  de água fria,
                    
                   
                  
                  De deixarem o destino dar a última
                  palavra...
                    
                   
                  
                  Num rio de ouro, feito de asfalto
                  sujo,
                    
                   
                  
                  Onde as luzes de néon encarnado
                  inflamam os sentidos,
                    
                   
                  
                  Avivam o desejo,
                    
                   
                                              
                  atiçam a carne... 
                  
                  Onde se chama pelo nome da
                  loucura,
                    
                   
                  
                  E se acende no escuro a chama
                  rubra do pecado...
                    
                   
                  
                  Num rio de ouro, feito de asfalto
                  mordaz,
                    
                   
                  
                  Abraçada pela cidade já
                  escurecida pela noite,
                    
                   
                  
                  Encostada a um poste de ferro e
                  cimento,
                    
                   
                                                                                     
                  de prata e diamante, 
                  
                  Com uma aura de luz vermelha em
                  sua volta,
                    
                   
                  
                  Como um facho marcescente pronto a
                  se extinguir...
                    
                   
                  
                  Num rio de ouro, feito de asfalto
                  podre,
                    
                   
                  
                  Esquecida pela cidade já perdida
                  pela morte,
                    
                   
                  
                  Chamando alguém com as suas
                  parcas roupas,
                    
                   
                                                                                             
                  com o seu vestido de princesa... 
                  
                  Escondida de todos,
                    
                   
                  
                  Embora todos a vejam...
                    
                   
                  
                  Num rio de ouro, feito de asfalto
                  vermelho,
                    
                   
                  
                  Como uma forasteira na sua própria
                  cidade.
                    
                   
                  
                  Pode chover lágrimas de sangue,
                    
                   
                                                                       
                  lágrimas de sangue abençoado... 
                  
                  Que ela estará lá,
                    
                   
                  
                  No seu parque encantado,
                    
                   
                  
                  Com o seu vestido de realeza,
                    
                   
                  
                  Com um sorriso da mais pura
                  alegria,
                    
                   
                                                                               
                  da mais pura inocência, 
                  
                  À espera do seu príncipe
                  prometido,
                    
                   
                  
                  Para apanhar do chão as folhas
                  avermelhadas de Outono,
                    
                   
                  
                  Feitas cinzas de pecado...
                    
                  
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