Liliana Jorge da Silva Loureiro (Esc. Sec. Homem Cristo) - ESPELHOS

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III

Os meus olhos estão a brilhar de novo. Caem-me agora as lágrimas que pensava que já nunca mais poderiam cair por ti. Já se passaram tantos anos que só mesmo um feitiço me pode ter prendido tanto, de forma a que eu nunca mais te tenha esquecido. Tantos momentos felizes vieram limpar a dor do meu coração, que não compreendo porque é que a tua lembrança prevalece.

Porque te adoro. Porque eras o meu anjo. Porque te vi a matares a tua alma. E porque não pude fazer nada para te salvar.

Só soube do que te tinha acontecido quase um mês depois. Foi quando regressei a casa, depois de passar as férias grandes em casa dos meus avós, no campo. Os meus pais souberam de ti após a minha conversa com a tua mãe e acharam melhor que eu me afastasse.

Acredita que, quando voltei a entrar no meu quarto, estava sinceramente à espera de te ver entrar para me dares as boas-vindas, completamente recuperada, como a mesma Guida de outrora. E sorria, o que já não fazia há muito tempo, quando os meus pais espreitaram à porta.

– A Guida não me vem dar as boas-vindas? – perguntei-lhes entusiasticamente. – Ou deverei dar um salto a casa dela?

Os meus pais olharam um para o outro e a minha mãe saiu. O meu pai, o meu querido pai, sentou-se ao meu lado na cama.

– Lena, a tua amiga Margarida não conseguiu... – e ouvi o meu pai a gaguejar. – Ela não resistiu e... Acredita que... agora... ela está feliz.

Percebi então que nunca mais iria ver a minha Guida. Que essa Guida desaparecera no dia em que me dissera que eu era a sua melhor amiga.

Porque é que me fizeste isso?

 

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Fui visitar a tua mãe alguns dias depois, mas ela não me quis ver. O teu pai pediu-me que não levasse a mal, que, ver-me, fá-la-ia lembrar-se mais de ti, pois nós éramos tão unidas... De certa maneira até foi um alívio: acho que não saberia como agir depois de ter sido eu a contar-lhe tudo.

E tu, como é que te sentes? Estás satisfeita por teres destruído tudo à tua volta? Se não tinhas força por ti podias ter pensado na tua mãe. Podias ter pensado em mim. Pensavas que te estavas a enterrar sozinha? Enterraste a minha adolescência contigo. Enterraste a alegria dos teus pais contigo. Queres mais? Ou chega-te como remorso?

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