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                    I
                    
                     
                    
                    Os anjos perderam as asas 
                    A voz perdeu o murmúrio dos trovões 
                    Perdeu tudo o mistério 
                    Sentido do medo partiu-se em milhões 
                    De ventos loiros de pele azul 
                    De ondas castanhas de mel e de lama 
                    De corpo só restou o silêncio 
                    Desse olhar que grita 
                    Que chama 
                    Que sofre 
                    Que espera 
                    E os anjos perderam as asas 
                    Sós na noite dormiram sem poderem 
                    regressar 
                    Porque o sonho nunca existiu 
                    E o céu é só de quem o pode comprar 
                    Chamam as conchas o mar que não vem 
                    Morrem as flores nos seios da mãe 
                    Partem-se as montanhas 
                    Sufocam-se os rios 
                    E tu, que perdeste asas, dormes em becos 
                    vazios 
                    Mais tremerá a terra 
                    Que dos anjos era amante 
                    Muito mais morrerá a morte 
                    Levando a vida no beijo restante 
                    E a luz 
                    E a lua 
                    E a lentidão do teu gesto macio 
                    Descansa em meu peito, jazigo frio 
                    Onde não entra raiva, nem sol, nem amor 
                    Onde não resta corpo, nem ossos, nem chorar 
                    Onde não cabe nada, só as asas que te 
                    souberam  cortar. 
                    
                    
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