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Cena 4

 

Deméter  — (Só e desesperada) Irmão desgraçado que me desgraçaste e à Core!... A pobre infeliz, cheia de sede, engoliu três bagos de romã e o ladrão roubou-me agora segundo a lei do Inferno, a minha filha tão amada! Mas vingar-me-ei: não crescerá nada nos campos. Nem uma erva daninha brotará! Nunca mais haverá colheitas, mas só frio e fome. Nem bichos, nem homens procriarão e os deuses, meus pares, não receberão oferendas. A terra será dura como o coração sombrio e empedernido de meu irmão Hades.(Comovida.) Querida e pobre filha!... Como a imagino chorando entre as sombras do inferno depois de Zeus ter decidido entregá-la a Hades para ser sua esposa. Como ela era feliz nos vales verdejantes das nossas montanhas sicilianas, e eu com ela, gozando da sua abençoada companhia. Triste dela e de mim, separadas para sempre e desesperadas... Ela é tão doce e tão linda que até Cérbero, o cão de três cabeças que guarda o inferno, se deixava afagar por ela. Quando Hermes lá foi buscá-la, por ordem de Zeus, para julgar o caso no Olimpo, ele lambeu-lhe as mãos com as suas três línguas... (De novo revoltada.) Como não hei-de desesperar-me com a saudade da minha tão querida filha?!...Hades, meu irmão foi um canalha. E Zeus ainda há-de arrepender-se da decisão tomada ao enviar Core de novo para o inferno. Não me conformo! Ó terra, cobre-te de neve! Ó neve, abafa a vida sob o teu manto gelado! Esta será a vingança de Deméter: não haverá colheitas, porque as sementes não germinarão. Não haverá frutos, porque a terra será para sempre estéril como o meu coração dolorido de mãe. As crias não nascerão, porque a miséria e a fome serão, de agora em diante, a realidade do mundo superior. Zeus, deus do sol e da inteligência, não terá poder para derreter a neve e crestará a terra transformando-a em desertos. Oh! Que não vejo consolo para esta minha aflição! E quem for mãe, se sofrer o que eu sofro, que me condene!...

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