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        Os ex-padeiros militares, Joaquim Augusto 
        Santos, da Companhia de Artilharia 2643, e Mário 
        Ferreira da Silva, da C. Caç. 3387, num reencontro 38 anos depois no dia 
        30 de Maio de 2009 em Aveiro.  | 
        
         
        Quando chegou ao Quixico, em Julho de 
        1971, o cacience Mário Ferreira estava muito preocupado com o papel que 
        ia passar a desempenhar, uma vez que tinha que ocupar o seu posto de 
        trabalho como padeiro da Companhia. Por isso, foi ter com o furriel 
        responsável pela alimentação, para saber o que fazer. O furriel 
        aconselhou-o: 
        
        – O padeiro novo deve ir falar com o 
        padeiro dos velhos, para transmissão de funções. 
        
        Os velhos eram a tropa que ia ser 
        rendida. Os novos, chegados da metrópole e completamente inexperientes, 
        não passavam de maçaricos, no dizer dos velhinhos. Por isso, o amigo 
        Mário acatou o conselho e foi ter com o padeiro dos velhos.  | 
       
     
    
    – És tu que vens aprender a ser padeiro? – 
    perguntou o velhinho, muito espantado, ao verificar que era um cabo que o ia 
    substituir.  Mas tu és cabo! Normalmente é um corneteiro que faz de padeiro, 
    porque não vai para a mata. E os outros, que não ficam neste cargo, vão para 
    as messes dos oficias e sargentos. Amanhã, às 02 horas da madrugada, vais 
    comigo para a padaria, para aprenderes. 
    
    – Eu só vou para a padaria quando ela for 
    entregue à Companhia de Caçadores 3387. Até lá, a responsabilidade é tua. 
    
    – É minha, mas tens que aprender enquanto eu 
    cá estou. E digo-te que a tua malta está mesmo com sorte. A minha, nos 
    primeiros dias, nem sei como é que conseguiu comer o pão, porque quando aqui 
    cheguei não sabia nada disto. Não tive quem me ensinasse, como tu vais ter. 
    
    – Certamente ainda vais ser tu quem vai 
    aprender comigo, porque eu sou o primeiro cabo padeiro. É esta a minha 
    especialidade. Sou padeiro aqui, tal como já era e hei-de continuar a ser na 
    vida civil. 
    
    – Desculpa lá, achas-me também com cara de 
    maçarico? Estás a querer gozar-me. Já agora, como é que se faz aquele feitio 
    de pão?  
    
    – Amanhã, às 2 horas da manhã, 
    encontramo-nos na padaria, quando me passares o teu cargo. E logo verás como 
    é que se faz. 
    
    Infelizmente, ou felizmente, o velhinho não 
    apareceu para transmissão do cargo e receber a lição de um maçarico. Mas foi 
    compreensível. Na madrugada do dia seguinte, estava o pessoal rendido de 
    partida para o Tomboco, onde fizeram o resto da comissão. Não apareceu no 
    dia seguinte, mas 38 anos depois, altura em que os dois padeiros militares 
    se voltaram a reencontrar, ficando registados lado a lado numa fotografia.  |